segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Publiquei um livro pela Editora Labrador cujo os dados seguem abaixo.
Qualquer contato com a Editora poderá ser feito com a Rosangela pelo Tel. 11 3641 7446 - E-mail - adm@editoralabrador.com.br  






https://catavento.livreiros.com.br/produto/romance/ensaios-a-solidao/




segunda-feira, 3 de dezembro de 2018


APOTEOSE EM SUSTENIDO.
Os pássaros enaltecidos, mas derradeiros, vieram se fantasiar de saudades, entre uma réstia azul, um respaldo de crucifixo e o sofrimento sangrando. Era o penúltimo mês antes das procrastinações e das colheitas de sonhos de maio. Portando, as ansiedades ofereceram seus melhores anseios antes que o sol escolhesse as duas melhores sinfonias para o orvalho se deleitar. Eram elas robustas e preferidas para se decomporem em graciosas ansiedades lésbicas antes de se transformarem em devaneios. Delicado, pedi ao infinito, suportado pelo cair da nostalgia, para encantar-me com seus arpejos rebeldes, pois a monotonia do inconsciente iria, sem dúvida, censurar meus desejos. Não sei por que estes fatos só me invadem agora quando as memórias da realidade se embaralham com as tiras de alucinações e prazeres findos. Perguntei-me, sem resposta, se por ser o último dia do outono ou a esperança entrara na menopausa? O firmamento tem estas bipolaridades e os potros preferem se atiçarem entre os cerrados ganhando as serras abruptas às campinas enfeitando os horizontes. Assim tanto se deu, exatamente como o senhor preferiu, pois os poetas, de longe e sorumbáticos, recolheram suas melhores rimas entre as sete luas com que os deuses enfeitaram suas bacanais .
Preferimos, neste jogo insípido, restar em alfa para nossas opiniões não divergiram antes de maturarem. Apesar disto, ela, em sua beleza simples, vestia silêncio, pisava molenga sobre as ambições e prometia desfazer-se do complexo de Édipo ou comprar um vestido decotado. Portanto, solução tomada, acalmei-me às margens da solidão, demorei o quanto pude antes de oferecer um retrocesso ao motorneiro, sem preocupações, mas fumando cigarrilhas petulantes, até eu conseguir escutar as cores caladas brincando de cobra-cega com os gatos eufóricos, escaldados, mas com medo da hora da ave-maria. Mesmo assim o desdobrar suave dos sinos das preces choradas, dos retrocessos sofridos e dos inexplicáveis desvãos da sorte, nos obrigaram a retornar à insuportável realidade. Morte aos devaneios foram determinadas.  
A partir daquele momento os incestos se tornaram bem mais abertos, espontâneos, e as hipóteses mediúnicas ofereceram as únicas atrações para os astros se encontrarem em zodíaco. Entre os aconchegos de dois rés sustenidos e um sol bemol, o parteiro das contradições, esmiuçou o paradoxo, ordenou jogar-se imediatamente a criança fora com a água do banho e passou a amamentar a placenta. A sua tese prosperou dentro dos limites dodecafônicos. A impotência, afetuosa, assim gratificada, debruçou suas primeiras dúvidas solitárias sobre a ejaculação precoce e a penitência. A brisa correu atrás da solidão com o intuito de brincar de tempo e nostalgia, enquanto os sonhos preferiram as ingenuidades das virgens excitadas aos sorrisos dos camafeus impúberes.
O enfermeiro, carinhoso, trancou a porta da minha cela do hospício, perguntou-me se eu havia escovado os silêncios postiços antes de me acarinhar na demência satisfeita, pois as obrigatórias orações, em pé, prefeririam rezar-me de joelhos, antes que o galo azul fosse reconhecido como membro ecumênico da eternidade sonora.
Ceflorence 07/11/18               email    cflorence.amabrasil@uol.com.br 

terça-feira, 27 de novembro de 2018


EMBATIDOS E APANIGUADOS
Era um transversal soberano de arrependimentos, que nem São Pautiválio descarnava nas macegas. Admoestei Sarara, caboclo desprovido de arreceios e sobrossos, que envergava uma catadura des-apaziguada em sustenido, como se fosse frontão de belzebu. Não repinicou nem piou com a cara que ele mesmo possuía para descaber irreverências, antes de desajuntar dos contrafeitos a alma do cadáver. Se amoldou no gemido e se pôs a querer esmiuçar as contrafeitas, mas não deixei prosperar as circunstâncias para não abrir vasa de mau juízo e desfeita. Com estas manhas sanadas amelindrei pelas canhotas com sofregodura e impertinência, pois nem o Trofenço, com aquele pé de andar légua sobre pedra como se estivesse beiçando a sogra, não desmoreceu de empertigar o nariz para os desaforos. Beliscou a ponta da cartucheira, encarnou a destra do indicador na algaravanca do gatilho, mas apreferiu silêncio em vez dos cornos dos perigos. Se ponha se cabia ameaçamento ou desprovérbio entre os que saiam e os que pitavam fumo de rolo repinicado das desforras. Os mais afoitos, nos lampejos, não desvirtuaram, tanto que o sol foi encontrando seu silêncio para desmerecer o dia.
Umas éguas prenhas emparelharam para os lados da lagoa onde o marrequinho se desfez de sabido para amoitar nas taboas. Susteni no provisório, até que a jaratataca desmereceu os rastros que os cachorros alongavam. Surrupiei o destino por uns breves, sem respirar para não dessacramentar os fôlegos com o cheiro catingudo da bicha achando seus destinos e não amortecer ela morta nos dentes da cãozarrada desarrependida de preceitos. E me pus em supetão para um deus-me-livrasse naquela hora dos adjacentes, tanto que a brisa amenizou os trilhados e cachorrada enfeitiçou de seguir os despropósitos da jaratataca só até onde ela sumiu na capoeira fachada. Sina de caçador é esta mesma, não adianta entravar nos prognósticos, pois eles descornam nas desobediências e não estabelecem previsuras.         
Ajuntei os restados intermediários para preparar os retornos. A serra era braba, mas o povo de caçador ajagunçado era arrematado de insolente. Desmaldecemos serra abaixo, embicada nos precipitados, contornando a Pedra Grande da Periporá, por onde as aguadas da Cachoeira do Remão do Tucano desalojava tristeza, tanto que o pássaro preto se fazia em cantador. Admoestei o silêncio para o povo ouvir a magnitude. Se puseram de sobreaviso antes da brisa subir mascando os recantos mais remorsados, pois nem assim deu tempestivos de ver a paquinha miúda extravasar na rouquidão do vento querendo enganar a nostalgia. Creia, mas não porfie demasiado, que caçador não conta com o que vê, mas mais desempaca com o que inventa e verba. Apelejei o raciocínio enquanto desmembrava o provérbio, pois a noite prometia.
Foi um Serapião; danou-se o ireré inté. Ninguém entremeou de ir saindo calado enquanto os curiangos não trouxeram a escuridão puxada, enxabida, nos olhos brilhados, como só eles sabem. Me desmoleci de mandar recados e altivezes. Suspendi os provimentos até que a aurora viesse chamar o povaréu, devagarosa e morrinhenta, como tanto, nos igualados, à preguiça gosta de acomodar no cansaço, para eu continuar mentindo e inventando as sanhas de destramar os tempos e as paciências.
Ceflorence      13/11/18       email       cflorence.amabrasil@uol.com.br

quinta-feira, 1 de novembro de 2018


FOGÃO VELHO – CHAPA FRIA- CAFÉ REQUENTADO

                        Se fazia urgência, Jupitão testemunhou, atendeu recado, era prestimoso das horas, aprumou, pasmou esgrouvinhado ao levantar, estirou as pernas frias, doloridas, sem embalos desde a manhã, carcomidas nas melancolias na mesma cadeira. Desfez empertigado para as providências, Jupitão. Saldou para si, pois os mais não interessavam, salvo Seu Vazinho, repetiu, repetente – O cachorro latiu embaixo mesmo da escada do alpendre. Atendeu hora de o preá caçar água na bica da barrica cortada, como é correta sua hora de beber água na barrica cortada, como gosta o preá, onde a barrica fica. Assim, o senhor, Seu Vazinho, carece tomar café e pitar. Vou servir o senhor, Seu Vazinho. Moço, não se acanhe, tome café, coma carne de sol, beba mais uma cachaça, atente, tem fumo, tem tudo à vontade, desacanhe. Estendeu Jupitão a caneca de café meio frio ao Seu Vazinho, que condescendeu sem euforias, acendeu o cigarro de palha, pigarreou mesmices, articulou o verbo, pensou, disse, sem falar, esperando os apaziguados se darem.
                        Era a essência de Seu Vazinho desmilinguido em si mesmo à espera do nada e Jupitão calou para o resto dos palavreados até ir dormir sem outras prosas. Não estava assim para entretantos, o homem, pois cansou das ideias, não disse mais, tanto que enviesara por ser Jupitão do São Alepro do Jurucuí Açu, peão carregado de competências, amansador de cavalo, o melhor homem para acertar boca de animal, foi, não era mais, mas desmediu de querer viver, suspendeu a vontade de sorrir, assentou no silêncio, ficou. E tudo se deu, pois o cachorro latiu embaixo mesmo da escada do alpendre, quando viu a hora de o preá beber água, quieto, sem desmentir medo do latido, o urubu se acomodou no cocho, lugar do carcará, que assentou mais longe no moirão da porteira, sem saber por que o vento não carregava mais as chuvas novas como as coisas deveriam ser. O sertão que tinha estas sobrevalências se alongou nas premissas e nada mudou, pois o sol ainda iria enjambrar devagar pelos seus rumos mais um estirão sem fim antes de acabar o dia. Seu Vazinho desmudou de novo, balbuciou miúdo a si mesmo para Cadinho escutar.
                        Carecia contar nos traquejos dos finais, no apezinhar das mágoas desforradas do cavalo assumindo toada viageira de tempo seco, calor bravo e pragas, sem tropico nas passadas, mas preguiçoso nos intentos e por prosa com o além, Cadinho deu por cordato, desmediu. Por rotina o sol castigava a cacunda derrubando para o oeste. Cavaleiro e a montaria foram atentando as vistas pelas beiradas das pastagens das cabeças poucas sobradas de gado não tendo mais onde emagrecer. As cacimbas prontas para sumirem de vez, desenfeitadas nos buracos quase vazios, tristes, enxugando. O caminhado emparelhava as mesmas sinas das cataduras do então dadivoso Rio Açu secando. Tanto era que a paisagem assemelhava propositada parelha de desgraça com cada vaca, bezerro ou novilho sendo acompanhado por um urubu sustentando do lado um mau-olhado de desgraça e praga. E assim por ter-se dado Seu, Vazinho pontuou as desgraças que se deram com a seca que castigou por muitos verões intermináveis.  
           
Ceflorence       24/10/18     email     cflorence.amabrasil@uol.com.br

quarta-feira, 24 de outubro de 2018


ENSAIOS TRISTES E DESTINOS REVERSOS.
            A memória, tristonha, revive minha pequena Juriaçu dos Tropeiros onde infelizmente o tempo cismou de esconder entre meandros d’almas os afetos e os desejos. Como era de hábito, em sendo sábado, os pássaros imbuíam-se dos melhores sonhos, tanto que me animava a recontar entre os intervalos das saudades, com as pontas dos dedos todos em várias vezes, quantos seriam os repiques cadenciados dos sinos apregoando a hora da Ave-Maria. Indiferente, a praça se abastecia de silêncio deixando a melancolia sombrear carinho sobre o casario disperso. Cada um portava a sua solidão com travo nos olhos, angústia na alma, esperança no futuro. Se faziam em gentes como as gentes são a se fazerem em vontades, enquanto a brisa desobediente vertia irrequieta pelas folhagens dos jardins brincando de rodamoinhos. As pombas traziam seus arrulhos sincopados e metódicos, implorando uma réstia de pão, uma migalha de atenção, um sorriso de alento. Pombas despretensiosas, mas carentes.
Tanto assim se dava como rememoro, que a esperança brincava pelas ruas tortuosas ganhando os valos e as serras querendo visitar o infinito. Era uma alegria deixar a vista seguir os volteios a se perderem levando pelas ruelas quebradas as melancolias e ansiedades. Por ser da sina das suas métricas e contornos, as calçadas aprendiam despreocupadas, dolentes e morosas a arrastar os pedestres para lhes oferecer as cadências aconchegantes das preguiças entremeadas nos bancos, desejos, arbustos, sorrisos e paredes. A torre da matriz remarcava as horas avisando da reza finda. Cada um então se servia de quanto o destino trouxera da malemolência, sem reparar que o azul despreocupado se dispunha em silêncio a escutar a noite caindo devagar, amolengada, enquanto se lambuzava no grená do poente beijo. Me pus em tempo de espera para não perturbar as meninas jogando amarelinha sobre os seus sorrisos soltos, quadrados riscados e inocências sinceras. Cada uma sabia ser a mais graciosa e até por isto não se preocupava em se exibir. 
            A simplicidade única das fantasias, para desobedecer aos intolerantes, ordenou ao coreto despreocupado do jardim retribuir a alegria e se espalhar pelos recantos animados, deixando a banda singela enfeitar o fim do dia com marchas alegres e dobrados ritmados. Sob a batuta do maestro, circunspecto, surgiu por trás do espigão uma lua curiosa para ouvir os compassos e iluminar a esperança. Os meninos brincavam de pega-pega entre os enamorados atravessando apaixonados os seus anseios. Os postes pediam aos cachorros para serem urinados, pois as estrelas se escondiam para não assustarem a lua que se banhava nas últimas lágrimas das chuvas. 
            Aqui, agora, Juriaçu dos Tropeiros apetece minha saudade, miúda e sozinha, ainda, naquele fim de estrada de ferro, rincão dos remorsos, de onde fugi um dia embarcando só, espremendo no garrote retorcido minha angústia, tristeza e solidão.
Ceflorence     15/10/18       email   cflorence.amabrasil@uol.com.br

quinta-feira, 18 de outubro de 2018


DEVANEIOS EM ACALANTOS
Propus-me, mas é bom declarar, antes dos flautins se oporem, por precaução, calmamente, a atravessar os ensejos, as tópicas e as metamorfoses. Se tal não se desse, como os destinos haviam previsto, os sete pássaros dos presságios que desenham o futuro sobre os infindos, não teriam se recusado a trazer seus cantos dolentes e, molemente enfeitiçados, esconderiam as tristezas entre as montantes marés antes de enfeitiçarem as tardes que os colibris preferem. Era, sem dúvida, o que de melhor sobrara depois que os sonhos foram recolhidos alegres entre as metáforas, os delírios e as censuras. Por se estar em plena safra de melancolia, a solidão pacata deixou suas marcas sobre a areia, mas muita indignada e com receio das ondas apagarem seus rastros para saborearem, discretamente, o que sobrara dos devaneios. Havia um cheiro acre de indefinição esparramado sobre as cores saltitantes. A solução foi postergada até que alguém sentisse desejo, carência e nostalgia. Mas, mesmo assim, repito que o domingo se fez sem trazer maiores anseios. Coisas antigas e atávicas, pois os que estavam sem certeza, dividiram os seus melhores desejos entre si na esperança que a penca de indefinição progredisse envolta em dúvidas e incertezas. Seria como conseguiriam aguardar a preguiça, sem se acabrunharem.
Se não estivesse prevenido teria me angustiado sobremaneira, pois duas fantasias eufóricas tentavam espreitar-me de soslaio por trás dos meus anseios. Coisas das paranoias indelicadas, que me assoberbam, em sendo domingos pares, insisto, quando os sinos timbrados não são ouvidos nem mesmo pelos mais fieis, pois as capelas preferem o silêncio e as crianças os regaços maternos. O improviso inesperado se arrastou pelas calçadas vazias sem deixar-me beijar, afetuosamente, a preguiça carinhosa a que me obrigo de habito, quando o grená do poente se adorna antes de esconder o sol e a saudade. E, ainda no mesmo tom dodecafônico que acalanta meus desejos e por não ter findo o domingo, aquele azul mais suave correu manso e moroso para os braços das nuvens mais baixas e se espalhou pelas rimas que os poetas trouxeram. Eram sete os desejos e não houve conflito, pois cada um se preparou para ficar somente com o que poderia carregar em seus sonhos.    
Conformei-me só depois que meus pensamentos vagarosos começaram a bolinar a nostalgia e as crianças preferiram saltar entre as brisas cortando o azul antes de se acomodar no infinito. Os pássaros dolentes retornaram aos seus aconchegos para acarinharem as crias, se esconderem das escuridões e conversarem com as almas. Não havia contrafeita, pois o tempo se entretinha em volteios calmos e delicados, mas entremeado por setes luas de ogum. Os provérbios estavam cismados e as angústias dispersas não conseguiam se acasalar sem alvoroços ao oferecerem alguma esperança. Por procedente, a solidão trouxe consigo o que restou com sabor de silêncio para alimentar os imaginários, os mitos e as fantasias.
Assim se deu, e não caberia nada além de esperar, entre dois cravos e uma esperança, como a vida nos ensina, suave e mansa, enquanto apreciamos a nostalgia trazer vagarosa o poente.        
Ceflorence             03/10/18       email   cflorence.amabrasil@uol.com.br  

quinta-feira, 4 de outubro de 2018


DESNOITANDO DO MADRUGAR E SAGAS OUTRAS
Sem descanso, repicando ameno, mas triste, noite se desfazendo miúda, sino da matriz no mesmo embalo, por não ter outras obrigações além de marcar horas e manias. Por ser assim se fizeram as sagas. Liau, cão afetivo, farejou alongado, radiante, a primeira lata de lixo deixada à porta da pastelaria. Entusiasmo, prontidão. Arregaçou as mesuras, permitiu-se a Cadinho, catador de sobrados, licenciou-se com cigano desencarnado, ordenou juízo às pombas e alvoroçou na captura dos desprezados. O sacristão conferiu se os santos retardatários, sonolentos, mais insolentes por descuidos e temperamentos. Conferiu se haviam retornado às suas fidalguias introspectivas nos altares, posturas eretas, sofridas, insinuantes, carismáticas, antes de abrir as portas fronteiriças e majestosas, convidando fiéis, desocupados, curiosos às penitências.
A matriz se aprestou em soberbas imputações de enlevar fantasias e demandas deixando ao vento acatar licença pelas entradas liberadas, se empertigar pelos meandros visitando os milagres e segredos dos perdões, com um achego umedecido da garoa levando seu sabor de madrugada. Acordados pelos ruídos camuflados nas entranhas da noite, os silêncios se arvoraram para serem ouvidos por quem se prestava às orações nas preferidas obtenções esperançosas com os padroeiros afinados mais achegados, pois o dia foi autorizado a ir procedendo como as tarefas pediam. Tanto que o chafariz mimoso já se permitia alegre receber seus passarinhos preferidos brincando de aurora, contrastando com o azul que o sol pretendia esconder. O tráfego afobou graúdo em bom volume ao já se pronunciar imprudente, buzinas, alguns andantes cruzando suas finalidades, pressas, destinos, portas dos bares invadidas.
Atento, o cigano, as pombas, Liau dormindo, os santos pasmados, chafariz chorando, ouviram as memórias do retirante, que depois o tempo redundará com carinho. A noite abraçou o silêncio para se esconder na solidão e escutar as prosas mansas e tristes.
Ceflorence     25/09/18 email cflorence.amabrasil@uol.com.br

quinta-feira, 27 de setembro de 2018


EM AZUL E OUTRAS SUTILEZAS
Houve um renascer de pássaros e melindres rompendo aurora adentro. Aconteceu das miudezas sobradas se disfarçarem entre os delírios mansos, ouvindo os flautins, trompetes e ganzás, embora enlaçadas por solfejos, como preferem andejar os poetas pelas fantasias e mágoas, imiscuídas às miudezas e delicadezas das lágrimas restantes. Todos escamoteados em sete sutilezas mais envergonhadas, como as coisas imprevistas e saborosas preferem começar os encantos e os verbos antes das paixões rebrotarem. Era dia de firmamentos, pois à solitude apeteceu vir pelos recantos mais suaves e não entrar em conflitos. As árvores se fantasiaram dos melhores pássaros, tanto que os ventos mansos desenharam ao fundo os horizontes mais alegres para os verdes se acasalarem escondidos em seus aninhos e sonhos. Desassistida, assim, a melancolia esgueirou-se entre as nuances, os provérbios e os silêncios. E destas indefinições e simplezas, os mais afetuosos se aproveitavam, sem ansiedades, para apaziguarem na preguiça, enganarem o tempo e se enfeitarem com a dolência.
Mais desapegados das fantasias pretendendo invadir o imaginário, espreitando a angústia enevoada nos rodamoinhos dos compassos sustenidos, os homens chegando acobertados pelos desejos tentavam retraçar seus destinos. Tudo, como deveria ser, era apreciado pelos anseios em botões, revestidos entre os lamentos implorando ao verão escondendo as chuvas boas para ensinarem as águas mansas a voltarem antes das seriemas se calarem. Por ser fim de tarde deus sorriu. Mas mesmo assim as águas fartas só se fariam nos tempos devidos e esperados, em sintonia com as pitonisas sabendo tão bem rebuscar seus búzios e tarôs para enfeitarem as previsões que portavam. Deu-se espaço à meditação, pois ainda não se teriam maturado, a contento, as melancolias, como preferem os deuses e as imprudências.  Aquela solitude envergonhada entre os anseios para desafiar os sofrimentos mais retardados, escolheu exatamente os caminhos dos sonhos por onde a melancolia preferia alongar suas presas, antes de roubar dos astros as manias e os sossegos.
Em sendo ser sempre colibri, se fez presente para oferecer às flores acordando, sem preocupações de se exibirem ou de se oferecerem para perfumarem as brisas, a delicadeza de seus beijos delicados. O tempo tentou parar no espaço e imitar, atrevido, o beija-flor sorrindo da incompetência dos ponteiros dos relógios e dos sinos, que se cadenciavam meticulosamente sempre em frente, procurando devorar o futuro, sem conseguirem estacionar a vida angustiada rumando ao desconhecido. Ouviu-se um tropejo ruidoso da mudez trazendo consigo a incerteza ao espargir dúvidas disfarçadas de desejos. Camuflado pelos acontecidos, o silêncio deixou o barulho agitado, contrariado, tanto que os que foram refazendo as marés, intentando apossar-se das fantasias para beijar a lua e enlevarem os sonhos e os bardos, se esqueceram dos seus destinos e obrigações. Mal sobrara um restolho de tristeza para atender as aflições saltitantes, mas carentes.
Para contemporizar a alma, a madrugada foi se despedindo lenta carregando consigo as estrelas cansadas, mas ombreando seus desejos, sois e consternações.  
Ceflorence      19/09/18          email     cflorence.amabrasil@uol.com.br

segunda-feira, 24 de setembro de 2018


ARATACAS E MEANDROS.
Abriu tiro tanto de não sustentar lugar desperigoso. Acudei-me senhor, gritei nos sovados, mas desprocedeu. Des-houve de haver um desvolteio sem aprumos ou desfecho, pois arribou tristeza pelos desempertigados das solidões e restiou só os andamentos sem explicados devidos nas manobras. Anotei nas providências o que deu para atentar das partes entrevadas nos arreliados das diferenças e das brigas, bala azucrinando minhas metodologias de reportador nas falas que digo agora para salvar o que alembro. E assim mesmo se deu o que por porfiados arremedos agora nas palavras repico embasbacado no pavor dos tiros e reproduzo nos instintivos o que presumi das salvas relembradas, desfazendo por riba o que não vi direito e não escutei de longe. Me confundi nas manobras de escapar das aratacas armadas, mas com o medo que me carcomia afundado nas desimportâncias não consegui desmerecer, mas sobrevivi eu entramado com os arremates dos pontuados. E bala comia pelas estrituras das restingas e pelas sobrevalências dos arrepios. Deus me acuda, aparvado de medo estarreciei. Adismerecia até cismas de porventuras desarribadas, se os bandidos viriam das canhotas das quebradas mais escondidas entre as piçarras ruins das naturezas bravas ou pelas pedras das trilhas des-abençoadas de intrincadas, por onde a catinga ajudava as tramoias dos pestes esconderem suas malvadezas.
Os cachorros latiram assombrados nos lamentos para avisarem que as ressalvas estavam sendo retomadas por quem procedia nas desforras. Eram os ultimatos para cada um: fugidias formas ou as mortes matadas. Se dariam se os aperregos não fossem acarenciados nos imediatos e nos prontos. A polícia desapareceu nos motes dos medos e só se puseram os bandos transversos de opiniões contrárias, de quem carecia, por profissão de matador, e se fez que na verdade, ou assumiria os riscos de desalmar matado ou se desarvoraria vivente atirando até quando a sorte não melasse.
Se fez no desafogo, atestemunhe parceiro o que falo, e nem despenitenciou ninguém antes das assombrações mascando ódios e fungando despautérios se acalorassem nas manobras dos tiroteios e das saraivadas amedonhadas. Os aforados nos intentos de invadir foram cercando pelos lados mais descobertos e acharam que as vazas estavam desmerecidas de provimentos, com gentes assimesmadas, indecentemente desprovidas nas incapacidades de se defenderem e chamuscaram lamparinas acesas nas embocaduras para escorvarem de sapecados quem des-procedesse de ficar mambando quedado. Artimanha negada, pois os desconformados das atitudes desmereceram as medidas mesmando silêncios por trás das venturas e não só apagaram os querosenes como devolveram em saraivadas periódicas de balas estremadas e certeiras nos retrancados desarvorados. Sucedaneamente ocorreu certo.
            Os mais afoitados preferiram se intinerar pelos socavãos das nuances indestinadas. Eu, porfiado no indefinido, me desfiz destransmitido, pois apavorado dos sucedidos, sai regurgitando os verbos e as certezas para contar enrodilhado agorinha os procedidos. Aperreei nos medos, mas sobrevali com vida das desafeitas feias.
Ceflorence      04/09/18        email      cflorence.amabrasil@uol.com.br               

quarta-feira, 19 de setembro de 2018


BOEMIA, CAPOEIRA, SARAPATEL E OUTRAS DESAVENÇAS
                         O luminoso da Pensão Nossa Senhora das Boas Dádivas acabara de ser desmerecido. Ali, senhora respeitada de seus destinos e decisões, cafetina Merinha, pontual, desamuada, sem impertinências, ajoelhou-se respeitosa aos pés da Madalena Santa, protetora das moças carinhosas, agradeceu à vida tranquila que mais uma noite lhe dera. Cadinho, molambo em figura, amenizava as solidões nos limites dos seus tracejados aonde se enroscava aos pés da Catedral para beijar a melancolia.
                        O sino cadenciou mais uma agonia. Eram as meias horas entre várias solidões. A Praça da Matriz acolhia um resto de puta fumando, remoendo penúrias, bebendo esperanças e angústias. Dois cafetões, Cabedeu da Quinha e Ritílio Bocadura, o mais atrevido capoeirista, o outro municiado de navalha, que administravam sintonias das proteções às moças, discutiam dosagens de maconha com o traficante Giradinho Doponto. As malícias se desacomodavam entre o preço da erva e os coitos barganhados.
                        Um carro de polícia desconhecido, diferente dos normais guardas que exploravam todas as madrugadas o entorno da matriz, as meretrizes, traficantes, cafetões, capoeiristas, para colherem seus subornos, coitos ou drogas, parou para averiguar o que poderia usufruir. Ensaiaram os estranhos policiais as agressões e petulâncias de rotina, pedindo referências, documentos, motivos para o catador abandonado, conversando com seus aléns, protegido nos escuros das paredes das torres, ouvindo os embalos dos sinos.
                        Cadinho levantou os braços, silenciou, deixou de lado os desaforos menores, engoliu os maiores. Os guardas viram que não haveria dinheiro, maconha, interesses para serem extorquidos. Chutaram o cachorro, espantaram os pombos, cuspiram e pisaram em cima do Cigano Simião desencarnado há mais de século, por não aprenderem a vê-lo em alma ao lado do amigo Cadinho. Riscaram os pés com seus coturnos sórdidos sobre os silêncios, anotaram no bloco inútil as ocorrências, ligaram a sirene e foram des-apasiguar outros meandros.
                        Cadinho, desfeitou nos recalques e nas contrafeitas de analfabeto e retirante. Descobriu que não aprendera a chorar. Palmilhou um rasgo fundo, pois não sabia como des-sonhar seus pesadelos, para desviver nos desaforos.

Ceflorence       10/09/18    email         cflorence.amabrasl@uol.com.br

quarta-feira, 5 de setembro de 2018


POESIA EM OUTONO OU OUTROS MOTIVOS
O verde mais sonoro, que por timidez e método preferiria camuflar-se entre as melancolias ouvindo o canto distante dos pássaros, surgiu do inesperado, ou melhor, do imaginário, sequer perdeu o tom singelo e suave tão logo um discreto delírio se derramou para lacrimar sobre os delicados sorrisos, enquanto as crianças recolhiam pelas calçadas as fantasias deixadas pelas colcheias subindo as paredes caiadas do casario modesto para realimentar os sonhos. Tendo findada a safra alegre da colheita farta dos folguedos e fantasias, as moças prefeririam o luar nascendo envergonhado entre os desejos simples e a luxuria ainda em formação, para enfeitarem seus sorrisos graciosos. Um bem te vi revoou dos motivos coloridos em que assentara, esperou a brisa trazer notícias novas do pôr do sol e silenciou descuidadamente como preferem as aves menos atrevidas. Por habito de repetir as melodias os pássaros, escapou o bem te vi experiente dos caminhos difíceis e tortuosos, sem abusos ou pedantismos, se desfez dos devaneios e das galhofas para provocar o conflito entre a tristeza e a esperança, embora os homens sérios e nobres não se conformassem somente em aceitar as razões simples das criaturas da natureza para se encantarem.
Nada disto faria o menor sentido, não fosse o sino da Ave Maria pedindo nostalgia e relembrando a todos para se recolherem às meditações. A cidade se enroscava pelas vielas estreitas para tentar ganhar o firmamento e se esconder. Se davam estes bailados entre as nuvens querendo levar suas águas para chorarem mais perto de Deus, embora, para quem estivesse a procura só de acompanhar o tempo se desfazendo em passos lerdos e despreocupados, veriam silenciosos as formas mais graciosas de aconchegar à preguiça e sorver a solidão. Por ser o momento propício, embora tenham sido distribuídas gotas miúdas de prazer recolhidas nas entranhas da puberdade, não se ofereceu, como devido, explicação à maré montante obedecendo à ansiedade da lua. Recolheu-se cuidadosamente ao inconsciente solitário a mensagem guardada entre as melhores metáforas e, sem deixar o verbo se colorir de mágoa, cada um se pôs a procurar afetos pelos meandros esquecidos que o passado levara.
Sem ser de direito, pois, como era previsto, as notícias nascidas no regaço da dúvida se envolveram nas suavidades das brisas, mas chegaram envoltas em crisálidas antes mesmo de se enfeitarem de borboletas. Portanto, o mesmo amolador de facas encantou o destino espalhando pela rua deserta o tom grená do seu flautim afinado em melancolia e entoado em ré maior. O tempo se fez então presente entre os transeuntes, puxou consigo uma preguiça teimosa que se dispersava pelos paralelepípedos, escorregava mansa pelas calçadas e pelas mentiras mesmo como as lágrimas das chuvas preferem ao lavarem os pecados e encantarem os desejos.
Aproveitando o remanso do azul, o infinito distraiu-se a bolinar os delírios achegados, sem desmerecer as saudades, não se permitiu ouvir o silêncio da escuridão caindo metodicamente em ré maior camuflando as rimas do futuro desconhecido.
Ceflorence    28/08/18       email   cflorence.amabrasil@uol.com.br

sexta-feira, 31 de agosto de 2018


POR SER SÁBADO
E por estarmos além do mais enlaçados em um momento muito propício à transição, em plena imantação conflitiva e imagética, absortos nós indelevelmente ao período esbentálio quaternário, plenamente extasiados pelas primeiras flores outonais adornando o caminho de alfa, não poderíamos de forma alguma deixar de registrar os antecedentes. Nestas circunstâncias a Constelação de Espórius, genuinamente subjetiva e transcendental, dividia, sem preconceitos ou lamúrias, o racionalismo fugaz da metamorfose euclidiana. Ao indispensável esclarecimento complementar destas colocações impõe-se fundamentar, com toda ênfase, o perfeito equilíbrio entre o desvio padrão da teoria da relatividade, em complemento aleatório do inconsciente sobre o surrealismo e fator relevante para a localização de Álcion Maior. Preponderando, como catalisador, neste contexto, observou-se a aceitação plena dos princípios evolucionistas de Darwin. Portanto, confirmando esta realidade inabalável, seguem estrofes alexandrinas, tal como foram grafadas, para registro correto das meditações e devaneios complementares ao conceito primário do existencialismo.
 Em consequência destas decisões cuidadosas, foram as metáforas amadurecidas e oferecidas em escalas dodecafônicas, em tons maiores, para alegria dos deuses de Espiódon, mas meticulosamente dispostas em sequências inversas às luxurias, aproveitando os melhores pecados capitais disponíveis, sem prejuízo dos símbolos e das métricas. Com isto evitou-se o confronto da irracionalidade fundamentalista face ao preconceito ortodoxo ecumênico. Por último, de forma clara e contundente, entre nenúfares e centopeias se estabeleceram relações afetivas dissonantes, sem preocupações sexuais reprodutivas, mas que por habito e força dialética se dissolveram suavemente entre neblinas, danças típicas e metástases. Em se estando em pleno outono não houve contraditórios, pois as águas fartas procuravam seus destinos entre pedras e sonhos. Inverteram-se as esperanças, como seria habitual entre os mais tímidos, e uma brisa suave das ninfas bailando bafejou forte o aroma do futuro, deixando o passado se acomodar no presente como preferem as crianças ao se aninharem nos regaços maternos.
Distribuíram-se cores e versos aos ausentes e nobres. As melodias silenciosas se dispuseram caladas a envolver as sutilezas desde o amanhecer, iniciando pelos fragmentos miúdos de alegria e brisas calmas. Suaves pétalas de orgasmos foram colhidas ainda com o sabor do sereno e distribuídas para os que se aconchegavam às fantasias. Escolhia-se entre os presentes os que prefeririam os desejos mais acabrunhados ou os que se deixariam recobrir de fantasias. Foi se o dia e se fez noite, tanto assim que ouvimos claramente, muito longe, a lentidão do latido de uma ilusão atravessando sua nostalgia preferida. Não restava dúvida, as cores eram simbólicas, mas as tonalidades mais altivas caiam reais e delicadas sobre a garoa entremeada de devaneios leves procurando metáforas sutis nos âmagos dos paradoxos saborosos.
Dolente, sobre as nuvens distantes, as meninas sorriam sós e despreocupadas para enfeitarem mais um sábado. Singelas, gratificavam os que devaneavam introvertidos na imensidão do imaginário e do delírio. Prevaleceu a demência dócil.
Ceflorence        22/08/18         email cflorence.amabrasil@uol.com.br

quinta-feira, 16 de agosto de 2018


ORDEM INVERSA
Esgarçado o cosmos registraram-se, condignamente, sob as bênçãos das torrentes psicóticas mais saudáveis e robustas os benefícios do reaproveitamento de almas descartadas, enfeitiçadas ainda. Ainhuvãtsau, exumado em tempo e verbo, coordenou as intransigências, pois as solidões se enfeitaram mimosas para os procedimentos; rituais tradicionais “in memoriam” praticados. Sem impactos agressivos, as luzes ideológicas não se calaram ao trazerem reconciliações e meditações, enquanto, metodicamente, os paradigmas indispensáveis eram grafados sob as melhores hipóteses após os trabalhos abertos. Os mais afoitos se desnudaram, educadamente, as dúvidas se esconderam entre as lágrimas pueris e uma chuva de provérbios desafinou melodiosa em arcos-ires para apaziguar o cotidiano. A paz beijou a tristeza. No espaço enorme, proposital, aberto à imaginação sem barreiras entre o nada e a surpresa, distribuiu-se fartamente as pretensões do acasalamento e da procriação híbrida da gênesis espiritualista com a teoria evolucionista Darwiniana. Consagrou-se o vermelho como o som preferido e acentuou-se a cor do silêncio para todos se reconciliarem ouvindo respeitosamente o infinito ressonar. Coisas do romantismo revisionista.
Confirmou-se assim, consolidando o encerramento, em Segmar Aiwan, período amorfo e incorpóreo, com total incompatibilidade geológica, carnal ou botânica presa à desprezível realidade, mesmo face às crenças fundamentalistas, que foram as almas desencarnadas acomodadas ali, provisoriamente, pois o imponderável escolhido carregava alegrias soturnas e clarezas exotéricas exigidas pelos preceitos e ritos. Estendiam-se as almas apaziguadas, já metamorfoseadas, condignas para os cerimoniais, caprichosamente distribuídas a leste do inconsciente e acima do subjetivo. Matéria esta, espiritual, considerada fundamental e irreversível para se amoldar ao além e ao ponto nevrálgico entre o zodíaco e a premonição. Aproveitaram-se as intransigências morais indispensáveis para serem eximidos os impactos das incertezas e das fantasias, fortemente fixadas na junção da constelação de Outires com a área gangrenada do privilégio do escárnio, regiões de tonalidades assexuadas medianas, de aromas conflitivos, mas ainda em período duvidoso de putrefação saudável. A solução final, em transito, seria o inverso da sintonia dodecafônica e inacabada, imperceptível para os encarnados.
Antes do encerramento lúdico e majestoso, como previsível, Ainhuvãtsau transmudou o signo da paixão, então disfarçado de complexo de édipo, pelos sete paradoxos indestrutíveis utilizados pelas emoções que governam as almas desencarnadas habitantes dos astros da constelação de Segmar Aiwan. Para cravar fundo e indelével a harmonia das heresias e dos pecados, as almas dos astros escambam seus enfados e desatinos pela ordem inversa das emoções materializadas pelo criador: intuição, demência, passionalidade, ciúmes, malícia, deboche, inveja.  
A inversão dialética da ordem tornou claro o poder e a magia de Ainhuvãtsau.
    Ceflorence    email  cflorence.amabraasil@uol.com.br    

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

DESFEITANDO
Assim foi como procedeu conversa entre os desencontrados dos desatinos e dos proseados nas rodas de espreitas às socapas, daqueles que bebericavam café requentado e cachaça desaforada de ruim em boca. E nestes plausíveis do nascer do dia, não muito claros para o seu desconforme, foi que Joca tentou criar artimanha de por sentido nos redemoinhos dos solitários do consigo, cabisbaixado, remoendo desditas engravidadas pelos desatinos calhordas, jogadas nos tropeços dos seus caminhos para abusar de não dar formosura de ciência nas querências do futuro. “Se aroeira brava sofresse solidão, não se aprestava para moirão de porteira velha”, assunta, no resfolego do repente, Joca, sem rastro ou métrica de definição ajustada. O porvir que vagueava tal bando de maritacas agitadas e gritadeiras, em roça de milho verde, se pôs nas consoantes das ideias, igualados das embiras trançadas, como bornal de mantimentos onde se joga tudo nos distúrbios e nunca se encontra nada nas carências das precisões. O beija flor agitou suas intemperanças no caminho de destravar os encontros das tristezas com a solidão e pairou no ar para enfeitar a brisa. O riacho se fez de brioso, aprumou pelas cascatas se escondendo entre as pedras mais salientes e Joca se pôs a levantar os pensamentos para os lados das sinas melindrosas.            
              E não adiantava este viajar pelos nadas dos destinos, se o cavalo, único parceiro de prosa séria naqueles espigões isolados de serras bravas, não se arvorasse no rumo certo, em marcha estradeira, no intento do caboclo poder, nos entremeios, salpicar fantasias espicaçadas no arremedo de solução. Naquele toadão mal tinha arremedo de tempo de por reparo bem adornado na natureza das beiradas enriachadas que cortavam o caminhando, misturando os internos do seu eu com as quebradas abonitadas até aonde a vista cegueiva as vistas turvas. E era nestes perdidos que ele bolinava as farturas das dúvidas. O moço só arremediava nas tramuras de se empertigar por desaforo, amor embuchado e cavalo redomão, como despalpitava Sobroncio das Remeleras, que apaziguou de morrer beirando os cem.   
No meio destes transviados, Joca sonhava com um dia, ninguém sabe dos quantos, em que com a mesma destreza de armar vara de pescar magote, naquelas corredeiras frias, sem tempo medido de se soltar livre em alegria, como se linha de pescar fosse para buscar fundo nas locas das pedras batidas, nos propósitos de acabar de vez com aquele medo amamentador de acanhamento vergonhoso e se arrematar só na coragem atiçada como pinga de curandeiro usada nas artimanhas. E o alazão, que lia pensamento no perfume dos ventos que carregavam os cantos da seriema do cerrado, virou nos pés arribando atalho na direção da Toca Grande, aonde a sorte derramou Rosinha desde os tempos esquecidos. Joca poderia, assim, até que enfim, gargalhar coragem de amor declarado, na barra da candura da Rosinha, pois o alazão definiu rumo e prosa. Joca não contradisse nem esmoreceu de definhar no porvir.
Mas, pois, como se falou, o resto só eles deram conta e fica para outro dia para os demais proseados com tempo de ser então tragado com cachaça, serventia e pé na estrada. Assim foi.

 Ceflorence  e-mail    cflorence.amabrasil@uol.com.br 

quinta-feira, 2 de agosto de 2018


AZUL EM SUSTENIDO
            Me fiz em sustenidos só e só por ter sido, como recordo, em um destes outonos iguais quando o sonho se fantasiava de verbo, o tempo amadurecia entre as águas procurando seus destinos e os destinos se perdiam nos prováveis. Deu-se, pois, em métricas e dúvidas os acontecidos. Os pássaros se preparavam para acasalarem, apaixonados, melodiando, singelos como para o que tão bem foram criados e assim enfeitarem os provérbios e a natureza. Deus agraciava naquele instante de nostalgia o futuro, deixando repousar o passado e o presente, por ser o único que operava nas três dimensões temporais e o demônio desdizia a sorte enquanto escalavrava a frieira do casco caprino. Coisas banais, mitológicas, mas que afetavam o cotidiano da pequenina vila em que me desgastava pelos dias a passarem. Os sinos se fizeram em tons menores para me convidarem às meditações e preces.
Simultâneo, não se entendiam, procurando os mesmos descaminhos dos  improváveis entre os devaneios e as metáforas os poetas entremeando, indefinidos, suas parábolas e os filósofos se perdiam em tertúlias platônicas, mas nada afetava as crianças brincando de alegria para invejarem os carentes.  Sentei-me à praça conversando com a melancolia deixando-me acompanhar às indecisões das nuvens desenhando abstrações embaladas por caprichos e brisas. Não me defini se estaria em alfa, angustiado ou se o beija flor ousaria com suas asas cadenciadas romper o silêncio. Real, estas indefinições ocupavam-me entre os escaninhos da depressão e o silêncio ruidoso do beija flor não fazia mais do que embaralhar as ideias pobres e preguiçosas com intentos de azucrinar os verdes.
Por ser de destino e paz, a alegoria vinda da boca da noite se acomodava para dormir entre as ameixeiras e se disfarçava entre as flores que gostariam de se aninharem pelos infinitos brincando nos regaços das correntezas disfarçadas nas pedras, sem métrica ou pecado. Sem quererem encerrar, pois o sol ainda teria o que dizer um restado de dia caindo, se preparavam os bulbos para frutos se tornarem, amadurecerem e se desfazerem das melancolias. Isto retardava o meu outono e os meus pensamentos. A menina brincava de amarelinha, alongando sua pedra de toque para o infinito de seu destino enquadrado para saltitar ágil até sua meta e sonho. Invejei sua ambição que não ultrapassava a fantasias do quadrado pequeno onde cabia a imensidão do seu sorriso, da sua alegria e da sua ambição. Os balões foram liberados das redondilhas dos bardos aprendendo a imitar as estrelas a brincarem nos azuis.
A tarde caiu repetindo sua rotina nas horas das preguiças e das preces. Preferi me recolher subindo as vielas tortas como os meus pensamentos. A menina dos saltos sobre as nuances das amarelinhas se escondeu nas frestas contorcidas da alegria e me deixou entre sonhos amarfanhados em pencas graúdas de solidões.
Ceflorence     24/07/18      email    cflorence.amabrasil@uol.com.br

quinta-feira, 26 de julho de 2018


ÉDIPO EM PROVIMENTOS
Quando acordo com aquele sabor oxigenado de guarda-chuva envelhecido em canela avinagrada por alcatrão, ocorre algo mais assintomático, segundo Pai Joãozinho de Oxossi, meu conselheiro espiritual das fazes gravosas primitivas. À noite, sozinho, na coxia, internado com a angústia, tomei dois cálices de tristeza mordiscando um sanduiche de solidão, embebido em paranoia, lendo as adoráveis tropelias eróticas do Velho Testamento. Como sempre, escovara a dentadura careada e a trancara no deposito escuro sob a escada, para que não ficasse, sadicamente, me espionando dormir. Não entendi por que o psiquiatra, do sanatório ao qual fui coagido no dia seguinte a estes fatos, não captava as minuciosas ponderações expostas agora por esta carta. Relatei-lhe que pegando no sono, pela janela do além, entrou o velho companheiro de meu avô Joquinha nas vaquejadas lidas, Clemêncio Donato, que morrera há cem anos.
Depois da cachaça, adiantou-me que viera a mando correto e respeitoso nas composturas, a pedido do parceiro demais prezado, meu antepassado, para revelar no soturno da confidência que eu teria sido parido em encarnações anteriores, carismáticas e simultâneas, em verdade dos espíritos alados, por obra do amor perfeito de Alexandre da Macedônia com a camela preferida do seu harém para equitação guerreira. Os ventos dos desertos embalavam as folhas das tamareiras, inspirando as poesias para os encantos dos sonhos e seduções. Alá, criador do céu. Das alas e dos aléns era testemunho das reencarnações ara aprimoramento do espírito.
Registro que antes de me dirigirem obstinadamente para esta casa de saúde, havia procurado meu conselheiro amigo, Monsenhor Rossi, para elucidar os mesmos detalhes levados ao psiquiatra. Ponderado, calmo e racional como sempre sou, fui expondo ao Monsenhor que assassinar meu pai Alexandrino foi tão fácil como resfolegar penitência de oração após a confissão sabatina para comunhão na missa de domingo. A dificuldade se prendia à revisão incestuosa, sob a nova singularidade heterodoxa e inusitada de praticá-la com a figura de uma quadrúpede maternal surrealista, longas pernas dalinianas, inibindo qualquer fantasia erótica por todos os achaques edipianos disponíveis. O monsenhor plasmava sua preocupação tentando chamar alguém para também ouvir a verdade que eu lhe relatava.
Resistindo ao óbvio, pensei que o Monsenhor estaria mais surdo do que de hábito e, suavemente, tentei balançá-lo pelo pescoço para melhorar a audição. O sacristão, não entendendo o gesto carinhoso, despencou-me o crucifixo no lóbulo frontal, prejudicando-me os raciocínios dos dias pares. Depreendi ser a razão de estar escrevendo deste local e sorrindo ao simpático pessegueiro ao meu lado, aqui internado por envolver-se afetivamente com uma seringueira geneticamente modificada, sem autorização da ONG de plantão.                                                                          
                                                                           
Cflorence  17/07/18                  email  cflorence.amabrasil@uol.com.br

segunda-feira, 23 de julho de 2018


ANSEIOS E OUTROS SONHOS.
É seu destino, lua tímida, cuidar das marés e paparicar os bardos canalhas. A madrugada sabe brincar de inusitado, momento em que os deuses e os demônios repousam depois de se esfalfarem em orgias. O mar chamou-me delicado a atenção para uma casa escondida entre as árvores e encoberta, em parte, pelas sombras das ilusões que a confrontavam. A areia guardara, com cuidado, as marcas das pegadas de um pé miúdo, indeciso, com certeza de esbelta ternura que por ali transitara. Segui as marcas, medindo-as com fantasias, imaginação e sonhos, transfigurando em colcheias. Abaixei os olhos para atender um beija-flor alegre, que tentava pousar em minha alegria para ensinar-me o caminho do amor. Receoso, alertei o beija-flor para não bater as azas tão alto para não assustar a princesa que deixara as pegadas que perseguíamos e se refugiara na casa isolada. O passarinho, indiferente, puxou-me para a trilha do carinho, que contornava o lado esquerdo do afeto e se pôs a brincar no aninho das minhas divagações.
Poderia ser que o colibri intencionasse arrastar-me diretamente ao castelo para que eu entrasse imperioso, com suaves insinuações e verbos carinhosos e salvasse a princesa do monstro da solidão que a devorava. O beija-flor e eu nos sentamos calmos para um diálogo franco e aberto sobre o amor e o devaneio. Os sonhos são construídos destas sutilezas e fomos trocando nossas extravagâncias, seguindo cuidadosamente as pegadas para não acordar o silêncio. A madrugada veio calma puxando um sol ranzinza com preguiça de enfrentar um dia todo de tarefa marulhando a maré montante. Aqueles todos faziam parte da certeza de que encontraria nos rastros das pegadas um imenso amor me esperando para sanar as minhas fantasias mais agitadas. Caminhei sobre os sonhos como quem pretendesse deflorar o futuro. Perguntei ao colibri se me acompanharia até os delírios enquanto acompanhava as ondas invadirem a solidão.
            Os regatos, no entanto, que desciam das serras, margeando os muros altos do castelo, trouxeram notícias não alvissareiras de que as pegadas da praia estariam sendo destruídas, pois o vento se desentendera com a maré e as ondas prefeririam subir canalhas pelas areias e recifes, não deixando vestígios para os ingênuos e sonhadores. Voltei à praia com o colibri, por prudência, onde as pegadas haviam sido impiedosamente comidas junto com as minhas desilusões pelas ondas que nunca perdoam a dúvida.
Um barco chega requebrando sobre o silêncio, recortando as ondas e desfazendo as espumas, de onde salta um rapaz atrevido, petulante e seguro, bonito, se empertigando a caminho das trilhas que levavam a casa. O mundo se estraçalhou, minha princesa se esvaiu do inconsciente e me agrediu encarnada numa plebeia vulgar, concreta e linda para jogar-se nos braços do moço que a segurou e carregou carinhoso, bailando no ar, até o barco, para que ela nunca mais deixasse pegadas eróticas na areia e não atiçasse fantasias nos loucos. O colibri sorriu sobre as ondas destruindo os desejos e se escondeu nos meandros da solidão.        
Ceflorence   10/05/15    email  cflorence.amabrasil@uol.com.br