terça-feira, 27 de novembro de 2018


EMBATIDOS E APANIGUADOS
Era um transversal soberano de arrependimentos, que nem São Pautiválio descarnava nas macegas. Admoestei Sarara, caboclo desprovido de arreceios e sobrossos, que envergava uma catadura des-apaziguada em sustenido, como se fosse frontão de belzebu. Não repinicou nem piou com a cara que ele mesmo possuía para descaber irreverências, antes de desajuntar dos contrafeitos a alma do cadáver. Se amoldou no gemido e se pôs a querer esmiuçar as contrafeitas, mas não deixei prosperar as circunstâncias para não abrir vasa de mau juízo e desfeita. Com estas manhas sanadas amelindrei pelas canhotas com sofregodura e impertinência, pois nem o Trofenço, com aquele pé de andar légua sobre pedra como se estivesse beiçando a sogra, não desmoreceu de empertigar o nariz para os desaforos. Beliscou a ponta da cartucheira, encarnou a destra do indicador na algaravanca do gatilho, mas apreferiu silêncio em vez dos cornos dos perigos. Se ponha se cabia ameaçamento ou desprovérbio entre os que saiam e os que pitavam fumo de rolo repinicado das desforras. Os mais afoitos, nos lampejos, não desvirtuaram, tanto que o sol foi encontrando seu silêncio para desmerecer o dia.
Umas éguas prenhas emparelharam para os lados da lagoa onde o marrequinho se desfez de sabido para amoitar nas taboas. Susteni no provisório, até que a jaratataca desmereceu os rastros que os cachorros alongavam. Surrupiei o destino por uns breves, sem respirar para não dessacramentar os fôlegos com o cheiro catingudo da bicha achando seus destinos e não amortecer ela morta nos dentes da cãozarrada desarrependida de preceitos. E me pus em supetão para um deus-me-livrasse naquela hora dos adjacentes, tanto que a brisa amenizou os trilhados e cachorrada enfeitiçou de seguir os despropósitos da jaratataca só até onde ela sumiu na capoeira fachada. Sina de caçador é esta mesma, não adianta entravar nos prognósticos, pois eles descornam nas desobediências e não estabelecem previsuras.         
Ajuntei os restados intermediários para preparar os retornos. A serra era braba, mas o povo de caçador ajagunçado era arrematado de insolente. Desmaldecemos serra abaixo, embicada nos precipitados, contornando a Pedra Grande da Periporá, por onde as aguadas da Cachoeira do Remão do Tucano desalojava tristeza, tanto que o pássaro preto se fazia em cantador. Admoestei o silêncio para o povo ouvir a magnitude. Se puseram de sobreaviso antes da brisa subir mascando os recantos mais remorsados, pois nem assim deu tempestivos de ver a paquinha miúda extravasar na rouquidão do vento querendo enganar a nostalgia. Creia, mas não porfie demasiado, que caçador não conta com o que vê, mas mais desempaca com o que inventa e verba. Apelejei o raciocínio enquanto desmembrava o provérbio, pois a noite prometia.
Foi um Serapião; danou-se o ireré inté. Ninguém entremeou de ir saindo calado enquanto os curiangos não trouxeram a escuridão puxada, enxabida, nos olhos brilhados, como só eles sabem. Me desmoleci de mandar recados e altivezes. Suspendi os provimentos até que a aurora viesse chamar o povaréu, devagarosa e morrinhenta, como tanto, nos igualados, à preguiça gosta de acomodar no cansaço, para eu continuar mentindo e inventando as sanhas de destramar os tempos e as paciências.
Ceflorence      13/11/18       email       cflorence.amabrasil@uol.com.br

quinta-feira, 1 de novembro de 2018


FOGÃO VELHO – CHAPA FRIA- CAFÉ REQUENTADO

                        Se fazia urgência, Jupitão testemunhou, atendeu recado, era prestimoso das horas, aprumou, pasmou esgrouvinhado ao levantar, estirou as pernas frias, doloridas, sem embalos desde a manhã, carcomidas nas melancolias na mesma cadeira. Desfez empertigado para as providências, Jupitão. Saldou para si, pois os mais não interessavam, salvo Seu Vazinho, repetiu, repetente – O cachorro latiu embaixo mesmo da escada do alpendre. Atendeu hora de o preá caçar água na bica da barrica cortada, como é correta sua hora de beber água na barrica cortada, como gosta o preá, onde a barrica fica. Assim, o senhor, Seu Vazinho, carece tomar café e pitar. Vou servir o senhor, Seu Vazinho. Moço, não se acanhe, tome café, coma carne de sol, beba mais uma cachaça, atente, tem fumo, tem tudo à vontade, desacanhe. Estendeu Jupitão a caneca de café meio frio ao Seu Vazinho, que condescendeu sem euforias, acendeu o cigarro de palha, pigarreou mesmices, articulou o verbo, pensou, disse, sem falar, esperando os apaziguados se darem.
                        Era a essência de Seu Vazinho desmilinguido em si mesmo à espera do nada e Jupitão calou para o resto dos palavreados até ir dormir sem outras prosas. Não estava assim para entretantos, o homem, pois cansou das ideias, não disse mais, tanto que enviesara por ser Jupitão do São Alepro do Jurucuí Açu, peão carregado de competências, amansador de cavalo, o melhor homem para acertar boca de animal, foi, não era mais, mas desmediu de querer viver, suspendeu a vontade de sorrir, assentou no silêncio, ficou. E tudo se deu, pois o cachorro latiu embaixo mesmo da escada do alpendre, quando viu a hora de o preá beber água, quieto, sem desmentir medo do latido, o urubu se acomodou no cocho, lugar do carcará, que assentou mais longe no moirão da porteira, sem saber por que o vento não carregava mais as chuvas novas como as coisas deveriam ser. O sertão que tinha estas sobrevalências se alongou nas premissas e nada mudou, pois o sol ainda iria enjambrar devagar pelos seus rumos mais um estirão sem fim antes de acabar o dia. Seu Vazinho desmudou de novo, balbuciou miúdo a si mesmo para Cadinho escutar.
                        Carecia contar nos traquejos dos finais, no apezinhar das mágoas desforradas do cavalo assumindo toada viageira de tempo seco, calor bravo e pragas, sem tropico nas passadas, mas preguiçoso nos intentos e por prosa com o além, Cadinho deu por cordato, desmediu. Por rotina o sol castigava a cacunda derrubando para o oeste. Cavaleiro e a montaria foram atentando as vistas pelas beiradas das pastagens das cabeças poucas sobradas de gado não tendo mais onde emagrecer. As cacimbas prontas para sumirem de vez, desenfeitadas nos buracos quase vazios, tristes, enxugando. O caminhado emparelhava as mesmas sinas das cataduras do então dadivoso Rio Açu secando. Tanto era que a paisagem assemelhava propositada parelha de desgraça com cada vaca, bezerro ou novilho sendo acompanhado por um urubu sustentando do lado um mau-olhado de desgraça e praga. E assim por ter-se dado Seu, Vazinho pontuou as desgraças que se deram com a seca que castigou por muitos verões intermináveis.  
           
Ceflorence       24/10/18     email     cflorence.amabrasil@uol.com.br