quinta-feira, 27 de setembro de 2018


EM AZUL E OUTRAS SUTILEZAS
Houve um renascer de pássaros e melindres rompendo aurora adentro. Aconteceu das miudezas sobradas se disfarçarem entre os delírios mansos, ouvindo os flautins, trompetes e ganzás, embora enlaçadas por solfejos, como preferem andejar os poetas pelas fantasias e mágoas, imiscuídas às miudezas e delicadezas das lágrimas restantes. Todos escamoteados em sete sutilezas mais envergonhadas, como as coisas imprevistas e saborosas preferem começar os encantos e os verbos antes das paixões rebrotarem. Era dia de firmamentos, pois à solitude apeteceu vir pelos recantos mais suaves e não entrar em conflitos. As árvores se fantasiaram dos melhores pássaros, tanto que os ventos mansos desenharam ao fundo os horizontes mais alegres para os verdes se acasalarem escondidos em seus aninhos e sonhos. Desassistida, assim, a melancolia esgueirou-se entre as nuances, os provérbios e os silêncios. E destas indefinições e simplezas, os mais afetuosos se aproveitavam, sem ansiedades, para apaziguarem na preguiça, enganarem o tempo e se enfeitarem com a dolência.
Mais desapegados das fantasias pretendendo invadir o imaginário, espreitando a angústia enevoada nos rodamoinhos dos compassos sustenidos, os homens chegando acobertados pelos desejos tentavam retraçar seus destinos. Tudo, como deveria ser, era apreciado pelos anseios em botões, revestidos entre os lamentos implorando ao verão escondendo as chuvas boas para ensinarem as águas mansas a voltarem antes das seriemas se calarem. Por ser fim de tarde deus sorriu. Mas mesmo assim as águas fartas só se fariam nos tempos devidos e esperados, em sintonia com as pitonisas sabendo tão bem rebuscar seus búzios e tarôs para enfeitarem as previsões que portavam. Deu-se espaço à meditação, pois ainda não se teriam maturado, a contento, as melancolias, como preferem os deuses e as imprudências.  Aquela solitude envergonhada entre os anseios para desafiar os sofrimentos mais retardados, escolheu exatamente os caminhos dos sonhos por onde a melancolia preferia alongar suas presas, antes de roubar dos astros as manias e os sossegos.
Em sendo ser sempre colibri, se fez presente para oferecer às flores acordando, sem preocupações de se exibirem ou de se oferecerem para perfumarem as brisas, a delicadeza de seus beijos delicados. O tempo tentou parar no espaço e imitar, atrevido, o beija-flor sorrindo da incompetência dos ponteiros dos relógios e dos sinos, que se cadenciavam meticulosamente sempre em frente, procurando devorar o futuro, sem conseguirem estacionar a vida angustiada rumando ao desconhecido. Ouviu-se um tropejo ruidoso da mudez trazendo consigo a incerteza ao espargir dúvidas disfarçadas de desejos. Camuflado pelos acontecidos, o silêncio deixou o barulho agitado, contrariado, tanto que os que foram refazendo as marés, intentando apossar-se das fantasias para beijar a lua e enlevarem os sonhos e os bardos, se esqueceram dos seus destinos e obrigações. Mal sobrara um restolho de tristeza para atender as aflições saltitantes, mas carentes.
Para contemporizar a alma, a madrugada foi se despedindo lenta carregando consigo as estrelas cansadas, mas ombreando seus desejos, sois e consternações.  
Ceflorence      19/09/18          email     cflorence.amabrasil@uol.com.br

segunda-feira, 24 de setembro de 2018


ARATACAS E MEANDROS.
Abriu tiro tanto de não sustentar lugar desperigoso. Acudei-me senhor, gritei nos sovados, mas desprocedeu. Des-houve de haver um desvolteio sem aprumos ou desfecho, pois arribou tristeza pelos desempertigados das solidões e restiou só os andamentos sem explicados devidos nas manobras. Anotei nas providências o que deu para atentar das partes entrevadas nos arreliados das diferenças e das brigas, bala azucrinando minhas metodologias de reportador nas falas que digo agora para salvar o que alembro. E assim mesmo se deu o que por porfiados arremedos agora nas palavras repico embasbacado no pavor dos tiros e reproduzo nos instintivos o que presumi das salvas relembradas, desfazendo por riba o que não vi direito e não escutei de longe. Me confundi nas manobras de escapar das aratacas armadas, mas com o medo que me carcomia afundado nas desimportâncias não consegui desmerecer, mas sobrevivi eu entramado com os arremates dos pontuados. E bala comia pelas estrituras das restingas e pelas sobrevalências dos arrepios. Deus me acuda, aparvado de medo estarreciei. Adismerecia até cismas de porventuras desarribadas, se os bandidos viriam das canhotas das quebradas mais escondidas entre as piçarras ruins das naturezas bravas ou pelas pedras das trilhas des-abençoadas de intrincadas, por onde a catinga ajudava as tramoias dos pestes esconderem suas malvadezas.
Os cachorros latiram assombrados nos lamentos para avisarem que as ressalvas estavam sendo retomadas por quem procedia nas desforras. Eram os ultimatos para cada um: fugidias formas ou as mortes matadas. Se dariam se os aperregos não fossem acarenciados nos imediatos e nos prontos. A polícia desapareceu nos motes dos medos e só se puseram os bandos transversos de opiniões contrárias, de quem carecia, por profissão de matador, e se fez que na verdade, ou assumiria os riscos de desalmar matado ou se desarvoraria vivente atirando até quando a sorte não melasse.
Se fez no desafogo, atestemunhe parceiro o que falo, e nem despenitenciou ninguém antes das assombrações mascando ódios e fungando despautérios se acalorassem nas manobras dos tiroteios e das saraivadas amedonhadas. Os aforados nos intentos de invadir foram cercando pelos lados mais descobertos e acharam que as vazas estavam desmerecidas de provimentos, com gentes assimesmadas, indecentemente desprovidas nas incapacidades de se defenderem e chamuscaram lamparinas acesas nas embocaduras para escorvarem de sapecados quem des-procedesse de ficar mambando quedado. Artimanha negada, pois os desconformados das atitudes desmereceram as medidas mesmando silêncios por trás das venturas e não só apagaram os querosenes como devolveram em saraivadas periódicas de balas estremadas e certeiras nos retrancados desarvorados. Sucedaneamente ocorreu certo.
            Os mais afoitados preferiram se intinerar pelos socavãos das nuances indestinadas. Eu, porfiado no indefinido, me desfiz destransmitido, pois apavorado dos sucedidos, sai regurgitando os verbos e as certezas para contar enrodilhado agorinha os procedidos. Aperreei nos medos, mas sobrevali com vida das desafeitas feias.
Ceflorence      04/09/18        email      cflorence.amabrasil@uol.com.br               

quarta-feira, 19 de setembro de 2018


BOEMIA, CAPOEIRA, SARAPATEL E OUTRAS DESAVENÇAS
                         O luminoso da Pensão Nossa Senhora das Boas Dádivas acabara de ser desmerecido. Ali, senhora respeitada de seus destinos e decisões, cafetina Merinha, pontual, desamuada, sem impertinências, ajoelhou-se respeitosa aos pés da Madalena Santa, protetora das moças carinhosas, agradeceu à vida tranquila que mais uma noite lhe dera. Cadinho, molambo em figura, amenizava as solidões nos limites dos seus tracejados aonde se enroscava aos pés da Catedral para beijar a melancolia.
                        O sino cadenciou mais uma agonia. Eram as meias horas entre várias solidões. A Praça da Matriz acolhia um resto de puta fumando, remoendo penúrias, bebendo esperanças e angústias. Dois cafetões, Cabedeu da Quinha e Ritílio Bocadura, o mais atrevido capoeirista, o outro municiado de navalha, que administravam sintonias das proteções às moças, discutiam dosagens de maconha com o traficante Giradinho Doponto. As malícias se desacomodavam entre o preço da erva e os coitos barganhados.
                        Um carro de polícia desconhecido, diferente dos normais guardas que exploravam todas as madrugadas o entorno da matriz, as meretrizes, traficantes, cafetões, capoeiristas, para colherem seus subornos, coitos ou drogas, parou para averiguar o que poderia usufruir. Ensaiaram os estranhos policiais as agressões e petulâncias de rotina, pedindo referências, documentos, motivos para o catador abandonado, conversando com seus aléns, protegido nos escuros das paredes das torres, ouvindo os embalos dos sinos.
                        Cadinho levantou os braços, silenciou, deixou de lado os desaforos menores, engoliu os maiores. Os guardas viram que não haveria dinheiro, maconha, interesses para serem extorquidos. Chutaram o cachorro, espantaram os pombos, cuspiram e pisaram em cima do Cigano Simião desencarnado há mais de século, por não aprenderem a vê-lo em alma ao lado do amigo Cadinho. Riscaram os pés com seus coturnos sórdidos sobre os silêncios, anotaram no bloco inútil as ocorrências, ligaram a sirene e foram des-apasiguar outros meandros.
                        Cadinho, desfeitou nos recalques e nas contrafeitas de analfabeto e retirante. Descobriu que não aprendera a chorar. Palmilhou um rasgo fundo, pois não sabia como des-sonhar seus pesadelos, para desviver nos desaforos.

Ceflorence       10/09/18    email         cflorence.amabrasl@uol.com.br

quarta-feira, 5 de setembro de 2018


POESIA EM OUTONO OU OUTROS MOTIVOS
O verde mais sonoro, que por timidez e método preferiria camuflar-se entre as melancolias ouvindo o canto distante dos pássaros, surgiu do inesperado, ou melhor, do imaginário, sequer perdeu o tom singelo e suave tão logo um discreto delírio se derramou para lacrimar sobre os delicados sorrisos, enquanto as crianças recolhiam pelas calçadas as fantasias deixadas pelas colcheias subindo as paredes caiadas do casario modesto para realimentar os sonhos. Tendo findada a safra alegre da colheita farta dos folguedos e fantasias, as moças prefeririam o luar nascendo envergonhado entre os desejos simples e a luxuria ainda em formação, para enfeitarem seus sorrisos graciosos. Um bem te vi revoou dos motivos coloridos em que assentara, esperou a brisa trazer notícias novas do pôr do sol e silenciou descuidadamente como preferem as aves menos atrevidas. Por habito de repetir as melodias os pássaros, escapou o bem te vi experiente dos caminhos difíceis e tortuosos, sem abusos ou pedantismos, se desfez dos devaneios e das galhofas para provocar o conflito entre a tristeza e a esperança, embora os homens sérios e nobres não se conformassem somente em aceitar as razões simples das criaturas da natureza para se encantarem.
Nada disto faria o menor sentido, não fosse o sino da Ave Maria pedindo nostalgia e relembrando a todos para se recolherem às meditações. A cidade se enroscava pelas vielas estreitas para tentar ganhar o firmamento e se esconder. Se davam estes bailados entre as nuvens querendo levar suas águas para chorarem mais perto de Deus, embora, para quem estivesse a procura só de acompanhar o tempo se desfazendo em passos lerdos e despreocupados, veriam silenciosos as formas mais graciosas de aconchegar à preguiça e sorver a solidão. Por ser o momento propício, embora tenham sido distribuídas gotas miúdas de prazer recolhidas nas entranhas da puberdade, não se ofereceu, como devido, explicação à maré montante obedecendo à ansiedade da lua. Recolheu-se cuidadosamente ao inconsciente solitário a mensagem guardada entre as melhores metáforas e, sem deixar o verbo se colorir de mágoa, cada um se pôs a procurar afetos pelos meandros esquecidos que o passado levara.
Sem ser de direito, pois, como era previsto, as notícias nascidas no regaço da dúvida se envolveram nas suavidades das brisas, mas chegaram envoltas em crisálidas antes mesmo de se enfeitarem de borboletas. Portanto, o mesmo amolador de facas encantou o destino espalhando pela rua deserta o tom grená do seu flautim afinado em melancolia e entoado em ré maior. O tempo se fez então presente entre os transeuntes, puxou consigo uma preguiça teimosa que se dispersava pelos paralelepípedos, escorregava mansa pelas calçadas e pelas mentiras mesmo como as lágrimas das chuvas preferem ao lavarem os pecados e encantarem os desejos.
Aproveitando o remanso do azul, o infinito distraiu-se a bolinar os delírios achegados, sem desmerecer as saudades, não se permitiu ouvir o silêncio da escuridão caindo metodicamente em ré maior camuflando as rimas do futuro desconhecido.
Ceflorence    28/08/18       email   cflorence.amabrasil@uol.com.br