segunda-feira, 14 de setembro de 2020

 EM CILÍBRIUM ED TAMUS PARADOXOS.

Cilíbrium, realmente confirmada por estimativas não confiáveis, mas contraditos com dados corretos indiscutíveis, embora não seja sintoma antropofágico ou substância inexata, mas se afigura detectável claramente sem garantia alguma de sua realidade, tanto que se discute a confirmação, se existe, existiu ou existirá. Opera com ou sem desequilíbrio racionalista mitológico para achar o ponto de equilíbrio perfeito do desajuste, determinado sem referência, inseguro quando sob a égide de estabilidade instável eternamente fixa. Memórias ancestrais, consideram alguns, Cilíbrium é sintaxe do cérebro em movimento parado a passos moderados de fuga desesperada, antagônico a si e totalmente seguro no imponderável. Indefinido ou não, conflitivo talvez, mas emocionalmente imutável, com dúvida absoluta nas suas certezas, embora com forte probabilidade de não ter se feito existir como se auto pretendia e sem saber se intentara-se ser ou não ser. Com absoluta exatidão e incerteza corretas reciprocas tudo que temos está claro sem definir para podermos continuar a seguir sem nos movermos. A esquerda de Cilíbrium decodifica mensagens para se tornarem incompreensíveis e a direita as entende antes de não as devolver afim de não serem aproveitadas como o são com completo sucesso sem realização. Sem esta ação, a lógica racional não se metamorfoseia em absurdo e o incompreensível não se transmuda ao encobrir a clareza para dar sentido ao cogito.

Mesmo deixando marcas indeléveis entre o enorme diminuto espaço inexistente, inerente à concretude da existência do nada e a indiscutível inconsistência do real, Cilíbrium enlouquece de forma sã. Ali em Cilíbrium, onde se insubordinam as metáforas e as alamedas gorjeiam fora de época, os pensamentos se despregam da imaginação para brincarem de libélulas e as desilusões são de aquários, pois se desentenderam com a quinta de Beethoven. Neste recanto o ser se faz esconder em ser, por ser e em ser comprovadamente por não ser quando é e sendo ser quando não é. Cilíbrium habita o humano, tanto que descuida cautelosamente em se realizar como amor sem afeto, chantagem com honestidade, navega com tranquilidade da orgulho humilde e usa lixo descartável para irritar o vizinho. Não é por sermos cilibriuminos que teremos condições de saber se somos, vivemos, usamos, estamos ou sofremos Cilibrium.

A escola dos arruados e nas corruptelas, mundo das simplórias e desassossegadas tranquilidades exibidas, denomina este emocional-país-estado-sapiens, dos cilibriuminos, como comezinha cabeça, arrisca nomeá-la de ideia ou extrapola para pensamento, põe uma virgula e vira cachola, concorda de ser mente, quando sofistica e por aí descarece parando de sondagens por necessitar. Sem nenhuma discrepância, salvo opiniões sobre sabores das cores ou aroma dos tatos, a passividade é intoleravelmente agressiva e oscila parada neste segmento. Na borda oposta do mesmo lado, acadêmica, as teorias ontológicas, científicas, filosóficas, poéticas, religiosas, tantas demais e outras, discordam alegremente iradas com as desordens mais regulares possíveis, humilhando Cilíbrium de forma gentil e gloriosa de cogito, consciente, cérebro, alma, inconsciente, talento, razão, espírito, emoção, consciência e chega, pois não para de não parar. As teorias todas concordam dialeticamente que Cilíbrium encanta pelo desapontamento ao se afinar na desarmonia. É como o cérebro se deprime euforicamente para conseguir ser em não sendo na pavorosa beleza da mudança imóvel que acelera de forma celebrumicamente incorreta com perfeição obscura.

Existência histórica grafada em aramaico, colhida entre estoicos, filhas de Ogunxãpé, engraxates e dos sefarditas registra que Cilibrium não acompanhou, mas perseguiu o ser

homem, infernizando a alegria de agredir pacificamente a sua ordem desorganizada sociológica, política e econômica, agredindo as pazes do conflito, seus raciocínios emocionais, desde que o sapiens homo foi se auto inventando, criado pelo sobrenatural, aparentemente no desconhecido do imaginário da natureza mãe que se transforma estacionada, talvez parido em fogo muito forte apagado por Comampari Grande ou brotou espontâneo no recanto paradoxal do azul, já ai nos arrabaldes românticos dos latifúndios poéticos do inexplicável, porém elucidado.

Intuitiva, mas empiricamente não comprovada cientificamente, não há a menor possibilidade de comprovar sua materialidade, pois não paira dúvida da efetividade espiritual, embora seja concreta e sólida sua existência duvidosa, que é fartamente confirmada sem comprovação. Cilíbrium se localiza exatamente onde não está e se situa sempre fora de onde se encontra. Captá-lo é tão fácil como impossível, basta procurar onde não está para acha-lo, pois ele estará aonde não se encontra. É assim que a nossa mente cilibriumínica não enxerga o objeto que estamos vendo permitindo assim revelá-lo em todo o seu momento que desaparece. A gangorra de cima sobe e a de baixo está na hora de fazer xixi. Não é efeito de semântica, mas em Cilíbrium o desconhecido é aparente e a escala dodecafônica só é escutada por quem é surdo.

O comportamento constante da região se fixa no transitório. É lindo este horror do conhecimento dessabido que enevoa as planícies montanhosas dos ventos parados que cavalgam a intranquilidade das pazes sanguinárias tranquilas de Cilibrium. No entanto, tridimensionalmente, sem clareza, mas indiscutível, queiramos ou não, nestas distantes proximidades se desacomodam sossegadamente a subjetividade objetiva, ódio afetivo, açafrão esquizofrênico, édipo natalino, inundação da seca, escargot freudiano, a última ceia inacabada, as demais racionalidades irracionais, incluindo todas as racionalizações do corpo da inexistência existencial.

Filosoficamente se filia Cibrílium à síntese perfeita das escolas materialista cigana com a cabala marxista. Resta confirmar a indispensabilidade deste estado emocional racionalista, pois sabe-se de antemão que é completamente inútil tanto como indispensável em meados do outono quando as jabuticabas brincam de joãozinho-e-maria e as mulheres gordas têm de pensar em como descer para o mais alto das árvores para engordarem até emagrecerem para viverem mortas. Esperamos ter chegado a uma inconclusão final do início, claramente enigmática, sem objetivo específico, e sobre o qual sequer possam pairar dúvidas inacabadas.

Cilíbrium tem o dom de vir a cirandar as mentes nas noites de afago entre Zodíaco e o eufemismo pelos quinhões dos ventos dos imaginários das Lagoas de Cainhanã para quem nunca conversou com Cunhabateê na Roda de Capoeira de Alpequinha e não sabe o que é ser objeto da alegria de escárnio, malícia ingênua, bulling saboroso ou perjuro sincero. Cilíbrium adentra pela parte inacessível, facilmente penetrável com resistência via o a rota sem caminho mais frágil intransponível da moleza intransponível da mente atenciosamente distraída e tem o dom de reverter desde o dessabor da paz da tormenta alegre até o vazio preenchido do raciocínio ilógico brilhante. Os Camafeus de Alcodon se comprazem em subir ao mais alto ponto de onde não descem para então atingirem as maiores alturas mínimas de Cibrílium.

Não se sabe se habitamos Cilíbrium ou Cilíbrium nos habita. A única certeza absoluta que transcorre parada em Cilíbrium é a garantia total de que a incerteza é a convicção mais certa, mas com todas as dúvidas. Acordamos em alfa, a frieira da orelha esquerda que tropicara sobre o nada irregular e ondulado plano sentiu vontade de ir à missa ou a luta de classe. O

cachorro miou para esclarecer detalhes sobre psicanálise ou o se o amendoim poderia ser prejudicial ao bem estar para se gratificar em sentir mal. Não houve mais nenhuma confusão ou tranquilidade, pois Cilíbrium expos com sua calma atabalhoada usual que a dentadura do estomago da defunta fora doada a instituição de aprendizagem para as crianças desprotegidas prestes a serem recuperadas para o tráfego de drogas do Padre Armaco.

Seria muito bem um treze de setembro honestamente larápio se a nuvem que passou mais cedo pedindo para todos gritarem calados - Silêncio ou Caramba – não tivesse descido ao subir pelo conhecido sem clareza de Cilíbrium, destroçando deliciosamente o meu cérebro apavorado na tranquilidade. Não deveria ter acordado para escutar o barulho da mudez ensurdecedora do pensar neste amanhecer que ocorrerá amanhã na noite de ontem.

Ceflorence São Paulo 13/09/20 e-mail carlos.florence@amabrasil.agr.br

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

 

SETE SEMÂNTICAS E SEUS CONTRASTES.               

Por onde começar? Era, recordo, véspera de malhação sabatina de Judas e estava precavido, pois no ano anterior fui surpreendido com a vizinha pendurando suas calcinhas na janela do cortiço para me provocar e as crianças quiseram me envolver no contexto. Descrevo sem subterfúgios os acontecidos, pois prefiro não reconsiderar a minha coerência lógica, mas explicá-la a quem tem dificuldade na assimilação. Talvez expondo com métrica e pronunciando acentuadamente as proparoxítonas as hipóteses das metáforas fiquem mais objetivas para vosmecê. Confesso, sem pejo, que a memória poderá falhar em alguns pontos por aceitar, sem precaução, como testemunhas duas falcatruas lésbicas e um artefato hipócrita desconhecido. Mas não alteram os pontos nevrálgicos e vamos objetivamente aos fatos que me obrigaram a rever se existiria sentido pragmático entre as ambivalências de concordar, isoladamente, com o projeto de incentivo à pesquisa para a aceleração da menopausa precoce ou optar pelo imperativo lúdico de desfrutar, com prudência, dos milagres minimalistas das orações gregorianas.

A academia não se pronunciou, em tese, pois houve um ponto especifico de inflexão sem que o jasmim, com tendência homofóbica, se declarasse comprometido com o porvir. Pelo ritmo da apoteose poderia surgir um fato novo ou seria a confirmação dos resultados práticos do que me empenhara há muito que se esclareceriam só com o tempo? Explico melhor, isto é, sequenciaria o contraditório da teoria da insuficiência da fé para conter o efeito das marés montantes no aleitamento do capricórnio ou garantiria, no sentido realmente tautológico, a probabilidade da certeza de ganhos permanentes em jogos de azar? Esclarecido ponhamo-nos a caminho.

 Embora de formas não heterodoxas eram estes os pensamentos que me acossavam durante o período que deixei a porta da Igreja do Barroquinho de Ancalás, andando pela Alameda da Vergália, até atravessar o Viaduto Urcão do Redentor. A alma de Zeferão da Zinca, que desencarnara com uma navalhada do capoeira Quebaldo Ruca no último outono, fez questão de me acompanhar até a porta do Grupo escolar Professor Tamberte. Ali constatei, sem dúvida, que a solução fora inconclusiva, como salientei, razão das crianças do jardim da infância se desajustarem alegremente, incorporarem Netuno e passarem a brincar de Santa Ceia e Pilatos. Lembrei que Rauâ, meu guru, não pontificara sobre estas hipérboles. Determinou ele não ser parte das gêneses de suas preocupações sobre o futuro, tanto como a megalomania e muito menos pontos aderentes ao Protocolo dos Sábios do Sião, que não o haviam comovido de forma alguma.

Neste sentido meu profeta reconfirmou estar em alfa, sem perspectivas de definir valores morais sobre métodos contra conceptivos para os gambás, frise-se, indiferentes, e pensando em retornar aos estudos de sânscrito como inspiração espiritual para a profilaxia da pesca não predatória. Sendo terreno espiritual conflitivo, entre a esquizofrenia e a previsibilidade dos tarôs para estimar a colheita de fantasias das ninfas de Albadén, optou ele por transferir o protocolo para uma Igreja Pentecostal Maronita e usar escalas jônicas nas suas partituras.

Mereceríamos repouso depois deste estafante trabalho de análise transacional. Meditei com toda prudência, embora constatando certo sentimento paranoico que a lagartixa do teto esquerdo da latrina imunda do Cortiço do Mandega, onde morava então, estivera, irritantemente, a me espionar, de forma agressiva, com ares de quem exigia certezas e valores absolutos sobre as interrogações canônicas dos milagres do Beato Alcadim e a garantia de que a imprevisibilidade crônica das tonalidades furta-cores do fim do veranico fossem poupadas do aborto obrigatório estatal. Precisaria frieza, sem entrar no mérito da questão, para resolver a equação imposta pela circunstância.

No hiato dei-me ao direito de decidir, convicto, que entre uma samambaia, ainda que imatura nos seus valores emocionais e um colibri a cirandar pela janela das minhas fantasias, por mim escancaradas para ele sugar as ansiedades e poupar os deleites, a melhor opção seria tangenciar a inclinação emocional da lua, àquela hora se desfazendo elegante entre duas nuvens caladas e a minha desilusão. Conclui que as propostas não se contradiriam, tanto que uma delicada fase rosada dos reflexos dos meus pensamentos sobre o espelho quebrado da parede sem reboque transcorreu suave, aguardando a brisa mansa regar meus sonhos.

Poderia vestir o pijama e dar-me ao direito do repouso depois destas exaustivas apreciações criteriosas sobre o imprevisível. No entanto escutei nítida, indiscutível, a insinuação irônica da luz forte de uma teoria materialista sobre a evolução das espécies. Esta, de forma pragmática, reluziu ainda mesmo sem ter tido oportunidade de menstruar pela tenra idade, sentar-se dialeticamente sob o cavaco de primeira linha do vizinho músico e expressar-se com um poema educado, suave, impúbere, procurando não uma solução do problema dodecafônico, mas, nas circunstâncias, optou pela paixão da sílfide da escala de fá. Desta forma o tempo propiciaria a procria de colcheias em bemóis e sustenidos em semicolcheias, além das pausas. O sonho seria, de ambos, somente ordenharem as libélulas e os arco-íris para amamentarem as adoradas criações.     

Não sucumbira eu até então, malgrado as incertezas. Descobri, incontinente, a partir daquele momento, que comandava o universo somente com meu equilíbrio emocional e o raciocínio lógico. Transmudava as suposições obedientes entrecortadas a meu bel prazer em formas longitudinais, provérbios instigantes, melodias irrefutáveis. Obrigava, altivo e senhorial, os movimentos calados a se transformarem em objetos e estes eu os estilhaçava em simples efeitos sonoros, desconsiderando, por último, interpretá-los, eu mesmo travestido em saltimbanco, em seus papeis de despedaçados remorsos humilhados de nada. Sentia a gloria beijar meus testículos como o fazem os colibris em suas fainas singelas.

Por fim, eu esculpia meticulosamente, a partir do fundo subjetivo das minhas elucubrações, eloquente eu, sempre auto centrado e só, como comandava a minha superioridade, e endeusava os restantes dos nadas, obedientes e inúteis, com os quais embalava as sensuais gotículas de orvalho descendo pela janela para refletir os afagos doces com que as minhas fantasias acarinhavam o próprio ego em seus seios maternais. Neste exato ponto do enredo, que eu compusera em minha euforia, senti a presença de Édipo passeando altivo e vingativo em meus meandros como se fosse mestre sala do inconsciente ou menestrel vegetariano.   

Se compensavam as suposições entre o instinto de maternidade e o arraigado espírito ontológico de prevaricação da classe abastada. Com estas colocações esclarecidas restaria encerrar a pauta evitando a prolixidade. Não havia realmente mais nenhuma dúvida oscilando entre as metáforas e as figuras de sintaxe, esperando-me depois daquela vírgula inútil antes do final do parágrafo. Era claramente visível, a intenção desta pontuação atrevida, como se tivesse a intenção de sujeitar-me à mesquinhez de alguma parábola ou propensa a convencer-me de que a aceitação do resultado do exame psiquiátrico me traria mais sentido pragmático.

Meu raciocínio, além de brilhante, era perfeito, assim conclui modestamente. Rememorei todos os detalhes. Volto aos fatos, para aclarar os acontecidos. Confirmo com saudades, como assistia enternecido, que há anos descia uma simbiose, em formação ainda, de melancolia com pé-de-moleque do outeiro de Rantaso, sempre que esta situação se plasmava. Era um alerta a figura da simbiose. Com isto posto, automaticamente, uma pétala fugidia do arco-íris se acomodava na parede da varanda onde o sol vinha descansar ao meu lado. Ali cantava o astro chamando a brisa para embalá-lo antes de se retirar para o poente. Eu o ouvia cerimonioso, sem interferir, nas suas cantilenas gostosas, longas, para não o perturbar.

Lembrei-me, isto é fundamental no contexto, que possuía ainda a mesma caneta Parker que fora de Jongoinho, meu avô. Por temperamento ou tradição estava a Parker relutante em anotar o que eu ordenava, mas os fonemas se comportavam dóceis e convencidos da necessidade de ocuparem os espaços vazios, ortogonais, disponíveis entre a indecisão das orientações metódicas que eu lhes impunha e um preconceito de gênero que atravessava o zodíaco sem solucionar suas incertezas psíquicas. O vão entre a demanda de carinho e a indefinição sobre a síntese metódica do pecado original foi suficientemente intransigente a ponto de propor-me conceitos conflituosos. Na dúvida não rejeitei nem considerei que o azul seria a cor preferida para ir a quermesse de Santa Ruíta. Sabia e, modestamente, aproveitei todos os conflitos, impondo-me penitências sucessivas para suportar metodicamente vários pleonasmos arrogantes e intransigentes durante a quaresma que se seguiu. A Parker foi extremamente compreensível neste período exaustivo. Não sei se me fiz claro, embora ela tenha desaparecido.

Não desisti, mesmo tendo seguido com olhar cativo o beija-flor à janela ao desviar-se da primeira camélia que se ofereceu, até ver nitidamente o vitral da sala ser cortado por uma cigarra ofegante pedindo para ser aproveitada como soneto alexandrino. Caso não ocorresse esta metamorfose monocromática, pediria eu ao Cônego Vicatinho escusas por não participar da comunhão dos abstêmios da sétima ceia na catedral em louvor ao imponderável. Mudei de espaço psicossomático e retornei ao Bar do Rigado onde o garçom limpou o silêncio, esclareceu que o tempo era uma questão de ponto de vista, metamorfoseou um subterfúgio em dó sustenido, fantasiou usar seu melhor pigarro para ser convincente ou trocaria as incertezas de que dispusera até então para confundir o futuro. Não me permitiu escolher entre um salmão sem tempero e uma moça vistosa que se sentou à mesa em frente ao caixa, com um decote delicado e atraente.

A partir deste instante não consegui atinar com alguns dos detalhes que me impuseram as circunstâncias. Não entendi porque o policial armado entrou pelas portas do fundo enquanto sua companheira, saindo de uma ambulância, moça até educada, ofereceu-me a camisa branca com tiras sobrando e que adoravam se entrelaçar dos meus quadris às costas, apalparem meus mamilos, beijarem-me até o pescoço. Gritei independência ou morte em homenagem a Tiradentes, pois me senti um ícone de mãos atadas, lindo como peça descomposta em pedra sabão pelo Aleijadinho nos outeiros das Gerais.

Me pus calmamente em tormentas e adjacências desmerecidas. Imagine eu, com o meu acervo intelectual e artístico de saltimbanco consagrado, poeta, instrutor de marimba e filho de Ogun Lele.  naquela postura de irreverência junto ao público que continuava sendo devorado pelos seus apetites incontidos, pratos circulando, garçons gritando, apogeu do destempero. Mas enfim dos males o menor, fez-se e faz-se o tempo. Daqui escrevo, este santuário de solidão, pois ouço agora, muito compreensível, só a angústia desta pobre jabuticabeira ao meu lado, que reservou em particulares sussurros a mim, a pouco, que não tem ideia do que fizeram com o mamoeiro geneticamente modificado, que a acompanhava apaixonado e de mãos dadas nos passeios das manhãs.

Acredita ela, agoniada, que uma ONG ambientalista o sequestrou. Escutei-a chorar, por último, enquanto a moça de branco e mandante, ciumenta da jabuticabeira que me acarinhava e apetecia, puxava-me pelas mãos e sugerindo a tomar pílula de sonhos ou dos delírios.

 

Ceflorence     01/09/20 -   E-mail:  carlos.florence@amabrasil.agr.br