quinta-feira, 18 de outubro de 2018


DEVANEIOS EM ACALANTOS
Propus-me, mas é bom declarar, antes dos flautins se oporem, por precaução, calmamente, a atravessar os ensejos, as tópicas e as metamorfoses. Se tal não se desse, como os destinos haviam previsto, os sete pássaros dos presságios que desenham o futuro sobre os infindos, não teriam se recusado a trazer seus cantos dolentes e, molemente enfeitiçados, esconderiam as tristezas entre as montantes marés antes de enfeitiçarem as tardes que os colibris preferem. Era, sem dúvida, o que de melhor sobrara depois que os sonhos foram recolhidos alegres entre as metáforas, os delírios e as censuras. Por se estar em plena safra de melancolia, a solidão pacata deixou suas marcas sobre a areia, mas muita indignada e com receio das ondas apagarem seus rastros para saborearem, discretamente, o que sobrara dos devaneios. Havia um cheiro acre de indefinição esparramado sobre as cores saltitantes. A solução foi postergada até que alguém sentisse desejo, carência e nostalgia. Mas, mesmo assim, repito que o domingo se fez sem trazer maiores anseios. Coisas antigas e atávicas, pois os que estavam sem certeza, dividiram os seus melhores desejos entre si na esperança que a penca de indefinição progredisse envolta em dúvidas e incertezas. Seria como conseguiriam aguardar a preguiça, sem se acabrunharem.
Se não estivesse prevenido teria me angustiado sobremaneira, pois duas fantasias eufóricas tentavam espreitar-me de soslaio por trás dos meus anseios. Coisas das paranoias indelicadas, que me assoberbam, em sendo domingos pares, insisto, quando os sinos timbrados não são ouvidos nem mesmo pelos mais fieis, pois as capelas preferem o silêncio e as crianças os regaços maternos. O improviso inesperado se arrastou pelas calçadas vazias sem deixar-me beijar, afetuosamente, a preguiça carinhosa a que me obrigo de habito, quando o grená do poente se adorna antes de esconder o sol e a saudade. E, ainda no mesmo tom dodecafônico que acalanta meus desejos e por não ter findo o domingo, aquele azul mais suave correu manso e moroso para os braços das nuvens mais baixas e se espalhou pelas rimas que os poetas trouxeram. Eram sete os desejos e não houve conflito, pois cada um se preparou para ficar somente com o que poderia carregar em seus sonhos.    
Conformei-me só depois que meus pensamentos vagarosos começaram a bolinar a nostalgia e as crianças preferiram saltar entre as brisas cortando o azul antes de se acomodar no infinito. Os pássaros dolentes retornaram aos seus aconchegos para acarinharem as crias, se esconderem das escuridões e conversarem com as almas. Não havia contrafeita, pois o tempo se entretinha em volteios calmos e delicados, mas entremeado por setes luas de ogum. Os provérbios estavam cismados e as angústias dispersas não conseguiam se acasalar sem alvoroços ao oferecerem alguma esperança. Por procedente, a solidão trouxe consigo o que restou com sabor de silêncio para alimentar os imaginários, os mitos e as fantasias.
Assim se deu, e não caberia nada além de esperar, entre dois cravos e uma esperança, como a vida nos ensina, suave e mansa, enquanto apreciamos a nostalgia trazer vagarosa o poente.        
Ceflorence             03/10/18       email   cflorence.amabrasil@uol.com.br  

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