terça-feira, 22 de junho de 2021

 

APOFÂNTICO

 

                Ao inapropriado capricho, há alguns dias, como saboreiam deuses, prometem camelôs e os menestréis divulgam, entremeou-se em meus descuidos e destino algo inusitado. Repito pela originalidade, tal sendo, enveredou incluso no contexto uma cisma esquizofrênica, irreverente, lado inverso à transferência analítica que impus à minha psicanalista lacaniana, tangendo certo resquício petulante de dúvida na própria raiz e, por mais estranho ainda, azul. A palavra impúbere surgiu consciente de forma espontânea e inusitada no momento, mas sem saber a procedência, racionalizei ao desconsiderá-la na circunstância. Sei que não é fácil apreender de improviso este introito, mas peço um gesto paciente, pois se justificará e envolve boa circularidade. No começo nem eu mesmo interpretei os fatos corretamente como mereceriam e merecerão.

Deu-se o ocorrido, retratado aqui em memória, na forma concreta de um dicionário ostensivo, incluso irônico, quiçá sarcástico, ao instigar-me indelicado, enfatizo a agressão para marcar a forte sensação de injustiça em minha autonomia e liberdade existencial. Apeteceu-lhe, visto que se deu inconteste, reafirmo só agora, embora ainda inconformado espargir em meu sossego andarilho ao acaso pela circunvizinhança habitual que transito não menos do que o vocábulo apofântico, como se o gracejo fosse um direito intempestivo seu, mas com claros objetivos insultantes do glossário. Saliento então, se fez este absurdo em minha terra natal, perambulando adjacências.

Desde o último ano notava já sintomas, quando a crise política, social, econômica e sanitária deflagou, que além de todas estas atividades levantadas também se indispuseram às rotinas tradicionais semânticas para confundirem os provérbios e as dialéticas. Portanto os objetos diretos não se encontravam mais harmônicos nas cadências em que os ordenei, os verbos transitivos perderam o sabor afrodisíaco e a Quinta de Beethoven foi minimizada, registros fundamentais estes para o entendimento. Não bastando, e no arremate, os sintomas das euforias coletivas em apoio aos protestos sociais, de todos os matizes, se tornaram mais resilientes, inexplicavelmente. Só poderiam ser premonições do adjetivo apofântico, impertinente, marchando contumaz sobre o futuro e que o dicionário nada mais fez do que impor e confirmar.

Agravou-se sobremaneira o remanescente, assim que os adjuntos adverbiais foram miscigenados com os atributos predicativos, tanto que a autonomia dos delírios subjetivos passou a infernizar-me o cotidiano. Meu confessor, Irmão Raumi Dorengo, Xamã Oriungutá, retornou ao sanatório preferido, abandonou-me na passeata da Paulista contra ou a favor da teoria da relatividade, talvez da evolução darwiniana, se não estiver enganado. Não bastando estes traumas vitais, irrompeu o apofântico filhote do dicionário com a mesma magnitude arrogante que os gregos o criaram para definir o indefinível.  Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo, Amém. Saravá. Apresentou-o in corpus.

E assim apofântico se alvorou permissível ao reflexo da imensidão da incongruência ou à síntese de tudo, pois pura e simplesmente expressa, simultaneamente, o falso e ou o verdadeiro, quando atribui juízo de um predicado a um sujeito. Repito, imagine, podendo ser falso ou verdadeiro e não estar envolvido em algum inquérito ambientalista, formação de seita nova com fins arrecadatórios ou até conjugação e escambo de informações pedófilas! Passou Dr. Arsério Ficus, aposentado delegado de polícia e relacionei as matérias aos milicianos. Não confortou, mas passei a aceitar o reforço do paradoxo já sobre o absurdo mesmo que ouça o canto ameno do coleirinha na madrugada. A partir de então pressenti que os significantes não mais refletiriam os significados, embora as meninas se deleitassem saltando amarelinha em frente as calçadas onde cruzei carregando convicto estas anotações, que recolhi para não tomarem sereno, a tiracolo e emprestá-las ao Vigário Liotéo Gobo.

Enquanto sim, se fazendo o entardecer, a brisa se distraia em melodias suaves dedilhando as palmeiras cirandando poesias e encantos. Um tom rosa encaminhou mais cedo para ocupar sua participação no poente informando que gostaria de atender o chamado do infinito antes de escurecer. Não intercedi e pensei tal qual seria acoplar o apofântico às imagens que nos definiam como ser único do cenário nos devorando entusiasmado do entardecer, entre o coleirinha, Paulista, gregos, adjunto adverbial, o dicionário, eu, e os demais a regermos o paradoxo e a esperança. Um sabor doce de demência veio nos acariciar em tons pastéis como Picasso usava nos detalhes sutis.

Havia espaço naquele momento para supor calmamente uma defloração tranquila e mágica. Dediquei-me sem remorso à fantasia aproveitando a vista da brisa percorrer suas intenções, a maré montante aconchegar carinhosa à janela da moça desconhecida, sem sequer me conceder seu esgarço. Para não deprimir lembrei que se fazia sábado. O papagaio do menino com os pés descalços prendeu-se na copa do pinheiro mais alto e ele o chamava de volta sussurrando afetuoso filho da puta no ouvido da linha que os deixavam imantados e atrelados juntos ao universo, ao sonho, ao infinito. O cosmos é interessante, indivisível, demente ou calhorda? perguntei ao calado atributo apofântico indiferente e mudo, pois o todo me pertencia e eu era o todo.

Não havia mais razão para melindres, angústias ou remorsos, apesar que tudo, pelo menos enquanto a facticidade comandava, se submetesse à lei da gravidade, ao império de Ayres invadindo o silêncio da menopausa de Vênus ou os colibris continuassem enfeitando a sutileza da simbiose com as flores deleitando a primavera. Confesso que pus em dúvida se retornaria ao assunto face a intensa revolta pessoal, ou adotaria um pleonasmo abandonado na orla da praia, a pedir donativos ou preces para sobreviver, mas jamais permitiria deixar o apofântico adjetivo morrer de inanição por desconsideração do dicionário.

O mundo dá voltas, conforme umas das frases mais originais proferidas raramente, mas conferi relutante que a primeira esquina à direita não me levaria além do nada. Tal se deu e mudei de posição, embora não tivesse mesmo a menor necessidade de por ali rumar, pois, repetindo, era sábado, as crianças tiveram aula de catecismo antes de se masturbarem, para poderem usar seus aplicativos depois e antes de serem obrigadas a tomar banho. Do desconhecido uma flauta se fazia brincar de dolência com as cores preferidas, as maritacas transportavam seus chilros destoantes para o alto da Serra do Merengo antes de deixá-los escorrer habilmente pelo vale que acomodava o Ribeiro da Guincha. Minha terra, saudade.  

Perguntei ao dicionário se esta seria uma situação apofântica, mas ele foi lacônico, assobiou um Bolero de Havel, se imiscuiu entre os carunchos das prateleiras conversando amenidades, se metamorfoseou em silogismo ou proselitismo, não identificável de antemão no ensejo, mas notei, mesmo como as andorinhas preferem antes de beliscarem sutis os mosquitos imperceptíveis nos silêncios azuis ao cair da tarde, que a resposta não seria sincera. Cena nostálgica da hora da Ave Maria das minhas recordações de infância se refizeram ao não segurar, com dolência e nostalgia, duas lágrimas distraídas sem contrição. 

Mudei a página para verificar se o entorno estava afinado em lá ou as crianças estariam somente se fazendo de alegres. O ser é muito interessante, somos nós que o fazemos, padecemos ou o sofremos. Meu confessor, Irmão Dorengo, e Platão não se afinaram nesta estrofe até utilizarem o materialismo histórico, o que não mudou nada na vida, puta merda, segundo a vidente Inhatã do Sumidourinho dos Alagados, a qual sigo e prescrevo. Fiquei em dúvida de como chegaram simultaneamente estes pensamentos perfeitamente lógicos e sincronizados ao meu raciocínio? Em resposta, e por isto mesmo, com muita segurança, tentei achar para o apofântico desiludido, uma rima medieval, gregoriana, mas todas haviam sido gastas nas promoções de marcas de sabão-em-pó.

A lassidão foi mais peremptória, nem titubeei, preferi o bandolim que estava empoeirado sobre o esquecimento há bastante tempo.  E ao desestimulo da rima com sabão-em-pó, executei Seresta para Duas Luas. Transgredi em fá em consequência, assunto prioritário para a meditação Ishua, pois é como dizem os cientistas; as moscas zunem nesta tonalidade. Por desespero, não me definiram se em sustenido ou bemol se dão os zunidos de todos os mosquitos da terra? O silêncio, no transcorrer andante, me permitiu enxergar enebriado uma melodia desconhecida descendo a ladeira com os telhados espionando a solidão como se fossem soluções para resguardo de homofobia, motivo para missa de sétimo dia ou carência de descarrego. Este o ambiente alegre circundante, em que me encontrava, minha terra, ali em Jaboatão do Candeio.

Cinilinha, meu sonho, saiu do cabelereiro, fingiu que não me viu, sabia que eu a desejava e seguiu por umas alamedas arborizadas, carregando minhas fantasias, marcando as calçadas com meus desejos, procurando algo melhor para ela se entreter com a tarde desfazendo no poente. Estas frases soltas, penso eu, reforçam minha atenção e saudades, mas só em conjunto, para coisas interligadas como o presente do subjuntivo, menopausa, minha pretensão em ser feliz e ainda o romance de Machado de Assis na cabeceira esperando ser lido há muito. Fatos fundamentais na minha vida naquele momento. Com este pensamento apofântico, verdadeiro ou falso como se expressa, continuei remanchando pelas ruelas vazias antes que o sol se escondesse.         

Atentei. Ah! Lembrei agora, fundamental incluir no contexto sido, o cachorro do Eráldio da Zefrinha, que selecionava amiúde poste eloquente, preferido, seguindo seu faro apurado, enquanto uma nuvem passante observava a alegria jovem enfeitar a Praça da Matriz, carreando as normalistas sorridentes. Provavelmente para se enfeitarem de missangas e fantasias para o baile do sábado que se faria vir. Baile no mesmo sábado, no mesmo clube, mesmo namorado, mesmo sonho, mesmo mesmo. Sem nenhuma petulância, as aleluias ainda definiriam se alvoroçariam suas revoadas antes ou depois da chuva. Aleluia tem este temperamento mágico; surge do inexistente, prolifera alegre pelo inusitado, brinca de bailado com pássaros que surgem do amém e some sem dizer adeus.

Um sol já sem sobrenome, pré-conceitos ou insistência titubeou escolher olhar alegre entre a reverência do Monsenhor Agipino Colato, seguindo ao mosteiro para ensaiar as gregorianas da missa do galo, e o humilde chafariz alterando enfeitar-se com as tonalidades do ocaso desfazendo manso, sem pressa, como determinava o Senhor. Consultei, sem resposta o mistério do anoitecer, como prescrevia Nhonhato Cura, muladeiro de profissão e cisma, que atentou ensinar-me a benzer berne e mal olhado, no tempo que eu não sabia o que era dicionário, muito menos apofântico e nem desconfiava que era feliz não só pelo pôr no sol. A reposta do mistério veio em sonho na madrugada, amolengado de cisuras, quebrantadas na indefinição e incógnitas mal terminadas, assim como cascavel no cio apreciando a presa tal qual o bote freudiano atazanando o inconsciente ou o Édipo no divã.

Não houve espaço para saborear os sorrisos de duas meninas procurando destinos ou sonhos, pois o apofântico, do dicionário, empertigado começou a demonstrar que gostaria de se entreter pelas calçadas, corridas, verdes, normalistas, brisas, deleitar jardim, mesmo como preferem as crianças alegres. Comecei a definir claramente a situação; as meninas atentei de forma clara, apofântica, tanto que não sabia se eram reais ou as imaginei e, assim, aproveitei para arguir se as pombas estariam satisfeitas com os restolhos das merendas que as crianças desfaziam pelo trajeto. De mãos dadas as jovens foram sendo sumidas pelo resto de silêncio que ainda consegui consultar, pois as carreava para suas esperanças semeadas para o baile, maquiagem, namorados, para a noite. Minha terra.

A revoada das aleluias trouxe reminiscências. As sombras esconderam o rubro do infinito para aninhar o sono do Senhor. Se fez hora de levar a saudade e o apofântico para o sossego. Confirmei, sábado sim, era, mas não dispôs se eu era antes, seria agora ou serei depois. Meu juízo escolheu trabalhar assim mesmo em escala dodecafônica. Mesmo como o caro delírio suave expressa, sempre sendo, que nunca me confessou a realidade ou o falso para não desiludir o ser do meu entorno e fingir que sou normal, acreditei que bastava. Algo morno e inconsciente nos levou ao inexplicável pelas mãos da dúvida. Nos conformamos.

Ceflorence     20/06/21      email  carlos.florence@amabrasil.agr.br      

quinta-feira, 6 de maio de 2021

 

ENTRE O IMPROPÉRIO E A MITOLOGIA

 

            Relato em contrapartida e mais convicto, sem constrangimentos agora, passados vários indefinidos percalços sob a sombra suave desta solidão, mesmo não tendo lábios de carmim, nem sífilis, vendo em réplica as gaivotas brincarem de fingir fugidias ao infinito e eu aqui, obsessivo, campeando o verbo espairecer para saborear delicadas metáforas envenenadas. Mastigo fiapos de nada e me inspiro. Fazia-se, insisto para não pairar dúvidas, um imiscuído indefinido intervalo emocional entre o eu e a promiscuidade. Sim, provocativa, plasmando-se procedente posteriormente, embora, até então, não sabia eu, ingênuo, porque esta hipótese de promiscuidade comparecesse com peso relevante na minha interminável psicanálise. Prossegui meditativo vendo pouca esperança em aproveitar o canto da palmeira acarinhando o encanto do pintassilgo.

Não intuí por que não seria de cunho nada minimalista, na circunstância, pois entre as sete andorinhas mimetizando delicados voos insubordinados sobre o imprevisto, modulados em escala de fá, e o mesmo sol que as acalantara por uma primavera inteira, deu-se de o porvir ser inconstante, embora inexorável? Esta inconstância passou a fazer parte de meu proselitismo mesmo quando, raramente, sóbrio.

Mas, para certa tranquilidade, permitiu-se ao andejar, o que se confirmou fundamental, aproveitar estes cenários entranhados nas poesias concretas, tanto tal também como com as paisagens expressionistas, antes de simularem-se findas as sinfonias efêmeras diárias que se desconstroem para oferecer o poente. Anotei o aroma sobre uma pequena amálgama de hipótese, para não desperdiçar os remanescentes dos subterfúgios das circunstâncias indefinidas disponíveis, e a moça passou segurando a mão da criança brincando de chutar as espumas menores para implicar com a maré. Assim restaria aceitar o se estender do provérbio para eu absorver melhor o transcorrer inefável do dia, ameigado pela preguiça e à rotina entre o amanhecer e o entardecer. Friso, por onde pasmo ainda agora meus devaneios acompanhando este desenrolar, esperando o nada procriar pequenos êxtases de madraçarias. Não havia incompatibilidade ou redundância, a meu ver, entre a promiscuidade e o meu eu indolente, mas ainda estavam estabelecendo limites e espaços confiáveis.

Configurou-se exato. Através do paradoxo ou da mitologia, sempre confundo, pois repete-se esta determinação do Criador para se refazer as circunstâncias do panorama eterno que insinua diariamente a reedição da morte solar. Isto me foi fundamental então. A fantasia seria minha, portanto, na dúvida, propus que a interrogação perdurasse por outra estação de recreio se a hipótese em incremento se transformasse em libertinagem ou imposições xenófobas. Naquele momento, resgataríamos se a origem analítica do fenômeno da libertinagem teria caráter genético, ambiental, fiduciário, preservacionista ou influência, quem diria, do cruzamento de Capricórnio com Aires em trânsito eventual pela Constelação de libra.

Voltava eu, inconscientemente, a pontos escolásticos ligados ao geocentrismo que levaram vários infiéis ao cadafalso por negarem aquilo que não fazia a menor diferença. Pois, com ou sem as alternativas em retrospectiva, a terra não se manifestou, mas também não parou de ter relações extraconjugais com o cosmos, os servos de gleba mal sobreviviam do que colhiam, o sol se movia em sentido horário e, em deferência ao inusitado, solicitei repetir a mesma marca de vinho. Senti-me gratificado e compartilhei com a tristeza, que viera me acompanhar como sempre naquele horário, o restante da garrafa.

Como percebi, este pensamento de confronto do verbo transitivo com a resultante da cabala em conluio com os princípios da metodologia vegana, jamais se esclareceu conscientemente, mas como se alternavam estas mesmas e ainda outras minúcias esquizoides posteriores, dei razão ao psiquiatra para dobrar a dose do psicotrópico. Mesmo preço de uma dúzia de garrafas de vinho, cartel filho da puta. Neste intervalo a promiscuidade e o ego já se intervinham um pouco melhor.  

Olhei a tristeza e não me lembro se verbalizei, menti ou supus – “são dados incontestáveis desde quando os deuses burilaram este universo gravitacional e materialista, embora inconsciente e espontâneo, face a que as opções da realidade eram mais simples, mas o raciocínio cartesiano foi se impondo cada vez mais ditatorial, presente e autoritário. Tanto que o cartesianismo estuprou a fantasia para destruir o amor, imperar sobre a dúvida sempre que havia discórdia, renegar o novo testamento e as cores passaram a ter funções psicossomáticas”. Justificava-se a conjetura, pois até então não havia eu atentado aos detalhes dos pardais entremeando o coreto se descompondo impregnado de nostalgia, onde uma senhora ouvia o chamado do além e conversava com Deus, ainda ali o chafariz enferrujado se desfazendo e abandonados se deram a ficar naquela ponta de praia amortalhada entre o silêncio e minhas insânias alvoroçadas.   

Deu-se em alfa as sequências e a posteridade não configurou mais os meus motivos que não eram só disfarçados, mas afetivos e ancestrais. Impus-me pausa para não continuar elucubrando como faço enquanto desenvolvo elipses conflituosas para elucidar se o que estou imaginando é fruto do meu consciente ou se a consciência elabora o que estou imaginando. Tenho, nesta ânsia, duas soluções, transcender a atenção para um ponto imaginário imponderável em um subjetivo aleatório entre o azul amedrontado e o manifesto comunista ou me consolo da demência restando cativado à flor do maracujá que me saudou ontem em silêncio. Na dúvida chamei o garçom. O eu se aproximou da promiscuidade sem tocá-la.    

Foram estes os argumentos com que a tristeza amena, amiga afetuosa, que me embala doce ao cair das tardes, aconchegara então à mesa que frequentava no Pontão do Procópio. Antecipo que os detalhes anteriores foram pontos de somenos no contexto que oferecerei. Não me senti confortado e tranquilo, embora uma das sete andorinhas tenha se recolhido mais cedo. Mas dispôs a tristeza, aleatoriamente, suave, a partir daquele momento marcante, sobre o tampo disponível, cada detalhe resgatado da bolsa de seus badulaques significantes que portava perene à tiracolo. Vieram seus atributos despejados sobre a mesa com a exigência precípua, sua, que atentasse eu somente ao aroma da fantasia, à acuidade do melindre, às cores da emoção.

Caso não me contagiasse peremptoriamente pelas oferendas portadas não seria impregnado da sutileza do encanto da incerteza, metamorfose da dúvida, do vazio espiritual. O álcool não faria mais efeito. Isto seria desumano, desalentador. Da embriaguez não compartilhada na intimidade com a tristeza, antes de chorar, se não lhe devotasse eu todo carinho e atenção, nasceriam provérbios inúteis, miasmas subversivos, discursos políticos, dividas, pregadores redentoristas. Repete-se esta cena inspirada na imensidão da suave demência com a qual me emociono sempre ao entardecer enquanto repito ordenar sistematicamente outra dose a ser sorvida em goles miúdos, na companhia da tristeza já alcoolizada, antes de me extasiar. O eu e a promiscuidade se acalmaram.

Lembro-me bem, parara de fumar na véspera, mas pedi só mais um maço, usaria dois e jogaria fora aquela porcaria de cigarros. Na medida que as peças das metáforas e encantos aforavam, tímidas ou alegres, enternecidas, medrosas, envergonhadas, desorientadas, a tristeza, imperativa, em seus desígnios de me enternecer em seus braços, olhou-me com a fisionomia complacente sabendo que eu não teria alternativa, se não a acatasse. Fui, tranquilo, sendo abscondido pelo fervor impregnado de delírio irrequieto da tristeza impositiva, olhos pasmados na sua impassividade, certo torpor, resto de medo atávico. Transcendi à infância, seios maternos, o ladrão embaixo da cama, infinito, o cavalo de pelúcia, reza para pedir perdão, a reza para pecar depois.   

Deixei-me entreter lento, voz pastosa, volvendo vistas à tristeza, ela pedindo para passar para o lado direito, pois gostaria de acompanhar o poente. Oscilei o pensamento para uma frase sem sentido prático, naquele momento pelo menos, por ser inoportuna, mas me deixei tangenciar por uma letra de samba canção que pincelava a textura suave do tema, por ser sábado, no qual poderia eu ter desejos e carências sexuais. A imaginação é fantástica. O vinho não era dos piores depois da sexta dose. Uma brisa calma trouxe recordações de Alita, que me abandonara no mês anterior, tanto que lembrei que teria de resgatar, na véspera, a penhora do relógio que fora de meu avô.

Só nos distraímos, a tristeza e eu, por vermos desprender da flor de maracujá, empenhada em ouvir o silêncio, um beija-flor à cata de seus existenciais, procriar ou nutrir-se. Deus caprichou no colibri enquanto rascunhava os demais imprevistos à beira do nada. Neste ponto tentei impor-me o pensamento mais formal e não dialogar com o surrealismo. Por favor, pedi, sem timidez mais, o terceiro ou quarto copo depois do último que parara de considerar necessário contar. A tristeza, impassível não se pronunciou. Fiquei orgulhoso.

Depositava ela seus portados em ordem de minúcias afetivas e por silogismos crescentes, insistindo para eu não me distrair pedindo, simultaneamente, vinho novamente. Ainda falávamos da importância do contexto das andorinhas em confronto com os paradigmas solares, quando a angústia chegou sorrateira de mãos dadas com o problema de cálculo integral acarinhando-a e observando a importância existencial do desabrochar da camélia em dia de finados. A equação não fechava, mas existia certa correlação poética com o mar morto.

A tristeza voltou a olhar-me na intimidade da alma, pediu mais vinho tinto para ela então, enquanto entonava quase imperceptível algo de Noel. Antes de se despedir e levar-me aos safanões pela calçada, sem perguntar-me, jogou, a tristeza, sobre a lambança dos seus búzios preferidos, um olho de cabra que sorria pela metade, um preconceito irreal recolhido em desavença com a Via Láctea, aquele exemplar estranho de sonho que não tinha envolvimento com o Complexo de Édipo, duas metamorfoses lésbicas de cigarras ainda encasuladas, fotografia do colibri que enfeitara o além antes das festas juninas, um saca-rolhas sem dente. Além disto, embora não considerasse búzio ou patuá, me fez alizar, para ir acostumando a conviver, uma réstia de melancolia, duas metades de saudades que não encaixavam. Mostrou ela ainda possuir três quartos de alguma substância fortuita para uso anticoncepcional ou remédio para mal olhado, mais o pedaço severo lascado de frustração para misturar com álcool antes da missa das seis. Jamais entendi para que, a missa. O ego viu-se impotente para assumir fantasia promíscua. 

Expos, em sua confusão simpática, mas destrutiva, a tristeza, os motivos porque se davam nossos encontros sempre ao entardecer e assim não atrapalhar a chegada da insônia, que não falhava jamais. Atribuiu à tristeza, então já ordenando mais um vinho tinto, a tranquilidade que pairou entre nós até enquanto aguardávamos a depressão chegar para entrelaçarmos nossos propósitos de ménage a trois. Não nos despedimos, convidei-as a dormir. Proibi-as de atender o insistente telefone, era do AA.

 

Ceflorence      São Paulo, 04/05/21     e-mail carlos.florence@amabrasil.agr.br

quinta-feira, 22 de abril de 2021

 

EGO MEU DONDE ESTÁS? EM FÁ SUSTENIDO, ABISTEL OU A FLOR DE LIZ NÃO BROTOU?

Paira-me até hoje a interrogação que se tal houvera em ré menor, poderia ter ocorrido da mesma forma que se deu na Constelação de Aires ou ainda com a brisa do sonho como melhor apetecesse? Mas não se deu e prossigo. Irrompe me perguntar de improviso se raciocino em grená após deleitar a quinta sinfonia ou o complexo de Édipo tem influência sobre a menopausa do esturjão? Este conflito saboroso, emulação, que aflora em sendo, me intriga eterno se é fruto da emoção, do consciente, vinho tinto, impudência, atração sexual, materialismo histórico, reciclagem de lixo, irresponsabilidade, reforma agrária, amor, imaginação, pré-conceito, não menos respeitável, inconsciente, saudades ou vontade de exibir-me. Como dilema eterno é emocional ou intelectual? Não tenho resposta, mas constato que por isto o meu último leitor sou eu e o abstrato silêncio. Mas impinjo-me seguir.

Fato e precaução como aviso. Não é afrodisíaco, mas também não suporta críticas pessoais, coletivos lotados ou ejaculações precoces estas melancolias ou paranoias. Dou conta da consciência, assustada ou vadia, ser a única própria consciência deste labirinto circular. Viver é muito perigoso, senha do meu mestre Guimarães. Poderia ter agradavelmente memorado esta cena inteirando-a entre um correr de casas modestas, flores nas jardineiras, violão à mão, intenção de serenata a ser dedicada à frustração, pois estava apaixonado, ou a melancolia ainda tentando se explicar por falta de hábito naquele se desfazer, fim de tarde, lábios do anoitecer. Senhor, ajudai-me, segure meus delírios ou peça ao garçom um vinho tinto.

Se ruborizaram piegas o sol e o poente ao se beijarem. Se fosse poeta colocaria esta delonga verbal, inútil, registre-se, para surtir efeito emocional sobre alguém imprudente, em um sorvete de marzipã ou ofereceria as palavras separadas, em ordem não alfabética, à professora em vez da maçã, sem pejo ou sorriso cínico. Devaneio, como proponho-me, é inútil na maior parte das vezes, mas muito interessante, perigoso outras, confuso sempre, irritante ou alegre, quiçá necessário, ainda pode se desafazer esvoaçante por desconhecidos imbróglios ou se assenta infernal como paranoia irresoluta sem reticências sobre o pedestal da arrogância.

E a reflexão, minha, permite-se portar com independência e altivez como tal maré que segue as determinações da lua e não tem a menor consciência de ser. De onde vem meu imaginar? Não obtenho retorno, mas é como prospero transtornar-me em infinitesimais deleites, curvas inacabadas, retas indecisas, desfigurações confusas. Não escolhi, brotam. No meu caso eu esbarro, não reclamo, mas tenho muito medo, embora disfarce com habilidade. Obrigo-me refletir como as coisas aleatórias surgidas no, ou melhor, do meu ego subalterno ao inconsciente, prestes a se enrolar nos delírios, como sempre, mas no momento escolhi, por não conseguir segurá-lo, a forma original das jabuticabas silvestres que se desmilinguem das próprias flores para se tornarem bolas e belas. Se não beijadas pelas abelhas, cismas, as aves, alguém apaixonado, talvez pobres

famintos, se desfazem murchas, tristes, desconhecidas. Enfim, me confundem desesperadamente estes pensamentos que tal jabuticabas se desfazem rapidamente sem saber por onde somem.

Assim perco-me ao dirimir e fingir que sou kardecista, intelectual de vanguarda, monge maoísta talvez ou em busca constante do eu. Meu vizinho Elpádio, instrutor de subserviência em uma fábrica de algo para alienação infantil, prefere cerveja gelada em copo de cristal com iscas de manjuba, enquanto imagina assistir seu time de futebol marcando gols e discute consigo mesmo por ser normal não escutar a metamorfose da crisalida em cigarra. É a crisalida que se metamorfoseia ou meu pensamento?

Por que fui inventado imaginante das situações nas direções inversas das escalas jônicas enquanto o colibri paira irredutível sobre o infinito até definir suas opções de destino, sobreviver ou procriar? A natureza é única, cria o beija flor por razões sublimes e os loucos para observá-los. Se eu não constato o voo puro da ave será que ela existiria? São as dúvidas do filosofo e do criador. Alguém já me desvelou intimamente que a natureza só se confirma porque a vemos, mas a confusão é mais agradável e naquele momento subiu uma brisa da maré dando sossego ao ego desalentado.

Porém o horizonte se preparou para acarinhar a luz do dia em seu regaço e volto a não ter consciência clara do que penso, não me concentrar no raciocínio correto, como deveria. Se existe correto? Seria sonho acordado ou distúrbio esquizoide? No aproximado do largo em frente, um sabiá cantou, irritado, para lembrar-me o compromisso à tarde de contas a pagar e telefonar para os pêsames a Lecália, que ficou viúva ontem de Acamôr, meu primo que morava em Caramoi da Água Funda. Abandono o talvez anterior por determinação da contingência e esqueço a demência por uns momentos. Tal teria acorrido, não recordo, no verão de Canacei, salvo se deu-se de forma embrionária nos tradicionais delicados correres de águas onde o verbo passivo apoita para dormitar estafado.

O eu, que sou eu e só, as vezes duvido, para não pairar suposição outra, não se incomodou com a voz passiva, pois intempestivo continuei a saltitar das indefinições para os pensamentos, destes para as figuras, passei à estrofe alexandrina, entremeei hipóteses sem confirmação, com isto, não poderia ser diferente, brotou ansiedade. Acalentei chegar a qualquer provérbio ou a uma situação definida e assim convencer-me que era normal minhas instabilidades emocionais. Nesta altura não sabia mais se era imaginação, desejo ou se o eu que fingia controlar a situação seria o mesmo eu que saboreava o caos esquizofrênico docemente em mim implantado. Tudo, repetia-se, embora, desta vez, ocorrera em Domingo de Ramos. Contei ao psiquiatra as angústias, que me mandou escolher entre Narciso e Édipo, torturou-me para confessar quantos anos eu teria quando vi minha mãe nua pela última vez e com que frequência eu assassinei meu pai enquanto me masturbava.

Entre as alternativas propostas tecnicamente perfeitas por ele, supus que adoraria escutar Noel Rosa em Feitio de Oração. Segurei uma perna do ego querendo escapar pelo silêncio, fingir que iria ler Ilíada e não criar nenhum vínculo com a realidade

ou transferência com o psiquiatra. Mas daí já chegara quinta feira e zodíaco cruzaria com aquários ao escurecer e não deveria ter nenhum receio de que a metamorfose da libélula me traria esperança ou pensar em subterfúgios para concluir que meu pensamento é independente. Não sei do que? Sem concluir, permaneceu a dicotomia; é do transtorno do meu próprio eu que me mistifico insanamente ou insanamente é a mistificação do transtorno que me constrói em este eu que não existe existindo?

Tentei apanhar as emoções dos movimentos do corpo meu ali perplexo. Não obtive sucesso, pois a alma discordou e me avisou ironicamente que este eu, do agora, não permaneceria o mesmo eu, o do amanhã, apesar de saber que o sol voltaria e a flor se desfaria do bulbo para prevalecer. Deixei o corpo, duvidoso, alma, instável, ungindo Descartes, pois Deus cansou-se destas discussões e se silenciou em um recanto escondido do eterno. Esgotado tentei não pensar, mas o pensamento não considerou significante. Pedi ao garçom uma garrafa de solidão como algo apropriado a ser bebido para iludir-me, como faço em tempos de meditação. Na falta de companhia e motivos, assento a mesma garrafa de solidão à beira do infinito. Não sei por que infinito, poderia encostar ao lado do Bolero de Havel ou de uma pule de corrida de cavalo já confirmada, mas me preparo como réu confesso para receber a sentença final.

O cutelo da depressão, dócil como veneno, suavemente desce sobre meus desejos. Tento recolhe-los despedaçados, correndo para os recantos dos meus imprevistos. A capela trás amena as badaladas dos meus anseios. Nunca sei quantas ainda faltam até o ego se extirpar para sempre. A paz não existe, mas, indiferente, ecoa, ecoa, ecoa, de um imaginário irrequieto que jamais contenho. Fecho o caderno, guardo a caneta. Lacrimejo um sorriso. Despeço-me de mim para entrar na minha esquizofrenia.

Ceflorence 21/04/21 - e-mail - carlos.florence@amabrasil.agr.br

 

quinta-feira, 4 de março de 2021

 

ADENDOS A OUTRAS MINÚCIAS IMPERTINENTES DO EXISTIR EM COGITO

 

            Certo sonido sexual impúbere, imagino azul ou da linha de Ogum, ousava, insisto, ainda em sustenido, atravessou contra a mão o subjetivo que vestia eu em compasso de sublimação e se dispôs, petulante, com sua irreverência, a irromper altivo pelos meus meandros afetivos. Surpreendeu-me desprevenido na sua forma contumaz, algoz, já plasmando confortavelmente em meu ego. Nunca sei se insinuava-se invadir pela alma pré-disposta ou pelo cerebelo, talvez através da consciência, supunha, aliás, pelo espírito, quiçá distorcendo o inconsciente, talvez, quem saberia, via mente ou materializar-se-ia em dia de gala e alcançaria pelos meandros dos apegos, sub-repticiamente, entranhando pelo olfato, olhar, amor, pela ânsia, usurpando algo como o além ou sorrateiramente pela porta dos fundos. Eu era, um éramos, completamente perdido.

Sei que transcendo sem recatos em tais momentos, mas explicito melhor, com muita calma, pois antecipo que, por neófito em rituais exotéricos ser, também não tenho a menor hipótese dos motos pelos quais tais se repetem. Ocorre, amiúde, em sendo sempre o primeiro introito às minhas divagações alienadas, às vezes festivas, persecutórias inclusas, este ribombar de ruído sexual que antecipa os porvires outros.

Neste confronto diário dos bêbados convencionais, que milito, sou, praticamente, o único melhor dotado em tal estágio avançado de insânia perspicaz, embora estejam outros se aprimorando com cores indefinidas ainda, mas promissoras. Por oportuno, registro, vejo de um ponto neutro entre o mar e minha meta uma gaivota revoar sinuosa para estimular a própria incongruência do eu que acho ser existir. Ao se permitir bailar sobre o azul e as ondas, deixa o rastro do invisível sobre o inexplicável antes de esconder-se na minha memória. Sou eu que me faço ser esta presença de deixar a gaivota existir porque a deslumbro em seu esplendor e me apodero do mundo ou a gaivota destrói minhas megalomanias debochando do meu subjetivo? 

Especularia o que Picasso afloraria deste transe cubista? Recolhi o som ameno do voo da gaivota para explorar corretamente em uma inutilidade ocasional posterior que o infinito pede amiúde. Assim sinto que sofro, logo existo, plagiando a metáfora. Quando confesso que desespero no acompanhar esta forma labiríntica do endoidecer sobre o próprio pensar, meu padrinho, Ogolunmalé Aru, prioriza-me um passe por Iemanjá e se encarna em seguida no seu Pai Cainhoatã, esvoaça primoroso pelos hipnóticos castigos dos atabaques e ganzás sagrados e me abandona ao léu. Eu me reconforto até o próximo desespero. Aché.       

Enquanto o recebia, ruído contumaz, com outras sintonias pessoais, que me enlevavam alegres ou conflituosas à irrealidade deleitosa, pedi um copo de vinho, meia porta aberta ao subjetivo para dissimular a claustrofobia, mais uma fatia significativa de tempo com preguiça, suficientes e aos pontos de maturações para alimentarem o nada. Tudo, creio, oportuno, considerando as variantes mutáveis expressas e adequadas ao contexto de desvario que eu perseguia. O dia se fazia seguir acompanhando as malemolências e as constâncias das marés para obedecerem aos ditames das luas e dos videntes. Continuei sem saber o que era maré ou o que não era eu para apreciar saborear o porvir. Atino calado, mas não escuto o silêncio perguntar se sou eu que semeio estes delírios para rebrotarem no meu absurdo ou o todo se veste de seu nada preferido, tão simples, para só deixar a brisa mansa se dar a lavar as águas das areias brancas e me ensinar o belo? A gaivota retornou melindrosa para revoar delicada sobre seu sumiço e me liberou a memória para outras demências. São estas poucas superposições que me encantam e jamais se explicam porque depois aflora a psicose.  

Com estes antanhos demarcados, os demais aderentes, sonhos, fantasias, emoções, gaivotas, tristezas, dúvidas, marés seguiram aconchegando ao meu átrio, bebida farta, euforias e espontaneidades incontroláveis, como meus delírios preferem ao conclamar a entropia psicótica do irreconciliável. Confabulam entre si com metáforas sutis, difusas, persecutórias, bipolaridades que eu desfio para mim como se desejasse encontrar o amém ou o infinito.

É inacreditável, as insânias se interdependem, ajustam, confabulam, interpolam, sonegam, mas não explicam ao meu desespero. Abdico, cedo então ao evento e componho vivas aos convivas achegados pelos meandros dos imponderáveis, incontrolados que se assentam nas controvérsias da tábula rasa que vai sendo ocupada. Em transe existencial eterno sou eu jamais não sendo, nunca provenho, pois represento ao infinito os comandos dos conflitos que me subordinam. Sofro ou me preparo para o orgasmo?   

Mesa suficientemente extensa para acomodar a tristeza na cabeceira oposta, ficando o ciúme, modesto, na lateral a direita, depois do perdão, mas antes da ironia. A perene aflição sexual acomodou-se, ansiosa, entremeio a atração e a censura impondo certa dicotomia existencial à angústia a ponto de esta exigir seu espaço ao lado da solidão e pretendendo envolver no abraço a depressão que ocupava lugar de honra no cenário. Éramos um eu indiscutível e soberbo no palco do teatro em absurdo representando as multiplicações dos eus infinitos que eu éramos sem ser. Até então tentei chorar um sorriso, mas a indecisão solicitou mais uma rodada de vinho.

Os algoritmos se colocaram em um bailado delicado deixando o azul fluir para a depressão já se estendendo mais acinzentada antes de enveredar pelas paredes escorregadias e sujas do meu cérebro. Silêncio, tanto que os devaneios e olhares fugiram pelas janelas para buscarem, nos desconhecidos das censuras inconscientes, as imaginações para serem servidas às fantasias lépidas entre os meandros irrequietos das ideias. As ondas foram comparsas nestas alegorias e deixei o horizonte cavalgar minhas fantasias. Sou o executor das tarefas e mensagens dos desejos, anseios e traumas sem ter sequer o prover das decisões, submisso sofro. Comandam-me, não comando jamais. Escuto a solidão da maré montante invejar a gaivota oscilar sobre o marulho das espumas nas pedras caladas para brincarem de dúvidas. Real ou existe algo além da demência a me acalantar?  O vinho não é de todo mal.

Meus sonhos se transformaram em visões para estas se permitirem de mãos dadas com o medo, a vontade, saudade, a ânsia, sigilo, a premonição, masoquismo cirandarem eufóricos ora com a angústia, depois com a euforia, por fim com o arrependimento. Pasmo, a benção de meu padrinho caiu sobre a angústia e sem recatos procurou a nostalgia mais próxima para se bolinarem. Eram independentes e espontâneas as emoções, mas não me permitiam fruir suas intenções e procedimentos. Executava as determinações, exercia, competente, como me restava, para não entrar em metamorfose esquizofrênica. A porta da capela bateu, com o vento, por não escutar mais os meus anseios.     

            Acompanhava estes momentos irreconciliáveis de distúrbios desacomodados e jubilosos do meu interior mental, enquanto discutia os motivos descabidos com a paranoia mais afetiva sobre a frustração do último amor. Conversávamos entrelaçados, debruçados sobre a toalha de utopia disposta pelo meu delírio se fazendo estender do imponderável até às mudanças furta-cores que se permitiam entardecer encantando as metamorfoses e os grenás poentes. Fixo o copo translúcido para enxergar o aroma indefinido da nostalgia. Corriam estes coloridos em danças e metáforas dodecafônicas, esbeltas, efêmeras como o amor que se imagina eterno, brincando de rouba-montinho com a decepção e os meus tropeços de auto análise.

Assim, abertamente, ao me emocionar alcoolizado, acredito-me já com toda fé que este meu raciocínio intempestivo, brilhante, babélico, é, além de correto, inútil, perfeito, incompleto, mas insinuante para o meu ego estéril, brilhante, egocêntrico. Percorro os patamares Junguianos na busca de captar nos lençóis freáticos das minhas fobias e preconceitos, camadas que ainda não haviam sido perfuradas para reformular estes paradoxos. Em vão, a gaivota envolvida em uma película de nada arrasta meu olhar pensante para uma ilha deserta em que gostaria de ser enterrado ou parido novamente. Soberbo, estacionou o ruído na adjacência frontal do meu inconsciente despreparado e imaturo, sem respeito as regras existenciais e, portanto, antes mesmo de embriagar-me ou encarnar algo apropriado à incongruência. Preparo-me para ouvir a implosão do nada que sempre me acalanta. Poderia ter-me recolhido em recato, mas um talvez se interpôs entre o pretérito e o desejo. Apavoro-me, pelo amor de .... oh! Deus.  

Do oposto, em uma latitude azul transversal, não mais do que dois sorrisos antes de uma memória ainda engatinhando, um colibri delicado, sensibilizou-se com minha tristeza em dúvida e sugou com primor meus delírios para escondê-los entre umas pétalas de fantasias. Sentei-me, após mudar, no outro canto, o esquerdo, da mesa, ao lado da solidão, pedindo outro copo de bebida. Aguardei meu paradoxo confabular com o desejo o que determinariam fazermos. O mar chamou ao sol para se recolherem e eu permiti. A gaivota não comentou o princípio da lei da aptidão ou do mais forte para a sobrevivência da espécie. Coisas do materialismo histórico que detesto.

Não poderia saber de mim. Sendo tal não percebi se haveria alguma simbologia envolvendo-me neste enigma da gaivota brincando de maré ao pôr do sol embora a concretude do delírio mantivesse suaves contornos cubistas. Premuni que jamais entenderia meus anseios enquanto não definisse se a gaivota estranha exibiria às minhas alienações antes de revoar para seus infinitos distantes levando meus distúrbios. Ocorreu-me se existiria ela realmente só para incrementar minhas controvérsias flutuando com as marés? O vinho não respondeu. Senti agradável este enlevo que não levava a nada, mas não contradizia a brisa suave a montante.

 As sanhas macias das alucinações foram se ajustando pelos meandros e acalantos do pensar com tendência até a algum repouso. Pude sentir o delicioso sabor acre de que estava vivo sem saber para que? Veio novo copo de vinho. Mandei fechar a porta claustrofóbica para sentir como seria vestir o caixão que me destinaria ao nada.

Apreciei, afetuoso, o ruido sexual deixando o silêncio ensinar-me a morrer como se fosse quase para sempre. Adorei o aroma de uma memória antiga, conflitiva, mas de um amor a mais que se frustrara como outros na eterna indecisão que carreguei pelo sempre. Ao experimentar morrer me recebeu à porta dos devaneios uma tranquilidade que nunca existiu e me ensinou a chorar.  

 

Ceflorence         São Paulo - 02/03/21  e-mail carlos.florence@amabrasil.agr.br    

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

 

ANATOMIA DA SOLIDÃO EM RÉ MAIOR D’ANTANHO. 

 

                De porcelana o gato olhava tristonho, meditava azul sobre a mesa.

                Partilhavam, competia ao relógio reger a preguiça atrasando pontualmente.

                Cainha, prima, para pecar anoitando, espero, se Deus quiser, reza.

                Tempos e tantos se marcavam pelo trem que avisaria à Vila assim, no repente.

                Dois adverbiais, lentos, jogavam paciência nas mãos das minhas avós.

                Mãe Dina fritava iscas de angústias antigas, calma, delicada, sem pressa.

                Dentes escovados, sino das seis propôs, sono, resguardo, regados cravos.

                Convido Cainha para visitar a bica, a boca, bolina, o beijo, anseios.

                Escureceu. Uma nuvem queria brincar de garoa, amém, desmotivou.

                Nos demos, sem cismas pelas ramas as mãos, eu o regalo, ela os seios.

                O silêncio chamou o carinho, o carinho o motivo, o motivo enfeitiçou.

                Cerra-se o portão da frente, quem chegou se deu, quem não, restou. 

                E por ser, sol, se despedia em furta-cores para deixar dormir motes e cantos.

                Lembro, faço-me choro, foi-se. O futuro inútil sumira graças ao então delicioso.

                Corria um riacho, entre os desejos, ao fundo a bica, o pequi, tais e encantos.

                O porvir escondíamos nos menosprezos, era fútil, melhor o ali, caia moroso.

                Atento, o galo, muito nosso, se fazia de alerta quando a intromissão surgia.

                Mãos, lábios, sonhos subiam pelos silêncios e corpos, bem nos quer, a sós.

                O sotaque mal afinado de um violão destoa, sei onde não, solfeja agonia.

                Venta Noroeste para a estrela candente espionar o ouvir do que fazemos nós.

                Caminho, frente, trota o atraso acavalado do tropeiro ao sem rumo ou motivo.

                Presto atento, riacho brinca de salta-mula, assim marulho as pontas dos seios.

                Sumimo-nos de dois ao sermos só um se dar, o restado foge no embora altivo.

O galo avisa que sombras saem do sobrado às catas nossas pelos entremeios.

Mãe Dina campeia-nos sumiços, trevas, suas velas, trovas, preces, chamas.

Fugimos pelo desejo, lado oposto, disfarçamos delongas com a realidade.

Havia só o por ser sendo, pois o tempo não semeava tristeza ou dramas.  

Ânsia cala, vontades quietam, somem os seios, para só ver amanhã, risonho.

O curiango estica pelo além, Cainha, acha a porta da cozinha, eu uso a saudade.

Intuía tudo Mãe Dina, sorri ao galo para acalentar seu atino do nosso sonho.

Tempo deu-se a me esgarçar passados, a não ensinar esquecer. Tal choro

                                 Ah! Deus; adeus. Digo, doido, doído ou oro?       

 

 

                Ceflorence -  Joanópolis - 16/02/21    e-mail carlos.florence@amabrasil.agr.br

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

           POR NO GRÁFICO EM DÓ MAIOR COM OUTROS DESAFOROS E ENTROPIAS.

 

Desde sempre, em que gente me fui por sendo, não prospero acompanhar os pensamentos próprios que me infernizam, saltitam. Aferem e pontuam, em vez do explicito, paradoxos pensantes em colcheias dodecafônicas, pererês-sacis como, tresandados e minúcias artimanhas preparadas em alquímicas mentais que se fazem desacopladas, desfeitas ou prematuras, sem que eu entenda o porquê de se darem a se dar. Tudo embola enrolando os ajuntados no voo furtivo mesclado de demências, minhas e em que quando vejo já o era, adeus. Sei que não é fácil entender, pois para mim é impossível, mas no cangote, como de touro xucro, me excita, apavora, fecunda, implode. Quando devaneio neste vento pela popa em brios e solidões, como agora, acordo sim, e já me fui ao orgasmo do indelével sem sentidos e estou pensando o que não queria pensar e não penso o que desejava. Ontem estava eu hoje fantasiando pedir desculpas pelo que não havia cometido e hoje estou matutando e corrigindo a estupidez que ontem cometi de verdade.   

O galopar das minhas imaginações são donas absolutas das estrofes redomonas das prerrogativas do cavaleiro que me pretendo. Sou o que não penso e penso o que não sou. Não ria, ajude-me. Ele, pensar, me dirige, estupra, abusa. E transitam as ideias do meu cosmos emocional caleidoscópico, garimpando detalhes de pepitas fúteis entre sermões ininteligíveis, íntimos, do meu inconsciente fóbico até a esperança de andar nu em Paris ou transcender ao infinito como Monge Cartuxo nos Alpes. É como me descambo em ser um raciocino bruto, sem lapidar, para tentar conseguir esclarecer, sem explicar. Ainda assim sempre perdurou certa dose de petulância por eu pensar que medito o incompreensível do explicável. Impávido idiota, promulgo, prospero, falho sempre. Resta-me, assim, o amém, ermo.

Mentiroso, cínico, um tanto estroina, finjo entender-me e comandar, mas qual o que. Mas isto é detalhe de conversa só com a alma adoidada do fígado meu que nunca escuta as doze badaladas para se desencantar ao ludibriar o caos. Para concluir, não param estes refluxos endiabrados, a título de se dizer pensar, sem começos, mas principiam pelo fim do meu delírio previsto sem sentidos, de preferência por fingir segurança, até sem mais marcas na memória a se fazerem acarinhar, encerrando pelo absurdo predileto que é sonhar acordado, bolinar o inatingível ou mesclar as cores amarelas, azuis e vermelhas que se confundem para sumirem ou brincarem de arco-íris quando agitadas. Desmioladas estas tessituras intimas, dentro destas entropias, põem-me a arrastar para a delícia imponderável ou para o inferno sofrer, onde me perco para sempre nas ideias soltas.

Não atracam, os conceitos, depois de partidos como naus-sem-rumo, sem portos tidos ou tais vezes, para as fantasias que crio, pois transcendem pelas hipérboles imprevisíveis e nem se dão a acostar sequer em algum impenetrável. Tudo então que fique muito claro, para que eu não entenda nada ou continue a chorar. Macon, meu vizinho e parceiro de cachaça, nem ameia há muito o pretérito destas esquizoides inconveniências, acho eu, mas tanto também que nunca desbraguei perguntar. Ele amorfa calado, sem apaziguar mesmo se houvesse uma sutil metamorfose gravida sendo infiltrada em seus desejos carnais e seria capaz de enxamear comigo pelos desnecessários. Calo-me como tanto não escuto, pois não perguntei e assim o advérbio de modo tornou-se peça de antiquário e outras demências afrodisíacas que procrio.

Relembro que estou só falando da reflexão, minha. Mastigo de boca aberta, babando, um pedaço de esperança com dúvida para ver se alguém me acompanha, segue e ou entende como igual. Quem dera. Mas considero que sou normal e outros até me tratam meio assim, ou quase, pois não ouvem meus ruminantes símbolos da cabeça assemelhados a uns pares de roupas velhas que bailam, sem procederes ou rotinas, ficando penduradas em um aleatório inexplicável para eu escutar o som de suas cores sem certeza de que me entenderei comigo antes da alma se despedir. Minto? Para quem? Lógico, só a mim. Azul ou trinca de azes vem à cabeça? Por que? Todos me desconsideram, me engano ao verberar que me faço entender. O além se aproxima covarde e traiçoeiro, sequer percebo ou creio, tanto que a sinfonia se tornou inacabada. Escuto o silêncio, ninguém me concede e nem faz sinal para o desvario parar na primeira volta depois da esquina das paralelas pedindo infinitesimais inacabamentos, sofreguidões, antes do nada e eu saltarmos de mãos dadas no vácuo. Pergunto, místico ou alegre, mas como os verbos são mais indecorosos na voz passiva fica melhor abordar o tema com certa relatividade imponderável quântica. Deus me acuda.

A vida, a que eu não pedi para me enloucar em suas entranhas, é mais voltada ao incompreensível, anotei, e um dia morrerei, mas no momento não dá para descer e andar por outras sarjetas tão tropeçadas ou desconhecidas, pois o inexplicável, ainda mais robusto, virá pela retaguarda para me atropelar sorrindo em delírios e solfejos guturais. Peço socorro ao ser, ao consciente, infinito, ao psiquiatra, à mulher grávida, ao faminto que se desarticula com seu desatino, profecia e obrigação de viver, ao dentista, bem como ao engraxate, plataforma do metrô atopetada, mutirão de angústias, aos desatinos. Estendo ainda o interrogar ao coitado que carrega a compra do que sobrou do salário, à criança que morreu de desinteria no cortiço da rua sem esgoto, para uma vela vermelha de Ogum, acesa para enfeitar a superstição ou a mentira, à boa ou má fé, à dúvida da encruzilhada, pão nosso de cada dia que não sei se ganharei jamais. Chega.

 Estes simbólicos desencantados somem pelas entranhas do meu pensamento com a mesma porosidade com que eu os crio. Não crês? Sofro ou deliro? Escuto, por hábito ou descuido, a fêmea entrar no cio e eu a desejar, mas ela me enxota. Mereço, logo penso, assim insisto ou desisto? Existo ou penso? Puta merda. Pois só sei que o beija-flor e o Pandêncio, casado com a filha do monsenhor, não se preocupam com estas estrofes minimalistas. Um por ser de sina amorosa pescadora ao ver o rio se estreitar para o além, carregar suas fantasias e aquecer as preguiças e o colibri por delicadeza de mascar o imponderável do invisível entre os perfumes abstratos da sutileza. Pois veja, é assim que a mente escapa para o lado mais incisivo do azul e fica encantada com o choro infantil ensinando a mãe a amá-lo para aliviar os seios e não o descartar do Complexo de Édipo e adjacências. Freud deveria ter criado o complexo com adjacências. Nunca entendi, por que não o fez? Isto tudo me veio surdinado, de forma muito inútil para eu tirar o melhor proveito, quando acompanhei um dia em Carepá das Agruras os eventos miúdos escalando as paredes preguiçosas dos casarios centenários vendo os melindres furtivos olhando por trás das janelas que se recusavam a mentir. Conto, reconto, mesmo a tal não chego satisfeito ao definitivo ou ao recado, mas lanço:

Bem assim se foi como deu-se, por não serem santas nem mundanas, embora o azul estivesse em sintonia com o imprevisível dos astros, eram sete as moças casadoiras, lembranças ficaram. A missa fazia-se começar e uma solidão, sem más intenções ou preconceitos religiosos, atravessou a rua subindo no sentido da esperança para encontrar uma senhora pedindo esmola no sopé da escada da Matriz. Não conseguiu ajudá-la, não obstante o sacristão tenha mandado todos se sentarem para compartilharem a solidariedade. As sete moças casadoiras comungaram uma só vez para repor pequenos desejos com os quais iriam infringir a meia virgindade na semana do carnaval. Olhei pela janela e uma mosca mal informada batia-se ao vidro à cata de seu destino entre umas mangas podres caídas ao acaso na calçada fronteira ou morrer no bico de um sabiá, sem metodologia ou preconceito darwinista, tentando seduzi-la.   

Encantei- me com a mosca ansiosa e hesitada em seus dilemas existenciais. Sabia manter as asas delicadamente sincopadas entre uma angústia ainda em formação, bipolar, atazanando o vidro que impedia seus desejos. Ocorreu-me, inclusive, se o vidro teria também tanto o desejo de atazana-la, sadicamente, para tentar uma ejaculação vitral. Metaforicamente esta dialética ocorreu-me no momento, pois trazia como ponto central esta única opção que ofereci e que poderia, fatalmente, sem dúvida, descambar em fatalidade. Como poderia eu dialogar com a exuberância e prepotência do vidro que, indiferente, ironizava a mosca perplexa clamando pelo seu existir em outro abstrato preferido de seu imponderável e futuro.

Mas volto à cabeça idiota para perguntar-me, sem ter resposta, se estes manejos envidraçados do proceder mosqueado entretecido de volteios belos, mas inexplicáveis, estas altivezes melodramáticas da mosca atormentada e atormentando, este vidro prepotente e submisso, são obras reais da criação e da criatura ou desta mente tresloucada que carrego e acredita que existe por que penso, sem me informar se sou a coisa ou o imaginário é que me é? Drama existencial implantado.

Fiz uma análise regressiva de desejos, sublimei dois preconceitos entrosados de linhas lacanianas e kardecistas de um inexplicável passado da complexidade da transferência psicológica e cuja alma, simultaneamente, teve a ousadia de reencarnar como mosca, com a devida perda da memória e das motivações sexuais mais sofisticadas humanoides. Talvez fosse a solução cartesiana mais factível, pois a alma não morre, transmuda de matéria e corpos pelos aléns dos infinitos.

Nisto, o sermão da igreja, voltando ao sopé da escadaria da pedinte, constatou que o demônio fora instruído para ocupar os corpos dos porcos e liberar os loucos para serem aproveitados só mais tarde pela escravidão, pelas cruzes, catecismo, depois pela inquisição e por último pela imprensa livre, a novela e o celular. Voltei a minha existência sadomasoquista, onde a esperança da espiritualização reencarnada da mosca liberta sobre o futuro inexplicável do vidro sádico teria a potência de desestabilizar o infinito, pois eu não teria com que me entreter mais e ficaria deprimido. Como cheguei a este ponto contornando meus delírios, duvidando de meus raciocínios, tomando este café requentado, horroroso, da estação do trem e perguntando; “penso, logo existo, para que existo? Basta, atinei, pensei ou desisti?”

O trem deu sinal de partida e o adeus não conseguiu chegar nas pontas dos pés de uma moça chorando por ......... (a palavra fugiu).  Os moços se enfeitaram de absurdos, o vento pediu aos telhados e aos silêncios um minuto de loucura para o nada se instalar na minha mente à cata de suas entropias. Corri atrás do meu raciocínio que os lixeiros, enganados, jogaram na caçamba do caminhão. Pedi mais uma pinga, que alegria, estou livre, nunca fizeram falta mesmo as ideias atrapalhadas que sempre foram lixos.

Sábado é dia de ........esqueci! Ainda bem. Livre dos compromissos, dos sisos e dos omissos, suicidei-me.

Ceflorence       São Paulo     26/01/21    e-mail   carlos.florence@amabrasil.agr.br   

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

 Por sintonia ao amanhecer que chegando em sustenidos. 


Veio, grito, feio.

Horror.

O ano afastou o  abraço, o laço , o ser, o se ter. 

Asco.


Prudência criou angústia.

A tese ânsia. 

Amorteceu em nós o nós.


Lúcifer cuspiou, colhemos solidão.


Mas o homem cria, crê, cresce.


Mais um dia ou  do amém surge, por alguém ou sim, do talvez, enfim, do além,  por sina ou sorte, a vacina, a rima, o sorriso, o por fim. 


E deste, assim, enfim, revoa e volta  o achego, o afeto,  o traço, o abraço.


De véspera e espera, segue de antemão este então de que nos vejamos muito no ano que se dará de saúde e remissão.


Tudo de melhor a todos os seus.

Até um breve. 

Desejo e sonho.


Carlos Florence