quarta-feira, 27 de julho de 2016

DIVAGANDO  EM TROPELIAS E JUSTEZAS
Foi, era, por ser, por bem, por sol, por flanco.
Pronto, serena potro, porte, forte, trote, fricote.
Embirra, funga, ginga, vinga, hurra, grita, cerca.
Laço, passo, mão, por deus, não abre, senão,..., potro adeus.
Atiça, viça, foge, segura,...,potro, légua, core, fuça, raça.
Se faça, se fosse, se fica, se laça, se pega, se amansa, se entesa.
Chega, volta, trata, cuida, tento, tanto, atento, atiça, caça.
Cerca, cisma, funga, dura vida, tropeça, tropica, laça.
Agora, faça, ameaça, cerca, arruaça, foge, segura, turra.
Amarra, encabresta, embesta, brava, trava, funga, apronta.
Estira, rodeia, fica, agora, chega, cansa, aperta, pronto.
Acalma, achega, arreia, viço, imprevisto, lombilho, ânimo, anima
Primeiro, prima, palha, queima, fumo, bom, cheiro,
fumado, picado, bom, melhor, café, antes, cheirado, forte.
Arreado, potro, bravo, monta, empina, tropica, estica, cai.
Risca, bisca, queda, laço, laçado, encima, outra vez, talvez.
Amua, amarra, agarra, arriba, amonta, reza, solta, pula.
Peão, João, bom, fica, afinca, encima, potro, cismado, teima.
Palma, pelo, pula, pula, peida, funga, fica, pula, para, pula, para.
Afaga, para, peida, funga, atina,...a légua,...a trote,...a passo,...acalma.
Acarinha, a alma, a manha, acode, desce, doce, amanha.
A façanha, a prosa, a sanha, a soberba, a Rosa, a Rosinha.
O viço, o sorriso, o enfeite, o convite, o feitiço, o traço, o rosto, o resto.
Brejeiro, o cheiro, o banho, o ninho, o carinho, o a deus, o a dois.
Ceflorence       16/07/16       email  cflorence.amabrasil@uol.com.br

quinta-feira, 21 de julho de 2016

DOS LAPSOS DO SOBRADO AO SOM DE DELÍRIOS MEDIOCRES.
            Sentado à janela do sobrado velho, por onde facetava o tempo para desabrochar nostalgia, esperava o momento de recolher-me, enfrentando o jacarandá que juntos crescemos e me enterrará ele. Acompanhei do local de sempre, o mesmo rato robusto e calhorda, por estar eu deprimido, (caso contrário teria registrado, se eufórico estivesse: os alegres olhos voltados para a garça de plumas agitadas), roedor com que divido o fim de vida, (sem depressão grafava, cínico, ao sorrir da primavera da minha juventude). Segui o rato titubeando, arrastando um pedaço de ilusão com queijo (ambrosia, se extasiado) rumo à prateleira maior do armário das sutilezas inúteis (sonhadas) em processo de decomposição, (restaurado com carinho, sem angústia, se fosse) onde ficavam os livros que gostaria de ter lido, (saboreei intensamente) os retratos dos defuntos que me abandonaram (afetos que me amimaram sempre) e uma garrafa com a qual me embebedaria, (aqueceria) mas só após a noite cair, em respeito à abstinência, auto proclamada, de em nenhum dia embriargar-me. Preservei as noites, das promessas, por precaução, para acalentar os silêncios etílicos, com a solidão que o fim carece. (Desfrutar a bebida, parcimoniosamente, ao chegar das estrelas, se extasiado me permitisse estar).
(Delirar é esta simulação permanente caleidoscópica, consigo, de desmistificar o nada, de alimentar transfigurado o real, estabelecer com demência saudável conflitos pessoais ou coletivos, optar entre o absurdo do singelo ou a singeleza do inexplicável).  
E neste diapasão morreu a filosofia barata, ainda bem, que não reguei. Ainda bem que não reguei. Ainda bem, não reguei. Ainda bem não reguei. O híbrido do psiquiatra com o linguista deveria por um paradeiro nesta paranoia aflitiva de perfeição. Tentei intuir a correta vírgula, pois a sorte de “não regá-la”, se sem vírgula, eu entenderia como agressão ao leitor. Acordei com o vaso virado, talvez um copo a mais corrija (à noite). Enfim, não dava conta de escolher, por preguiça, entre os atordoados dos pensamentos desconjurados. Mas cambiei o duvidoso por uma benevolência disponível sobre o sofá puído, olhando o jacarandá, faceando o móvel carunchado, e decidi anotar: “doze inteiros e não mais do que meio devaneio seriam suficientes, pelo que intui, para extirpar a dúvida e assumir a correta, confortável e devida distância do espaço”. (Ficou muito comprido sem o ponto). Ponho o ponto e continuo: “espaço entre o infinito do desejo e a divisão do azul do decote provocativo do regaço da moça que se afastava indiferente das fantasias que eu tentava não desperdiçar ao cair da tarde e da escada da praça que levava à esperança. Ao ver a primeira estrela brincando de esconder-se entre as nuvens ralas conclui taciturno que ela não corresponderia aos meus anseios impertinentes”. Achei que ficou bom: “impertinentes anseios”; poderia acrescer- “seios”- mas a rima pobre (idiota) me torturaria.
Com a garrafa aberta, enfim, permiti-me invadir uma penumbra suave onde às deusas dos intangíveis escondem os inexplicáveis e sem os quais não conseguiria escrever despautérios. Saúde. Chega de fugatos desconexos e outras impertinências.
Ceflorence 10/07/16     email cflorence.amabrasil@uol.com.br

quinta-feira, 14 de julho de 2016

ENTRE DOIS DESTINOS E OUTRAS REGALIAS
Pensou em passar despercebido pelos escaninhos do delírio antes de assumir posição definida. Quem despercebido passou pensando indefinido? Para deixar claro, procurando recuperar, de início, meu último sonho escorrendo pelas frestas do tempo orvalhado e alegre, janela abaixo e não ser avesso às recordações dei-me conta da solidão de olhos largos entretida em enlouquecer-me. E de tudo isto, lânguidos como serpentinas das quartas feiras de cinzas, sobre uma mancha de mofa, como agem estas imprecisas ou canalhas ficções, restaram pouco e minguados pedaços esfumaçados onde as gaivotas brincavam de solfejos, confundindo-se em volteios com o além. Do que sobrou, sem anotar em picados pedaços esparsos, misturados com lágrimas e soluços, o vento da agonia deixou para traz bem pouco. Portanto, com as incertezas de sempre que se evacuam entre um lasca abobada de insônia perambulando, até desprezível, sem serventia, se não fosse extenuante, e um risco azul subindo pela parede para desaparecer no nada, atraquei-me com o que sobrara do sonho fugidio, dando-me por satisfeito e conformado. Em seguida, abri a gaveta da esquerda, forçando para não acordar-me e arrastando para o travesseiro duas ansiedades, mais o beija flor sugando os lábios doces da menina sorrindo.
Atentei para não deixar escapar entre as dormências o que desejava preservar de alucinação, antes de despertar. Tomando correta distância da névoa, crivei-a em delicada vagina, com o estilete pendendo da hipótese mais próxima, adentrando o útero aquecido que me afagou maternalmente. Preparado para a morte, acompanhei cuidadosamente sobre o lustre o gato siamês esbelto, o mesmo da moça linda do altar de baixo da missa das nove, com quem flertara um padre nosso e quando muito meia ave-maria, ouvindo um Réquiem de Mozart. Segui o felino na captura das sombras brincando da névoa deflorada sobre a parede e desaparecendo no vácuo furta-cor imenso, por onde transitavam a vagina uterina, o gato tranquilo, a névoa carinhosa e a moça linda. Consegui chorar, mas sem orgasmo.
Só percebi por onde transitavam meus anseios ao ouvir o som vermelho cortando o silêncio com a mesma tranquilidade com que a navalha cruel agride o provérbio antes de ser distribuído aos crentes. Ainda em sustenido, dei conta de que sumira da minha cômoda dos paradoxos preferidos, trancada com mentiras e demências, a melhor síntese de loucura que encontrara e trouxera pela manhã do mercado dos alucinados. Por precaução entregara à faxineira da noite que adoça os sonhos e embala as insânias nas pencas de ceticismo maturadas no sereno, sem inveja, e adormecidas, para não se acordar as crianças antes que aprendam a mentir.
Os passos eram delicados e tinham o colorido da esperança. Por vingança o sonho a dissolveu antes de eu tentar envolvê-la. Só senti o perfume do silêncio sumindo e ela, disfarçada de saudade, nunca mais voltou.
Ceflorence    06/07/16         email  cflorence.amabrasil@uol.com.br

quinta-feira, 7 de julho de 2016

PREMONITÓRIOS MORREDIÇOS
Ao adentrar pela sacristia, não penetrar, pelas insinuações sensuais adversas, visto o conflito que o termo poderia envolver involuntariamente e afastar convertíveis, sem qualquer imponência, pretensão ou galhardia, Élpio Ciratra não poderia, àquela altura, garantir que seria tranquilo o processo de restabelecimento dos seus aguardados. Estimava, ainda sóbrio, saborear Élpio, ou talvez perder-se, pelos trilhos dos aléns, com ou sem certeza de palmilhar andejo e imediato para o eterno da vida que lhe insinuavam. Por ser dia de restabelecimento das incongruências pastorais, prestes às beatificações, os fenômenos das paixões, ainda pagãos antes dos sacramentos e dos óleos, ficavam disponíveis do lado oposto ao da censura e as absolvições, que estavam com frio, se colocaram junto aos altos vitrais góticos, devotando esplendor ao eterno, que o sol beijava com parcimônia e afeto. Estes seriam os apetrechos, paixões e absolvições, com que Élpio poderia contar para empreender sua aventura de desencarnar para sempre ou pela primeira vez, como só poderia saber depois. Élpio libava com ternura saber que o importante não é ter certeza, mas sim montar o disparate fogoso ao passar arreado.  
Confirmou que a existência se fazia destas minúcias essenciais para adoçarem o acaso, Élpio. Ainda estava aprendendo a morrer com a imaginação forrada de fantasias, para reviver, segundo diziam, em estase eterna e inacabada. Os assuntos dos infinitos sejam eles pelas rotas das reencarnações sucessivas, dos castigos afogueados dos infernos, das revisões dos pecados purgados, das indefinições límbicas sem batismos, das saturações das contemplações eternas aos criadores ou detonadores, são muito saborosos e fáceis no atacado, mas no varejo, e com desconto, são conflituosos e paradoxais. Com a clareza de quem se desencarnaria corretamente avisado com antecedência requerida para os preparos, Élpio, coçando a virilha e imaginando como continuar de prontidão mística, não titubeou em ouvir um réquiem, atravessando as abóbodas da matriz e abriu a botelha de cristal com vinho.
Retornava ao mesmo processo, Élpio, por ser dia de neblina baixa e conseguiu deixar, antes de assuar o nariz escondido na manga do paletó, para que o monsenhor não lhe chamasse a atenção como sempre, um pedaço do terceiro quarto superior da própria alma, a mais antiga e saborosa, narcisista e edipiana, sobre o consolo barroco, grande, seiscentista, aonde se escondiam o cálice dourado, os pecados veniais, o vinho, as vestes vistosas e as bolachas não consagradas. A vantagem da alma Elpiana era sua divisibilidade em nacos convenientes para entrecortes descarnáveis: pecado, vingança, perdão, amor, arrependimento, luxúria, prazer, ódio e seguem.
O monsenhor encontrou Élpio sonhando na sacristia com cavalos e trombetas rejuntando suas fantasias e pedaços soltos das almas, para continuar embriagando-se com o vinho que já tomara, sem ódio, com amor, na luxúria e prazer, sem perdão ou vingança, arrependimento, nda, e livre de pecado. Por ingênuo, Deus abençoou-o.

Ceflorence      25/06/16       email   cflorenceamabrasil@uol.com.br