quinta-feira, 28 de junho de 2018


ESTÓRIAS DE AMANDACIO E OUTROS PERCALÇOS
           Quem deu por cadenciar moroso e dolente os proseados, como era das suas temperanças, arribado sobre a mula alazã passarinheira como preferia aleguar nas trilhas encarrilhadas tropeando burrada xucra pelas serras e sertões, foi o muladeiro renomado Amandácio do Catadeu no restado dos dias antes de prover morrer muito amasiado com a tranquilidade e o destino, pois iria bater quase cem, desfeito de remorso por jamais ter matado ou castigado um cristão, mesmo de má catadura, sem as estritas justiças e os modos condizentes nos respeitos às regras do senhor. Amoldado às vontades de contar seus casos, mas por carente das regras das ciências das leituras e das letras não se atreveu a deixar de refazer nas lembranças nenhum diminutivo ou atrevimento e no contra-verso me mandou atentar nas memórias para depois recontar como desse e assim ficou o que sobrou das catas.
            Pelo que salvei das falas de Amandácio, enquanto comíamos poeira atrás da tropa, deduziu ele muito justo como sempre que, das contradições carecidas de serem grafadas sobre as desavenças ou as premonições, nem se sustentaram nas crendices ou se atiçaram esclarecidas de todo, mas isto não desmereceu serem contadas e vão agora devagarosas, paciencientadas, como era do seu jeito para apaziguar o verbo como quem lambesse a palha de milho para o cigarro cheiroso ou para bajular as fantasias. Achegada a hora mais caberia começar a aurora depois das doze derradeiras estrelas escolhidas pelas luas agraciadas pelos sonhos e seresteiros chorarem em seus recantos de silêncios para começarem a se recolher. Por conta das rotinas coube ao sol já ir se preparando atrevido para espionar por trás das torres da matriz beijadas pelos ventos e desventuras. Era assim o anseio para se converter em madrugada, carrilhões da praça atenderam os recados engraçando embalos coloridos para os primeiros fiéis compartilharem achegos aos serviços em tempo justo dos portais da catedral abertos, pois nos pêndulos das artimanhas entre o fim da noite e o parir do dia acalantariam os aninhos das meretrizes e dos proxenetas des-abnegarem escaldados das agruras que enfrentaram para merecerem seus repousos.
            Antes de as luzes serem recolhidas, a garoa lacrimou nos ombros das mágoas, os pecados sem arrependimentos não se persignaram frente aos vitrais abençoados da matriz e os desatinos procuraram achego nas solidões. Pairava um azul acabrunhado e dolente envolvendo os achegos, coisas dos imprevistos e das solidões. Nisto, por justo dos caminhos, as torpezas foram escapando dos dentes da boca da noite fechando e o ranço do tráfego agitando a tristeza de cada desgraçado portando suas desavenças com os próprios destinos, destinos que só os deuses adivinhariam os traçados e procurariam seus aconchegos, para deixar o dia começar. Nos palpites jogados tais búzios para interpretarem os rancores não atinavam mais se haveria motivos de serem recontados, mesmo até porque os preceitos e os provérbios não foram vistos com os mesmos olhos entre os enfeitiçados, que lambiam uns os sovacos do demônio e os outros demais, desprovidos de alentos, assuavam de deus os ranhos, fingindo arrependimentos cínicos. Amandacio estirou a mula para a canhota e se fez de solidão.   
Ceflorence      11/06/18         email   cflorence.amabrasil@uol.com.br

terça-feira, 26 de junho de 2018


CAMBARÁ FEITÓ E OUTRAS REFREGAS
                Por ser, como procedia, impávido, homem casmurrado de sangue nos repentes das salivas enraivadas, nas ideias, encurralado e curtido, de trompas e arrepios inusitados nos tempestivos conformes, falados adjacentes procedimentos amortalhados e calmos, sempre maledicente e transverso, dele se trouxe a baila fala, pois carecia. Se confirmou, por assim dito, mas não polia desnecessariamente ele o verbo na minguante quando estirava os olhos para os desafetos, pois se achava insuficientemente des-iletrado para contra feitar em coisas nas quais não fora adestrado para tanto dentro dos preceitos e vinganças. Foi como Tiborato das Navengas contou o caso do desencarne de Cambará Feitó, matador das Sete Barras do Jucuri, ao sair pelo mundo à cata de Porozinho da Donga. Noite se caindo e lampião aceso, enquanto desigualava roda de truco, murrinha e dolência, nas travessas das prosas para dar ouvido ao demônio e ao vento que trazia tristeza dos lados dos Vertedouros Descarnados.
E era, como falou cabisbaixado Tiborato entre uma pinga e um pito, por demais afeito Cambara às armas de tiro certeiro e apunhaladas desforras, que no manejo se sobressaia empertigado e altaneiro, tanto como nas solidões dos destinos por onde campeava a melancolia. Ele sempre acavalado pelas estradas a procura dos passos da morte contratada para cismar vingança de terceiros como se adestrara desde moçado nas Serras dos Alempros. Cabra de mão descalejada, por desvirtuado das enxadas, sisudo nas entrelinhas das formalidades, Cambará se calava para não atiçar mais revolta, embora vivesse de desapadrinhar as almas mal comportadas dos corpos mal procedentes.
Tal se deu conforme as ditas de Tiborato, quando Porozinho, moço de dadivosos sorrisos, mas de posses desprovido, enfeitiçou Alecita, filha de Calempágio Alforres, sesmeiro de léguas sumidas entre os perdidos das vistas e até onde os ventos paravam para resfolegarem depois de cansados. Nas paixões, se estrebucharam de andarilhar fugidios, Alecita e Porozinho, por contas próprias, pelos seus mundos, que deus abrira para os apaixonados. Coisas de somenos e belezuras, agarantiu sem cismado Tiborato na fumaça do pito que se desfez no mormaço da fuligem e a coruja velha dando conta da cumeeira. Mas os meninos enamorados alongaram na madrugada e Calempágio pai aclamou Cambará desfigurado nos preceitos para seguir os rastros das rebeldias e trazer moça Alecita de volta e nas tangentes e, sem retrancas ou arrependimentos, desaferroar do pescoço a cabeça de Porozinho, antes que cruzassem o Rio dos Cantibais dos Afogados. E a cavalada foi afeitada em relho tanto para quem fugia, como para quem destinava enveredar atrás nos pisados das trilhas. Serra acima muito cascalhada de tropicões e noite escura, potreada arisca nas pontas dos cascos palmeando os destinos, afrentados os fugidos, no percalço, rastreador, tudo procurando o futuro para as más certezas das discórdias se afunilarem.
E deus desistiu calado para des-acalmar os improcedentes que viriam, pois abriu vaza ao demônio para desenvergar a lua para o lado do Espigão dos Carcarás, onde Porozinho se amoitou no semblante do escuro mais adensado da Pedra do Mamoeiro e mereceu de enfeitiçar a pistola para a banda que não deixava ver os camuflados.
Porozinho, para encurtar os falados de Tiborato, despregou destinado chumbo para a canhota da rebeldia em que se desacomodava o coração de Cambará. O estampido desembestou o cavalo passarinheiro serra abaixo, levando jagunço e solidão presos nos estribos, despedaçando a cabeça pelas pedras ensanguentadas e a alma penada do desgraçado refugando o demônio atrás nas trilhas do senhor para escapar do inferno.

Ceflorence       28/05/18       email   cflorence.amabrasil@uol.com.br

quinta-feira, 7 de junho de 2018


ORAÇÕES EM SILOGISMOS AOS DEUSES PERVERSOS.

                Por imantação e harmonia das forças astrais, que jamais falharam na conjugação dos destinos e aléns, imperdoavelmente coexistem não mais do que três formas azuladas, embora eufóricas, isentas de contaminação para transpor-se a tristeza desinibida e sem camuflagens das entrelinhas dos delírios mentais ou espirituais. Isto enquanto se aguarda a alegria engravidada pelas pitonisas maiores, conformadas, permitindo ao êxtase carinhoso endoidecer sempre com métrica e paradoxo. Sigamos altivos para melhor suportar os verbos intransitivos mais ásperos, enquanto as caravanas cruzam os desertos mentais e os delírios, pois são nestes trilhos que os deuses se preparam para as bacanais. Entretanto em assim sendo, o cosmos para implodir os desejos que de longe vieram para se colorirem de saudades e pequenas invejas, conforme rezam os sonhos melhores, que só devem ser assistidos pela madrugada enevoada depois do esplendor da aurora brincar de abrir as trinchas sobre as trevas. Simples assim. Acalumatã Ainhandu e benções fortes a todos os filhos seguidores fiéis do Divino Grã-Einhantura, nosso criador e redentor nesta hora de meditação e reverência. Foram as palavras que antecederam o ritual para celebração do dia do esplendor, quando a profunda meditação traz o conforto maior a todos que procuram fantasias e delírios.     
Para quem renasceu da luz e sob o signo de Belzederes de Artimanhos, da constelação de Alambará, poderia isto parecer descontextualizado ou improcedente, mas sob o Estrelar de Envaziona os provérbios são perfeitamente pertinentes, pois as crianças se alimentam de ilusões e neblinas, enquanto se preparam condignamente para aprenderem a mentir como só os adultos mais amadurecidos e consagrados se embalam nesta prática tradicional e salutar.  Notou-se, sem dúvida alguma, que se acordou em brilho e, portanto, o povo sendo envolto por carinho do horizonte longínquo, metaforicamente atravessou a alegria desinibida como os raios das solidões preferem. Tanto que assim se deu em regozijo e o conflito só surgiu do inconsciente depois que o canarinho emitiu opinião desfavorável sobre a florada da paineira embriagada, enquanto as ilusões procuravam seus delírios entre as controvérsias das metamorfoses das mariposas ainda encasuladas.
Apesar de paradoxal, os mais afoitos, ao contrário dos intermitentes, bateram palmas em sinal de júbilo aos preceitos trazidos, mas com sincopados ritmos alternativos, pois as metamorfoses mencionadas, só se dariam dentro de prazos desavisados e se entreabririam meticulosamente entre pausas longas, floridas, para se abençoarem os retardatários que chegariam trazendo suas melhores ilusões, esperanças e fantasias. Sinal de que as palavras esparsas ou rebeldes não comandam os pensamentos e estes pensamentos ao caminharem sobre os advérbios significam firmemente que as melodias só são ouvidas por quem as escuta. Com a tautologia neste nível medíocre e revoltante, o pintassilgo disfarçou sua intolerância para meditar sobre o complexo de Édipo e ejacular algumas desculpas para as tradicionais aleivosias dos aristocratas. Até aqui procedemos de forma perfeitamente clara e sem confusões, embora sempre houvesse controvérsias se o tempo redimiria a menopausa impreterível enquanto as tulipas, ainda em fase de puberdade, deixariam os bulbos se transformarem em esperanças.
Assim se cumpriram os melhores prognósticos dos sonhos envoltos em melodias, enquanto o galo avisava que a solidão se faria in extremis. Em seguida as crianças libertas dos medos e das teimosias dos pecados foram liberadas, enquanto os bardos cortejaram as rimas e os meandros distantes das melancolias para que suas almas ficassem expostas à solidão.       
Redundante, mas por imantação e harmonia as forças astrais não falharam mais uma vez.

Ceflorence      21/05/18     email    cflorence.amabrasil@ol.com.br

segunda-feira, 4 de junho de 2018


O SABOR DO SONHO E OUTRAS ALELUIAS.
Poderia começar pelo azul impregnando a solidão, já não coubesse ai um paradoxo que arrastava com sua preguiça um sol bocejando na madrugada ainda fria, ou pelo gato lerdo sem saber se a torneira pingava por falta de imaginação ou era histérica. Talvez tenha sido, só para lembrar, por derradeiro, desnecessário mencionar, pois o sacristão perdera outra vez a hora, sem badalar os primeiros repiques chamativos das começantes preces acordantes, no resguardo da sua mulher ninfomaníaca o trair com o padeiro assim que ganhasse a calçada. Em Jarabendi das Catambas o vento era preguiçoso igualado às macambiras enrugando nos cerrados, quando todos se levantavam, até as sanfonas se calarem extenuadas depois das noites findas, pois nada mudava para atravessar o dia inteiro, assemelhados de repetidos sempre, sem gracejos como cada um se acostumou a desviver sem motivos. Todas estas formas não tinham conexão com as redondilhas dos verbos que os poetas gostavam de elucubrar, mas que não distribuíam depois que as portas se fechavam ao esconderem o silêncio, como garantia Sá Barnécia, que se arrastava ali perto dos cem.
                Mas se deu, apesar de praxe não ser, pois naquele outono remoto ao que constou sacramentado, dos cavalos acordarem agitados, do galo cantar em sustenido e a Dalva chegar mais cedo e com lágrimas. Verdade. Tudo se perfumou no silêncio, pois um sonho raquítico vindo arrastado pelos provérbios e pedras, que caíra descuidado na corredeira do Córrego da Mulata desde o Boqueirão da Serra, escapou das águas, assustado, em frente à matriz e foi subindo escondido pelas ruas desengonçadas de Jarabendi com intenção de achar seus caminhos de volta. Mas a viela de gente acomodada se extroverteu nas alegrias e se encantou com as fantasias que o sonho miúdo foi desfazendo ao caminhar. O sonho inveterado de coisas simples, que encantava, era azul. Os meninos seguiram o sonho pedindo-lhe o canivete novo e vidro quebrado maior no banheiro das meninas. As moças da escola normal fantasiaram de volta o sorriso bonito do professor de história, que havia sido transferido para Surimpeti. O prefeito projetou transformar o Córrego da Mulata no Estreito de Gibraltar, receber um diapasão em lá maior sem fronteiras até aonde as montanhas escondessem, enrodilhar um vento forte para que as fragatas pudessem achar os destinos e os turistas viessem engrandecer as tradições de Jarabendi. Coisas simples.
            O sonho foi, sem maiores preconceitos, longe de deboche, se contorcendo para ir enfeitando os meandros dos paradoxos e das dúvidas, passou pelo matriz para levar embora os pecados usados e retornar com um punhado de desejos novos. Atravessou o Beco dos Velhacos e deixou na Floricultura da Bezinha um ramalhete de orgasmos sem qualquer uso para ser oferecido graciosamente a quem comprasse rosas vermelhas. No fim da tarde o sonho assumiu seu destino, mandou os namorados para o jardim, abriu o cinema para os fãs se encantarem com seus ídolos, obrigou o pipoqueiro a levar seu carrinho para a praça, determinou que a hora da Ave Maria se compusesse de melancolia e mandou o grená se recolher ao poente para as solidões sonharem.
O sonho era assim, difícil era interpretá-lo, pois todos queriam grandezas.
Ceflorence     12/05/18        email     cflorence.amabrasil@uol.com.br