quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 

EMTEMPODEMIA DE CORRUPTELA

 

Doces migalhas e silêncio, ensurdeciam.

Mastigava valsa, falsete, mania.

Vida seguia sonsa, sina, em roda, encima.

Cobriam, os telhados, as casas, as mágoas, águas.

A vila amedrontava-se de em se o tempo não chegasse ou que viesse.

Amarrava-se o paradoxo no abacateiro para alimentar a desconfiança.

Por estar primavera chorava uma garoa triste, modorrenta.

Ao se fazer, fazia, assobiei tico-tico como bolero, mão no bolso.

Subi pela solidão, pelos indefinidos, pelos pensamentos, por mim.

Os caibros velhos dos forros escutaram meu avô, a mim, meu pai, a mais.  

Por se darem tempos amortecidos de sinas, melodias ali morriam.

Sendo sino marcava que o depois iria chegar atrasado pontualmente.

Não tinha o que fazer agora e depois repetiria a tarefa.

Um de cada e eu tiramos a preguiça do jacá da nostalgia.

Era-se mesmo assim espontâneo e serviçal para acalantar o nada.

O pássaro preto subiu pelo pretérito para enxergar o futuro.

Trazia o porvir um igual sendo, um certo receio com sabor de jatevi.

Se colocou a esperança à janela para imitar que chegaria.

As arvores sumiam pelas ruas, vielas, vias, para quem as via.

Lembrei do colo da mãe, chorei, sonhei, sorri.

Ajustei minhas rotinas, pedi o cigarro barato.

Os vinténs se puseram enfumaçados, ordinários.

Urinou o poste apagado no cachorro e a menina surgiu.

Viu, se pôs a rir, mais sete passos, mundo seu, seguiu.

Não devia nada a ninguém ou pediu, pisou no seu desaparecer.

Nada mudava antes d’eu ordenar à tristeza ou ao azul. 

Sábado, cada brisa trazia melancolia e se debruçava no ausente.

As janelas escutavam a imaginação, o sol, as mentiras para serem tomados com café.

Lavei os trapos, apaguei a vela, chorei no leite derramado, dormi um infinito miúdo.

 

Ceflorence   São Paulo 29/10/20     e-mail   carlos.florence@amabrasil.agr.br

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

 RECEITA DE NOSTALGIA COM ALIENAÇÃO CARAMELADA E DELÍRIO.


Que amanheça em bemol, se escute o então, silêncio, o desistir de viver, o entretanto.

Sequer lave a alma com esperança, presente do subjuntivo, resignação ou premunição.

Salpique medo ou sonho. Adjetivos, crianças brincando de amarelinha, agregue logo.

Ponha as ansiedades, sem precaução, e o sol entardecido para desidratarem brandos.

Adicione pitada de fantasia, mais manteiga de garrafa, enquanto atina alterne a nota.

Pela janela entreaberta escute dois cavalos pastando na solidão, sua, com as manias.

O tempo chegou, esparrame entropias pela soleira, descortine o impossível, descreia.

Capte tais inexplicáveis pelo afetivo, esparja com moderação até começarem a sorrir.

Observe o tempo entornar capcioso, triste, como as dúvidas, intrigas e as apreensões.

Do lado do coração há um borralho, da alma, o colibri assiste, da saudade paira névoa.

Mexa os sustenidos, cuidado com o rastro do finito a pedir explicações às suas cismas.

Angustiado amadureça uma penca graúda de imprevisto enquanto nega a melancolia.

Não anote os infinitivos que não rimarem na receita com o tom maior do verbo amar.

São os fortuitos para se começar a desestruturar a sintaxe, o portanto e o tino de será.

Sinta o odor azul das sete andorinhas adentrando pelo amém trazendo a volúpia.

A janela se fecha, os cavalos findam entre os tendo sidos, a noite estrupa o entardecer.

Provoque movimentos pendulares de forma a hipnotizar o nada entre o sim e o ciúme.

É sinal que o desejo intenta parir euforia e a solidão aborta antes da sina magoá-lo.

Não esqueça que a receita de nostalgia embala o ser enquanto o sofrer aguarda o vir.

Procriando, as lamúrias pedem dois caprichos, aplique-as com instigações sensuais.

Confira se as emoções estão exaltadas e deixe fermentar as ilusões de suas fantasias.

Sua metamorfose e transe endoidarão, o subjetivo meandrará às evidências e rimas.

Brotando calmo chega ao ponto, desespero. Grite. Deixe aflorar para que a ânsia seja.

Ponha em fervura até dourar o orgasmo, despreze a censura, avive o imaginário.

Envase no inconsciente, acomode no agora, estraçalhe o passado, acalante no porvir.

Receita de nostalgia com alienação caramelada e delírio, paradoxo de desejo e pecado.


Ceflorence São Paulo - 17/10/20 e-mail carlos.florence@amabrasil.agr.br

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

 

JAMBEIRO AO MORRER DA TARDE

 

Ao lado do jambeiro nunca menti acordado. Por medo, adjunto de verbo ou rima?  

Muro ao lado irresponsável, cabisbaixo, quebrado. Usava eu calça curta, bodoque.

Aprendi a mudar de lugar, desconversar, palpite, ideias, ideias, calar. A par, opor, ater.

Conversava comigo, Deus, a professora, minha mãe, respondia por eles e disfarçava.

Mudava de canto, encanto, a mentira me seguia, pensei que era rei e ela sabia.  

O sol cismava, depois me ouvia silencioso, irrequieto, carinhoso ou medroso, subia.

O carretel rodava na corredeira, dedo no nariz, sujeira, delícia, desfaça, disfarça.

Água, riacho empossava no remorso de não olhar Belinha no azul, desejo, seja.

Pé no chão, cheiro de não sei que, manga madura, brota uma dúvida, duas fogem.

Pro Zeca ela sorriu, sofri, ciumei, senti, puta que o pariu.

Entalava a cisma, brincava de rodamoinho o vento ao vento e levava lembranças.

Cismei não mais ser criança, aprendera a dizer não, fingir tristeza, mentir, soltar pipa.

Assim eram os dias, os tais, os pais, os mais, jamais, centavos, poucos, avós, a voz, eu.

O bem-te-vi gostava de azucrinar enquanto não garoava. Me pus, ele pôs, nós após.

Era, ali ou lá, chorão, na beira do córrego, surdo, não entendia de preguiça ou malícia.

Também não floria, idiota, pendurado no nada, para que servia? Não dizia, escutava?  

Aprendi a mentir, Padre Moca mostrou, quando estava às pressas para porra alguma.

Depois das seis, punheta virava Ave Maria.

Às sete mandava voltar depois, não sei porque, pois era a mesma.

Antes das oito perguntava quantas, tomava dois cálices, breviário a mão e rezava.

Benção, hóstia, limpava o cálice, secava o vinho, mandava embora. Chegara a hora. 

Sem nem perguntar cor, o diapasão se fez em breves, casmurro, colcheias e pasmos.

A professora de música tinha uma bunda enorme, sonora, com solfejo idiota.

Não entendi ao que servia a colcheia, a bunda cheia, o diapasão, não. Só sentia tesão.

O jambeiro nunca esclareceu causas de me afastar enganado e medroso, ao mentir só.

Não tinha má personalidade, nem conhecia a realidade. O jambeiro. Mês, fevereiro.

Não seria eu se não fosse o mundo inteiro ali, ser minha cabeça, ser pomar, ali só, ser.

Me afastava do abacate, lacrimava ele no tronco antes da florada e possuía tristuras.

Anjos não frequentavam o quintal, pois a porta da igreja fechava. Não sobrava medo.

Senti saudades dos olhos de Belinha, barra manteiga, amarelinha, recreio, cria, creio.

Por ser mutante e cantos, a cigarra não concordou, mas gostaria de voltar a casulo.

Aprovei sua cisma, mas Deus a pariu assim e não refez como dantes.

O saiote de Belinha não escondia minha vergonha, nosso desejo, sua calcinha.

 Flagrei-a entre meu sonho, canto, o banheiro, o encanto, ela me sabia candura.

Engracei, vivi ela-eu, canivete, ilusão, risquei coração e lá-ela-eu em sim, traço, tronco.

O jambeiro não desfez e nem desmentiu, deixou o gesto, a mania, fantasia. Gritei.

Canarinho por ser, era, sumiu manso pelo voo que Deus lhe deu. Eu vi.

Meu sonho o seguiu até encontrar a manga madura e eu fiquei no intervalo do nada.

O quintal de manhã escondia a melancolia, meio-dia o colibri voltava.

Antes da escola sentia o perfume do tempo, a preguiça e o gato se escondiam no azul.

Fim de aula, alegria, outras artes, as tardes, longas, o canto do pássaro preto. Belinha.

Medo, boca da noite, baixo da cama olho, nada. Dedo na boca, durmo homem, sumo.

Serei quem no até amanhã. Até Belinha, até então, até minha, terei?

Penso, por que penso? Logo desisto.

 

Ceflorence   01/10/20     e-mail  carlos.florence@amabrasil.agr.br