terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

LADRÃO DE CAVALO E OUTRAS CISMAS

Muito senhor dos conformes, garantiu Seu Vazinho as alternativas como pontuou assossegado sobre o lombilho em viageiras cismas. – “Se nos caíssem nas mãos daríamos represália de descarnar os matutos ciganos que sumiram com a mula, como fizemos com o Derempé Maricato, filho da puta que veio da Moncada dos Alepros, três léguas rio acima, lugar de mulher bonita, água farta, gente de má catadura. Pediu emprego e mesmo desconfiados acatamos. Trabalhou com o carro-de-boi, prestativo, jeitoso, conversava macio com o tirante boi de guia como se falasse na solidão da orelha da namorada em noite de lua. Proseava ciciado no assovio mimoso, merecidamente, no infinito dos sustenidos com a tropa da carroça que entendia todas as manhas que ele procedia. Categórico no lombo de bicho xucro. Por caridade de confiar entravado nós finalmente amolecemos as vistas e ai, praga, ele se deu a roubar o cavalo zanho, queimado. Manhoso o Derempé, ligeiro, arrematou junto uma égua alazã enxertada de um meu garanhão. Trocou o Derempé as montarias e arriou depois a égua amojando quase para dar cria, poderia ter abortado, ralou sumindo como se fosse o vento. Mas aconteceu, deus era grande, Jupitão, Tesourinha da Cota, Anacezio Poriaé, por batismo, tinha a alcunha pelas pernas embodocadas, tortas, razão de ração pouca na infância e mais eu, atrelamos nos arribados detalhes: bosta dos animais, rabo tiquira enroscado, risquinho na pedra, casco de nada marcado no pedregulho.
Se deram pelo senhor, antecedemos nos preparos e vimos o saracura de longe amoitando num fundo de capoeira rala, picoto de quebrada brava em ponta de serra desajustada de caminho, pedreira, despenhadeiro de urubu ter medo de cair. Ali era o Sofrenço do Sino Velho, ponto de carcará amoitar solidão. Tesourinha era ardiloso na garrucha, instigado de preparado na arte, sem premonitórios ou calunia de perdão atirou na altura das virilhas quando ele desmontou para fugir por uma pedra lisa, chapada, entre dois jacarandás bojudos. O tiro era intentado justo para castrar o desmamado, roto, lazarento ladrão. Proposital, intendente, maligno, atirou e acertou Tesourinha como queria, cientifico nas miras. Jupítão tinha um canivete corneta, coisa fina que meu pai dera para o tio e padrinho dele, ele herdou quando o tio morreu, ferramenta desprovida de receios para descarnar um animal de couro. Nos conseguintes, com o canivete corneta do Jupitão, judiosos nos demos animados despregando, vagarentos, as peles do safado encostado num pau-d’alho, desmerecidos de afobar.  
Onde estávamos com o rapaz desajuizado era uma terra meio sem ninguém. Tudo se instalava ajustado para estas competências permitidas, sangrar o moço ladrão. O pau d’alho era apropriado de bonito nestas opulências. O Tesourinha desistiu de mais penúrias, pois a gatuno não atendeu de ficar observando ser descarnado acordado e desmaiou desaforado. Descontraiu as raivas maiores com pesar do coitado, assim atirou ele na nuca para não des-sofrer mais o ladrão e se persignou corretamente respeitoso. Amortalhou o moço ladrão, para o infinito, o Tesourinha.
Ceflorence    07/02/18    email   cflorence.amabrasi@uol.com.br

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

PARALELAS DESAVENÇAS
Os primeiros meninos chegadores, confiantes, seguros como sempre, alegria empinada ao infinito, tal papagaio em vento aberto presos ao irrepreensível objetivo, sem preconceitos de herança, de criação ou de credo, conquistando a esmo o fim dos desabafos, tudo um pouco insonso.  E por ai se foi ao fundo, em pedaços sortidos, uma sincronia sem preconceitos, rico de subjetividades e de saudades, invadindo a consciência, confusa, mas amiga. Só assim fugia-se da insuportável rotina. Mãos a obra, foi a palavra de ordem imposta pelos criadores, em forma de arco íris envolto em saudade, cuidadosamente desdobrado e retirado da tristeza preterida.
Não existia possibilidade de retorno. A criançada se pôs em brios para enfrentar o imprevisível. O espaço aberto para a individualidade se fechara no passado, sem memória, abrindo caminho para a rotina, com brisas transparentes, espalhadas, sem luxúria, sem remorso e muito menos sem sacrifícios ou pecados. Pé ante pé, borboletas exibidas, peixes sem angustia e calandras calhordas, calando atoa o cacofônico caído, se articulavam em movimentos rítmicos, confabulando sobre a absoluta certeza de que o futuro não poderia oferecer mais do que aquilo que fora semeado ao léu. Cálculos inúteis e probabilidades dispensáveis destronavam os pretensiosos valores alienados das previsões.
Antes do amanhecer ouviu-se o canto, por encanto, mas sem canto. No oposto, os menores alegres se solidarizavam com a algaravia das sintonias dos poucos recursos sonoros disponibilizados, que caminhavam para muito além do limite aberto pela permanente saudade de sempre. Entre as desgraças, rapidamente recolhidas, pois eram dispensáveis e inúteis e um solitário pé de arruda, a razão, insuspeita, como sempre, colocou-se favorável ao inevitável e, desta forma, o risco de um novo erro ficou de prontidão para cumprir ordens do destino. A dúvida incumbiu-se de tomar conta da situação e conseguiu impor ordem, como se houvera uma plenária sem maiores consequências. Nada se concluíra sobre o bipedismo, se, fruto das conjecturas e hipóteses de um processo histórico, não provado, ou de uma evolução revolucionária da espécie, que pleiteava o azul ser o som preferido para as demências mais aprazíveis. Nada disto tornou-se objetivo, facilitando as discussões finais claras sobre a regra três ou sexo coletivo. Com isto definido, todos ficaram satisfeitos com as explicações prestadas.
Em não havendo mais devaneios, a sinfonia suave, embora um pouco para o grotesco, foi poupada da dúvida, que, em transito e em transe, marchava a passos lagos. Não coube comentários sarcásticos outros sobre o renascimento, antes de encerrar-se o ritual, nada macabro, daquele cotidiano comum. Atohá encerrou aos irmãos de sangue presentes, a saudação cerimoniosa aos deuses afáveis à loucura.


Ceflorence –       23/01/18      e-mail cflorence.amabrasil@com.br

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

CARÊNCIAS DE IMAGINAÇÕES - ALGUMAS ELUCUBRAÇÕES SEM LÁGRIMAS E SEGUEM
No limite e por ser da solidão enlevo fundamental, lancei o verbo ao destino e sobre os passos mais doces, como as videntes preferem brincar com os búzios e os tarôs, preferi o andejo sobre a poeira a começar a se fazer caminho e o azul, na falta de indefinições mais convincentes, preferiu esconder-se entre as nostalgias por onde os sorrisos frequentavam os lábios. Esta seria sem dúvida a composição do desejo mais arraigado, segundo se afirma como as coisas atuam no hemisfério esquerdo das almas, onde habitam os sonhos e se acarinham os irreais, as fadas mais tímidas se despem e os faunos preferem para as bacanais mais puras. Isto tudo seria básico, pois a discussão entre o grená e o crepúsculo envolvia escolha correta a quem caberia acomodar o pôr-do-sol para deixar o dia desfazer–se. A sugestão não poderia melindrar o colibri a cata de suas intenções, esquecer a fantasia ou mesmo, em último caso, desconsiderar a tonalidade da flauta para trazer harmonia ao centro das indefinições e, portanto, não perpetuar com mais sofrimentos as dúvidas que ainda não haviam amadurecido suficientemente. Foi assim, por mais controverso que possa parecer que a sinfonia transformou-se em inacabada e preferiu o transcendental.  
Neste contexto, embora já em andamentos e livres das demais opções, nasceu suave brisa envolta em silêncio, sem melindres maiores, embora saborosa, pois instigada pelo desconhecido escalou amoldada afetivamente à imaginação, como aprendera com os destinos, cruzou o desejo mais forte e apeteceu acarinhar-se nos seios da virgem ainda impúbere. Isto teve de ser grafado fortemente sobre o consciente, pois embora tenham sido coisas soltas e esparsas, aparentemente sem sentidos, desconexas e desprovidas de métricas, preferiram ser sacramentas completando a hipótese mais aceita de que a saudade seria um tempo do imaginário e encontraria respaldo somente no advérbio preso ao amor. Com estas conclusões consolidadas a demência se confirmaria um estado da alma e estaria disponível para elucidar-se com simples ofertas de orgasmos ou pequenos tragos de absinto. Nada disto justificaria consolidar este assunto, se não fossem indispensáveis para a reconstrução da solidão ideal, enaltecer o verde e a considerar a rima irrelevante para compor as melhores poesias e deixar em seguida a preguiça ocupar o merecido lugar para alimentar as fantasias. A dialética materialista não chegou a adentrar estes pormenores subjetivos na medida em que se preocupava em assassinar o criador e outros asseclas.
Tudo ficou claro e alegre no final, pois as calçadas passaram a ocupar as crianças e as intenções se dividiram em azul, sorrisos e premonições como previsto. A separação do tempo em passado, eterno e memória não se confirmou, pois os sinos dos carrilhões passaram a se desfazer em bemóis para se despedirem dos balões que pretendiam ganhar os firmamentos para contarem somente aos homens tristes, caminhando sobre as próprias melancolias, que o dia findo viria para escurecer os sonhos.
Ceflorence    01/02/18     email  cflorence.amabrasil@uol.com.br