CATIMBAS DA BOA MORTE.
Creia que
da direita da entrada para o balcão, suporte do candeeiro velho fuliginoso, foi
caranguejando o aforado da chilena tilintando e rebenque, serventias de peão de
bicho xucro. Do balcão, Maneco D’Onça, vendeiro, pouca prosa, que alongara aos cafundós
do Mucaé para penitenciar de só matar por serventia, não por profissão, viu,
cismou. Era.
Disfarçado
nas espreitas, até sorriu o moço das chilenas, pois o punhal atravessado para a
canhota mostrava que não era destro e o rosto bexigado da brava escarnava
cicatriz feita por faca cravada, que, por deus, poupou o olho. O Sertãozinho
parou de ventar para escutar o silêncio. –“Viajando esta hora por destino ou
por passagem”-, perguntou Maneco, no aconchego da mão destra e sabida na peixeira
embaixo do balcão.
-“Já
nem sei dos meus porquês. Venho arrepiando pelos fins dos mundos por conta dos
desafetos dos outros. O único nome que atendo é Você, mas não faz falta outro”,
respingou o do rebenque. Maneco assuntou. -“Cavalo ajeitado, moço, lembra tropa
do lado da Forquilha, já deu vista”? Ouviu -“Andei por disperdidos, mas este
animal caiu nas mãos por conta de pagamento justo, vindo de gente vingueira, procurando
cabra de profissão de segredo para assentar casos mal resolvidos”.
Maneco
aliviou, com a canhota, um quesito, pinga, no copo de Você antes de beber a sua
e com a destra amestrou o punhal empertigando para sair da bainha. -“Sossega
menino que a noite já vem”, desdisse. Você sondou se Maneco dava conta, de
passagem, da Forquilha, falada velha, conhecida. Maneco atinou de longe os questionados,
fingidos, não teria mais fuga. -“Campeei, por demanda de mandados de terceiros,
assunto de prosa acabada e que já não interessa a mais ninguém, nem a mim.
Houve há muitos acertos que não se deve mexer mais, pela boa saúde de deus”.
Você
entendeu o recado, manso, definitivo, aprumou no faz de conta que iria embora e
puxou o punhal rápido como vagalume no cio. Caíram na estrada, deixaram as portas da
venda. Você tropica, buraco que D’Onça gingou para ser. Maneco puxa a lâmina, desde
o desaforo do bofe de Você, até acarinhá-lo com sua alma e os dois mortarem
amasiados.
Respeitosos,
truqueiros ajudaram Maneco cavalar Você, finado, sem queixumes, no animal. Anoita,
venta. Maneco lambezeu a mulher, beijou as crias, rezou um credo, dormiu amuado,
dessabido se desmembrara a alma de Você dos seus pecados do bofe, por carência,
profissão ou prazer.
Ceflorence 16/05/17 email cflorence.ambrasil@uol.com.br