ANATOMIA DA SOLIDÃO EM RÉ MAIOR D’ANTANHO.
De porcelana o gato olhava
tristonho, meditava azul sobre a mesa.
Partilhavam, competia ao relógio
reger a preguiça atrasando pontualmente.
Cainha, prima, para pecar anoitando,
espero, se Deus quiser, reza.
Tempos e tantos se marcavam pelo
trem que avisaria à Vila assim, no repente.
Dois adverbiais, lentos, jogavam
paciência nas mãos das minhas avós.
Mãe Dina fritava iscas de angústias
antigas, calma, delicada, sem pressa.
Dentes escovados, sino das seis propôs,
sono, resguardo, regados cravos.
Convido Cainha para visitar a
bica, a boca, bolina, o beijo, anseios.
Escureceu. Uma nuvem queria
brincar de garoa, amém, desmotivou.
Nos demos, sem cismas pelas
ramas as mãos, eu o regalo, ela os seios.
O silêncio chamou o carinho, o
carinho o motivo, o motivo enfeitiçou.
Cerra-se o portão da frente, quem
chegou se deu, quem não, restou.
E por ser, sol, se despedia em
furta-cores para deixar dormir motes e cantos.
Lembro, faço-me choro, foi-se. O
futuro inútil sumira graças ao então delicioso.
Corria um riacho, entre os
desejos, ao fundo a bica, o pequi, tais e encantos.
O porvir escondíamos nos
menosprezos, era fútil, melhor o ali, caia moroso.
Atento, o galo, muito nosso, se
fazia de alerta quando a intromissão surgia.
Mãos, lábios, sonhos subiam
pelos silêncios e corpos, bem nos quer, a sós.
O sotaque mal afinado de um
violão destoa, sei onde não, solfeja agonia.
Venta Noroeste para a estrela
candente espionar o ouvir do que fazemos nós.
Caminho, frente, trota o atraso
acavalado do tropeiro ao sem rumo ou motivo.
Presto atento, riacho brinca de salta-mula,
assim marulho as pontas dos seios.
Sumimo-nos de dois ao sermos só um
se dar, o restado foge no embora altivo.
O galo avisa que sombras saem do sobrado às catas nossas pelos
entremeios.
Mãe Dina campeia-nos sumiços, trevas, suas velas, trovas,
preces, chamas.
Fugimos pelo desejo, lado oposto, disfarçamos delongas com a
realidade.
Havia só o por ser sendo, pois o tempo não semeava tristeza
ou dramas.
Ânsia cala, vontades quietam, somem os seios, para só ver amanhã,
risonho.
O curiango estica pelo além, Cainha, acha a porta da cozinha,
eu uso a saudade.
Intuía tudo Mãe Dina, sorri ao galo para acalentar seu atino do
nosso sonho.
Tempo deu-se a me esgarçar passados, a não ensinar esquecer. Tal
choro
Ah! Deus;
adeus. Digo, doido, doído ou oro?
Ceflorence - Joanópolis - 16/02/21 e-mail carlos.florence@amabrasil.agr.br