quarta-feira, 5 de setembro de 2018


POESIA EM OUTONO OU OUTROS MOTIVOS
O verde mais sonoro, que por timidez e método preferiria camuflar-se entre as melancolias ouvindo o canto distante dos pássaros, surgiu do inesperado, ou melhor, do imaginário, sequer perdeu o tom singelo e suave tão logo um discreto delírio se derramou para lacrimar sobre os delicados sorrisos, enquanto as crianças recolhiam pelas calçadas as fantasias deixadas pelas colcheias subindo as paredes caiadas do casario modesto para realimentar os sonhos. Tendo findada a safra alegre da colheita farta dos folguedos e fantasias, as moças prefeririam o luar nascendo envergonhado entre os desejos simples e a luxuria ainda em formação, para enfeitarem seus sorrisos graciosos. Um bem te vi revoou dos motivos coloridos em que assentara, esperou a brisa trazer notícias novas do pôr do sol e silenciou descuidadamente como preferem as aves menos atrevidas. Por habito de repetir as melodias os pássaros, escapou o bem te vi experiente dos caminhos difíceis e tortuosos, sem abusos ou pedantismos, se desfez dos devaneios e das galhofas para provocar o conflito entre a tristeza e a esperança, embora os homens sérios e nobres não se conformassem somente em aceitar as razões simples das criaturas da natureza para se encantarem.
Nada disto faria o menor sentido, não fosse o sino da Ave Maria pedindo nostalgia e relembrando a todos para se recolherem às meditações. A cidade se enroscava pelas vielas estreitas para tentar ganhar o firmamento e se esconder. Se davam estes bailados entre as nuvens querendo levar suas águas para chorarem mais perto de Deus, embora, para quem estivesse a procura só de acompanhar o tempo se desfazendo em passos lerdos e despreocupados, veriam silenciosos as formas mais graciosas de aconchegar à preguiça e sorver a solidão. Por ser o momento propício, embora tenham sido distribuídas gotas miúdas de prazer recolhidas nas entranhas da puberdade, não se ofereceu, como devido, explicação à maré montante obedecendo à ansiedade da lua. Recolheu-se cuidadosamente ao inconsciente solitário a mensagem guardada entre as melhores metáforas e, sem deixar o verbo se colorir de mágoa, cada um se pôs a procurar afetos pelos meandros esquecidos que o passado levara.
Sem ser de direito, pois, como era previsto, as notícias nascidas no regaço da dúvida se envolveram nas suavidades das brisas, mas chegaram envoltas em crisálidas antes mesmo de se enfeitarem de borboletas. Portanto, o mesmo amolador de facas encantou o destino espalhando pela rua deserta o tom grená do seu flautim afinado em melancolia e entoado em ré maior. O tempo se fez então presente entre os transeuntes, puxou consigo uma preguiça teimosa que se dispersava pelos paralelepípedos, escorregava mansa pelas calçadas e pelas mentiras mesmo como as lágrimas das chuvas preferem ao lavarem os pecados e encantarem os desejos.
Aproveitando o remanso do azul, o infinito distraiu-se a bolinar os delírios achegados, sem desmerecer as saudades, não se permitiu ouvir o silêncio da escuridão caindo metodicamente em ré maior camuflando as rimas do futuro desconhecido.
Ceflorence    28/08/18       email   cflorence.amabrasil@uol.com.br

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