quinta-feira, 20 de abril de 2017

ENTRELAÇADOS E ANDADINOS, POIS.
De onde espionávamos investidos em nossas mudezes, ali entre o pedaço delicado da solitude e o devaneio despretensioso, distinguíamos uma cália, porte médio, voz cadenciada de neblina tímida, altiva, mas não esnobe, além de sete virgens entorpecidas de anseios e deleites, todas aconchegadas ao pé do arco-íris enfeitiçado em colcheias. Sem dúvida, por inebriadas em seus melindres pelo olor dos olhares e as mimosas cores dos sorrisos, o arco-íris acarinhava gratificado cália e virgens. Acompanhávamos o entrelaçar afetivo das virgens bailando em torno da cália na ânsia suave de isolarem a essência do azul, separando-o ainda inibido e amedrontado do firmamento, cerimonioso, por se sentir desprotegido sem sua tonal exuberância e magia. Meticulosa, a cália orientava as virgens para não traumatizarem ou desbotarem qualquer um dos parceiros após isolados, azul e firmamento, pois poderiam sentir-se rejeitados, assim despojados dos envolvimentos existenciais infinitos, eternos. Tal se dando foi em bemóis adequados, delicadas alegrias despretensiosas, permitindo ainda aproveitar as poucas aparas sobradas em mimos para deliciar o aleitamento de fantasias e estimular outros adjetivos. Anotamos com atenção, acantonados naquele resguardo de vácuo afetivo, que a cália trouxera em sua imaginária bagagem, basicamente carregada de caprichos, uma única muda, já quase murcha, de alpéquia.
Estendia-se à jusante do devaneio, por onde se acomodara uma nostalgia inebriada com o arco-íris acarinhando as virgens empolgadas com a cália, uma euforia amena de vontades singulares sorrindo e lambiscando suaves beijos liberados para brincarem meigos de cobra-cega e barra-manteiga. A alpéquia trazida para excitar sonhos e prazeres, albergada nos alforjes ideais da cália, era forte emoção desconhecida em nossos meios, original e nativa do norte de Abagaliádem, onde tresandava nua a procura de pequenas loucuras, de paradoxos desinibidos e de luxúrias amigáveis. Aninhava em seus seios um calor sereno de amor, manipulava com incrível habilidade enormes cílios de desejo ausente de censuras, permitindo aos anseios envoltos na alpéquia exalarem cativantes perfumes de adolescência sem o menor traço de cisma ou remorso.  De seu lado o azul, já despido da coabitação por infinitos poéticos e outros proveitos carinhosos com o firmamento, até então indeléveis, carecia dissolver-se em meandros de extravagâncias para se permitir, em tempos de euforias, estimular desejos, deliciar sabores, multiplicar orgasmos. A cália entendia cativante instigar o acasalamento do azul desmembrado do infinito com a alpéquia desnudada de Abagaliádem, permitindo a perpetuação exuberante da demência, da liberdade, da quimera. Assim se empolgaram as metáforas ao se darem.
O desejo, ao som das brisas acalentando ilusões, saudou os passos sensuais do azul em ritmo de amor e ventura. A alpéquia se desfez em melindres, desmembrou um enorme pedaço do arco-íris para tecer o futuro, despojar o passado e engravidar-se do azul. O poente coloriu em lágrimas, mistificou-se em silêncio. O vácuo, aconchegante, nos abortou em tempo hábil, deleitável, instigante. Desencaminhamos de mãos dadas.
Ceflorence       10/04/17     email   cflorence.amabrasil@uol.com.br   

quarta-feira, 12 de abril de 2017

DAS TRISTURAS, DAS ÂNSIAS, DAS PIPAS
CARO AZÉLIO- Já arriadas as bruacas entrouxadas de amarguras apoito meus desencantos junto a um pé de solidão, de onde o bem-te-vi me acusa. Consulto-o daqui para saber se endoidei ou se o destino me amordaçou, caro Azélio.  Ao notificá-lo, atualizo: deixei nossa Canturaí após tribulações, sem saber por que, para onde, até quando e se queria.  Com as carências desmanteladas, sequer postei espaço suficiente para despedir-me dos amadrinhados canarinhos com quem versava, madrugando, enquanto brincava com os gravetos no Ribeirão do Mormaço. Abandonava ali os gravetos portando minhas opressões, águas abaixo se fazendo, na ilusão de que pelas margens do riacho voltassem respostas sanando tristuras. Mas mesquinho vento tripudiava irônico ao embaralhar as respostas as minhas angústias. Não duvides.
 Saindo atropelei tralhas às costas, manhazinha e tanto, a ponto de nem alimentar as borboletas que ainda sonhavam mimos e sequer reguei as mudas de esperança que Licia semeara antes de me dar o último beijo. O nada chamava. Não havia intuito a ser dado de motes ou destinos, pois parti para desandar sem prumo ou compasso. Concluindo que continuaria sem encontrar respostas aos desatinos, escrevo-lhe ainda sem assentar norte. Amontoei na partida, de improviso, na mochila, só as frustrações, os paradoxos amamentados com incúria, aquela tristeza ranheta, um único livro já relido, de caso pensado, para não incomodar a preguiça e por fim, um pedaço carnudo de probabilidades, que a incongruência jamais deixou virar esperança.   Sai de Canturaí na cisma de achar um inesperado que palmilhasse destino melhor nos trilhados. O inesperado é aquele rodamoinho dolorido com que o demônio se embriaga, enquanto cruza nossos titubeios fustigados pela ansiedade. Iludia-me intentava trocar passados por futuros e tristezas por esperanças. Delírio? Não se reflete quando se foge de si e o passado é como sombra, rastreia desde os tornozelos.
Não acreditarás, não sei se enlouqueci ou fantasio. Em fim de tarde, já se faz algum, aportei em deserta praia onde aprumei vista no Silêncio Moroso, pouco arredado, batizado pelas ondas molhando lhe os pés. Meus inúteis, rasurados na memória, pendurei na angústia, sempre a minha disposição e os anseios carregados na mochila adiei amoitados. Deitei-me coberto com o cansaço e amarfanhei a solitude no abraço. Então, do infinito, distanciando meia dúvida e a um rastilho de inesperado, se tanto, aflorou da maresia uma pipa arrastando descabelado, pela praia, menino lindo, sonho. Enxugando os pés, o Silêncio amealhava seus olhados à destreza do papagaio, insinuando hábil o guri pela orla para que não se emaranhasse nas ondas buliçosas.
Abordei o Silêncio, nas sombras, para não assustá-lo, perguntei-lhe de onde surgiria a pipa enlevando o menino sobre as pegadas da além. O Silêncio ciciou-me, para a pipa não ouvir: - eles se enfeitiçaram nos choros do guri dissolvidos nas areias entre as suas desesperanças. A pipa enxugou as lágrimas do garoto com favos das ficções, espargiu o supérfluo do alto sobre as ilusões e saíram a brincar de fantasias.
Perguntarás o que eu, aloprando, estou aqui a fazer? Espero aflito voltar a pipa, então o miúdo descansará, aasim o papagaio e eu desbotaremos em azul no sustenido.  
Cefloence   01/04/17        email   cflorence.amabrasil@uol.com.br

quarta-feira, 5 de abril de 2017

LAPSOS DE SOLIDÃO.
Só poderia sonhar em melodias outonais, mimosas solidões, provérbios. Era Alia em si e deus ouvia. Curtas premonições das cores e dos ensaios acalentavam as brisas antes de serem desfalcadas de suas mercês. Procedente, excitadas pelas palmas e sorrisos arrecadados entre as mais carentes fantasias, considerou-se correta a ordenação introdutória à tarde acabrunhada, disfarçada de bemol, sem afirmar sequer se a representação da tristura estaria disponível. Alia sorveu o retorno do nada oferecendo mesuras. Os timbres das cigarras embalavam as ameixeiras, engravidadas pelas euforias dos zangões, antes de amadurecerem nos caules mais altos mordiscando sete nostalgias e duas luas preparadas emocionalmente para distorcerem a realidade. Se fosse dado a Alia e por quem transitasse em sentido inverso memorar, mesmo desconsiderando o carinho dos extravagantes verbos sedentários, acompanhando meticulosamente as metamorfoses das delicadas mariposas, não intuiria os arroubos da sedução da gravidade excitando à maré montante e as delicadezas das melancolias bolinando mesuras sobre as águas prenhas de poesias.
Os dois escribas salvos pelos saltimbancos atravessando o vau estreito do rio dolente, pescando fantasias ocasionais para serem abandonadas às margens longas, foram contundentes em seus arremates. Compenetrados, não deixaram escapar, os escribas, o menor traço em registros seus de que quando as considerações aconchegaram aos umbrais dos telhados inteligentes, consultando as dúvidas, as calçadas indecisas se permitiram atravessar algumas chuvas intrigantes e sensuais. As pedras das calçadas envaidecidas, umedecidas, se amoleceram com os beijos de deus atentando, calmo, a direção indicada pelas andorinhas libertinas. O sino ludibriou o silêncio permitindo que Alia D’El Lípia se despisse em ré maior enquanto entorpecia imaginários orgasmos. Tempo posto, o poeta desmanchou pequenas ternuras tramadas de flores dolentes com contrapontos de sigilos, melodiando as pétalas sorridentes entre os seios miúdos e a imaginação desfraldada de Alia no intuito único de corromper a rotina e mistificar o desconhecido. Os imponderáveis mágicos, consagrados e melancólicos, oferecidos aos imprudentes mais achegados à entronização das fantasias eróticas do poeta Maistrosk, entrelaçadas às profecias azuis extraídas dos sonhos de Alia, não foram germinados na evocação da solitude.
Final em escalas dodecafônicas, período de procria das amenas estrelas, tanto deu-se assim, pois Alia passou a conflitar com sua angústia preferida, espreitando de soslaio o melancólico pé esquerdo fixar-se convicto na intenção proposital de desestimular uma metáfora indecisa a substituir distraídos versos seus, alexandrinos, por uma psicanálise freudiana. Na dúvida, sem o menor remorso, os artelhos canhotos do pé eufórico, adentrando poéticas terras com suas radicelas mimosas, concisas, concederam ao infinito, desmedindo delicados gestos espontâneos, a excitação carnal para arborizar Alia em todo o esplendor da solidão eterna, sensual, ordenando-lhe florescer sonhos, graças. Desejos, luzes espreitavam entre as desforras.
Ceflorence    23/03/17         e-mail  cflorence.amabrasiluol.com.br