VISITA EM AZUL
Minha
angústia e eu não nos colidíamos, ébrios ou sóbrios, há mais de um desespero
robusto, duradouro e fugidio como sempre foram nossas antíteses, pois os
confins ambicionados não se afinavam em métodos e rituais acordados. As
psicoses mais maduras passam por estas fases antes das reconciliações saudáveis
com o absurdo e com o surrealismo. Abençoado renascimento que permitiu à
consciência puritana despir-se de misticismos e a loucura foi franqueada aos
ingênuos, aos larápios e aos idiotas. Mas retornando a alma, minha, e a
angústia, nossa, por solicitude de ambos a tentar soluções, marcamos encontro
para sanar nossas diferenças. Deveríamos atingir ao mesmo tempo a vertente
oposta de nosso conflito, auxiliados pelos demônios insanos e termos, pelo
outro angulo, o da retaguarda, a solidão acalentando-nos. Registre-se ainda,
sofrendo de nevralgia a solidão após as sessões de terapia de grupo e ablução espiritual
a que nos impúnhamos. Até mesmo antes do porem habitual, nossa solidão
despontou inesperada, pontual como o desfecho da ingratidão, fantasiada de azul,
mas tentando calar-se enquanto as lágrimas acompanhavam a ansiedade da libélula
sofisticada, galgando as partes mais inusitadas do porvir, desfrutando lascas
do futuro próprio e exibindo-se ao provérbio petulante. A libélula estilhava
delicados anseios de paixão pelo proverbio aristocrata e indiferente.
Ainda em
tempo a janela do sótão escancarou-se para acarear se o vento faria parte do
futuro, da nostalgia ou do insolúvel, enquanto duas ansiedades, por fora, aguardavam
para assumirem papeis fundamentais de gestoras do azul. Era sabido, por mim e
pela angústia, nestas circunstâncias, que ao cair da tarde as memórias viriam a
cavaleiro do infinito, arrastando, mesmo contra a vontade, os traços e os preconceitos
mais exaltados do passado insolúvel e inconsciente. Em função dos fatos
consumados nos impusemos, angústia e eu, meditação, silêncio e poesia. Para contornarmos
nossas intransigências, deixamos de sobreaviso duas alegrias palpáveis e uma
mariposa no caso da libélula irritar-se enquanto, emocionada, não osculasse os
lábios do provérbio.
Sendo
momento oportuno às propostas transcendentais, este movimento só se cristalizaria
quando as metamorfoses das borboletas se envolvessem na captura do porvir natural
e espontâneo. Nesta busca, no propusemos, sempre angústia e eu, a decompormos
em harmonias dodecafônicas nossas demências ainda neófitas, para se esconderem
alegres, como crianças livres das censuras. Só criaríamos rimas e fantasias
destruindo as censuras que carcomiam os sonhos e os delírios. O além não
interferiu.
Afetivos
debulhamos, a angústia acomodada sobre sua nostalgia mais adequada e eu revisitando
os traumas do complexo de Édipo, duas dúzias de pétalas de rosas vermelhas sobre
o provérbio camuflado, então de azul se exibindo, para que ele abdicasse da
soberba e volvesse seus olhos mudos para a libélula apaixonada, sofrida. Bemol
era a cor das memórias em casulos antes de se esconderem no poente.
Ceflorence 18/10/16
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