ORAÇÃO DOS DESENCANTOS E OUTRAS CISMAS
Quem por
desavença, destino ou praga se dá, mesmo porfiando descuido ou desajeito e se
assenta para peneirar o azul do provérbio, assim destilar mentira, verá
depositados nos escaninhos da vida peneirada um borralho grosso de demência, do
lado que a sorte é mais calhorda e do outro um ranço de solidão. Abeirado ao
retido notará, desfibrando, o cheiro acre de enxofre azedo, fermentado em
chumaço graúdo de despautério. Neste proceder, meticuloso para não desandar, a
sutileza bela do nada se enfeita de ser, mas só depois de manipulada pelo
destino. Fica separada assim, no centro desta bateia cósmica uma catinga
apodrecida, inexplicável, condimentada pelos demônios vomitando probabilidades
e inesperados sem aviso antecipado na ardência da sobra de ilusão ou estrelas.
Loucos e desvairados. Mas para não dizer que a sina se alienou na desgraça, só,
ficam caídas no canto esquerdo, também, os pedaços mais graúdos de angústia,
que o senhor aproveita para lambuzar as almas que o enganaram ou das outras que
ele ludibriou nas encruzilhadas das tabocas. Por derradeiro, as solidões se
aglomeram em pedaços maiores e enroscam na joeira.
Assim se grafa o evangelho dos descalabros para
desvelo das ameaças e outras torpezas. Segundo os alistamentos dos alucinados e
imbecis, há os que acreditam em deus, embora nem sempre deus nos próprios fie.
Também se contam entre os tarjados, múltiplos em série por não serem poucos, os
que de mais ardilosos se assanham nas tramoias e sorrelfas para catimbarem
divinas dádivas, em santos nomes, e nunca pagam assumidas contas. Jamais
esquecer os mentirosos ao senhor voltados, que os há desmesurados, no entanto
não são, com certeza, os mesmos que deus escarnece. Destrava-se entre alguns os
pios ou trêfegos pedintes de dízimos, adereços, relíquias, indulgências,
profecias, promessas, esperanças, falcatruas. Estalam estes ligeiros aos céus
infindáveis, como se portavam os sarracenos, os olhos sebentos de ardis
mesquinhos, pastores oportunistas de melodramáticas curas e promessas no jamais
obtidas, refazem os gestos intrincados, amiúde, as contas com os aléns, por se
adornarem de lídimos depositários provisórios dos tributos aliciados em divinos
nomes e os esbanjam muito por conta, até deus vir no encalço para justo reclamo
da sua parte. Então, ah! Adeus a deus. Andais, oh deus.
Há ainda, nem mais retardos nos propósitos, mas nem
também os mais afoitos, pois são notados tanto entre os justos como entre os
vendilhões, alguns mais descuidados e do senhor darem por falta ou conta só no
caminho da morte, amém. É o quanto basta por ora, meu bom amigo para começar a
desfolhar o futuro, os imprevistos e as destrezas outras a serem manipuladas no
correto espaço entre a vida e o eterno. Tenha bom tempo e chame quando for.
Fechadas as sanhas, os ventos pediram aos badalos
da catedral que abrissem seus silêncios para os infinitos poderem repousar nas
pazes das inverdades e das falcatruas.
Ceflorence
16/11/17 email cflorence.amabrasi@uol.com.br
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