quarta-feira, 6 de setembro de 2017

VELÓRIOS-ATRACANÇAS-DESALMAS
Nos exato do tiro golpeando o peito, o trançador das benções, rezador dos couros, cantador dos improvisos, jogador de truco, meeiro das almas foi despachando a vida no intuito de livrar as dúvidas, se imiscuiu torto ao florido do maracujá assustado e atreveu a achar o caminho para beijar a morte. O morcego nem esperou a coruja para voar pelos cantos a procura do desespero. Camiló depositou o espírito na formosura da flor de maracujá, desanimou de proceder.
A flor mimosa do maracujá recebeu o último beijo, boca sangrando, Camiló esvaindo, arrepio de começo, desatino de fim. Subia da Várzea da Malita uma tristeza salobra por ordens das maritacas alvoroçando suas sintonias. Amealhou a flor chorando, machucada com o sangue pingado, compartilhando destino com a brisa soprada da capoeira pela seriema acabrunhando condolências. Tramando cortar caminho pela trilha da capela a flor se persignou nos ensejos dos respeitos, insinuando por dentro do cemitério. Derivou a graça nos atinos calados dos cantos pausados dos pintassilgos voejando entre as quiçaças e atendendo a tristura da morte, subiu serra longa, a flor, para notícia da triste sina chegar. Enquanto entumecia angústia envolvida no vento manso, mudo, a flor rodamoinhou a moita de bacuri e  espiou Inhazinha, mulher, enxaguando as roupas, ninando as tristezas, proseando, só sozinha, suas lamúrias, no córrego e se fez de silêncio aquietado até a coragem parir a vaza. Caminhou a flor pelo sítio nas pontas dos caules, assomou a meninada dormicando uns restos de noites.
Não afoitou o maracujá florido de achegar Inhazinha amargando prosa sozinha com as roupas, cantarolando ladainha de muxoxo no ribeirão, cismando previsões de desajustes sem a chegada, na véspera, de Camilo e trançados. Aguardou a flor, quietada de melindres, lacrimosa, amuada de silêncio, ajuizando cisma, encimando o pé da aroeira madrugando seu olhado sobre os vazios. Atinou as conversas de Inhazinha consigo mesma e mais deus, água correndo por baixo das roupas enxaguando. Bambeou a flor do maracujá, desabonada de promessas, pela picada miúda, arrodeando as taboas e desflora arroxeada de dessabores no pé da tábua de peroba molhada das roupas sovadas. Inhazinha nem destina, emudece, desestorva a angústia para saber que já sabia o recado correto do maldito feito pela flor portado, enroscando desgraças e carregadas do ranço forte de morte tida. Notícias recebidas, no rodopio do vento, seguem em passos de amaldiçoadas infelicidades a família em fila de índios calados na sequência das agonias. E seguiram a flor voltando mesmos passos da vinda convicta de suas prerrogativas de testemunha de sofrimento, os destinados a encontrarem Camiló ainda abeirando mesmo lugar onde atirado fora pela garrucha na Bica das Putas e gente muita acoitando o corpo desprovido de vida aguardando as soluções.
Misturou na fartura de gente de todos conhecidos amigos e sinceros respeitosos, em sendo Camiló, chorando povos se puseram para sofrer ausência por morte. Amizade debulhava no atento, cada afeto sempre acatado, sendo o velório atendido por boiadeiro comprador de trançados, puta carente de carinhos, massagens e premonitórios, jogador de truco, aparceirados nas refregas das jogatinas requentadas, criançada mole de sorriso farto embalada alegre nos cantos macios, nas estórias silvadas, nas delongas fantasiadas.
A roda se formou e a família acercou na precisão da carência. Fim de Camlió que Oitão desviu para sempre e saudosa por morte desmerecida.
Ceflorence – e-mail: cflorence.amabrasil@uol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário