VELÓRIOS-ATRACANÇAS-DESALMAS
Nos exato do tiro
golpeando o peito, o trançador das benções, rezador dos couros, cantador dos
improvisos, jogador de truco, meeiro das almas foi despachando a vida no
intuito de livrar as dúvidas, se imiscuiu torto ao florido do maracujá
assustado e atreveu a achar o caminho para beijar a morte. O morcego nem
esperou a coruja para voar pelos cantos a procura do desespero. Camiló
depositou o espírito na formosura da flor de maracujá, desanimou de proceder.
A flor mimosa do maracujá
recebeu o último beijo, boca sangrando, Camiló esvaindo, arrepio de começo,
desatino de fim. Subia da Várzea da Malita uma tristeza salobra por ordens das
maritacas alvoroçando suas sintonias. Amealhou a flor chorando, machucada com o
sangue pingado, compartilhando destino com a brisa soprada da capoeira pela
seriema acabrunhando condolências. Tramando cortar caminho pela trilha da
capela a flor se persignou nos ensejos dos respeitos, insinuando por dentro do
cemitério. Derivou a graça nos atinos calados dos cantos pausados dos
pintassilgos voejando entre as quiçaças e atendendo a tristura da morte, subiu
serra longa, a flor, para notícia da triste sina chegar. Enquanto entumecia angústia
envolvida no vento manso, mudo, a flor rodamoinhou a moita de bacuri e espiou Inhazinha, mulher, enxaguando as
roupas, ninando as tristezas, proseando, só sozinha, suas lamúrias, no córrego
e se fez de silêncio aquietado até a coragem parir a vaza. Caminhou a flor pelo
sítio nas pontas dos caules, assomou a meninada dormicando uns restos de noites.
Não afoitou o maracujá
florido de achegar Inhazinha amargando prosa sozinha com as roupas,
cantarolando ladainha de muxoxo no ribeirão, cismando previsões de desajustes
sem a chegada, na véspera, de Camilo e trançados. Aguardou a flor, quietada de
melindres, lacrimosa, amuada de silêncio, ajuizando cisma, encimando o pé da
aroeira madrugando seu olhado sobre os vazios. Atinou as conversas de Inhazinha
consigo mesma e mais deus, água correndo por baixo das roupas enxaguando. Bambeou
a flor do maracujá, desabonada de promessas, pela picada miúda, arrodeando as
taboas e desflora arroxeada de dessabores no pé da tábua de peroba molhada das
roupas sovadas. Inhazinha nem destina, emudece, desestorva a angústia para
saber que já sabia o recado correto do maldito feito pela flor portado,
enroscando desgraças e carregadas do ranço forte de morte tida. Notícias
recebidas, no rodopio do vento, seguem em passos de amaldiçoadas infelicidades a
família em fila de índios calados na sequência das agonias. E seguiram a flor voltando
mesmos passos da vinda convicta de suas prerrogativas de testemunha de
sofrimento, os destinados a encontrarem Camiló ainda abeirando mesmo lugar onde
atirado fora pela garrucha na Bica das Putas e gente muita acoitando o corpo
desprovido de vida aguardando as soluções.
Misturou na fartura de
gente de todos conhecidos amigos e sinceros respeitosos, em sendo Camiló,
chorando povos se puseram para sofrer ausência por morte. Amizade debulhava no
atento, cada afeto sempre acatado, sendo o velório atendido por boiadeiro
comprador de trançados, puta carente de carinhos, massagens e premonitórios,
jogador de truco, aparceirados nas refregas das jogatinas requentadas,
criançada mole de sorriso farto embalada alegre nos cantos macios, nas estórias
silvadas, nas delongas fantasiadas.
A roda se formou e a
família acercou na precisão da carência. Fim de Camlió que Oitão desviu para
sempre e saudosa por morte desmerecida.
Ceflorence
– e-mail: cflorence.amabrasil@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário