LAVRADIOS DOS ANSEIOS E
TRISTURAS.
Enquanto
o desassombro revia seus comezinhos urdindo tramas para continuar o dilema de
preparar infâmias outras, desatinos da vida para não desnortear do poente, a
lua ainda no embalo do seu destino de ser para o será, ajustava providências para
o sucateiro exausto achegar. E estas tantas providências nada mais foram do que
separar as tarefas das caladas das safras entre o dia e a noite e, portanto,
resolvido este impasse, os astros acompanharam Cadinho Prouco, descamisado,
tisnar com carvão, ódio e respeito a linha das magias, aléns juramentados. Traçou
caprichoso, Cadinho, ao pé do frontão enorme do mosteiro gótico, prestimoso na
querência de agatanhar o céu, semicírculo sinuoso, místico, para proteção dos
ventos, dos vivos, frios, mortos, da polícia, calor, da maldade, sacristão, da
puta que o pariu. Ao encarvoejar abnegado o chão descarregava os encarnados dos
desmandos, torpezas e das sanhas para fora dos seus domínios. Neste assim, com
o simples carvão cravado, defendia-se Cadinho das agruras, doenças, das lutas.
Era o que lhe cabia nas águas que bebeu das preces da mãe, sertanejados tempos,
que trazia no sangue as oitivas dos orixás, dos deuses, das sabedorias e
ordenou ela, nas despedidas finais, a Cadinho nunca dormir sem enfezar os chãos
e as almas com os carvões consagrados.
O
debuxo atiçou fundo nas texturas e demarcadas ficaram nos grilhões os limites
das posses encarvoadas. O aviso para os infinitos, para os vivos e para os
falecidos era o nefasto-nefando, seu e só seu só do seu latifúndio de solidão,
só, da sua loucura-sadia, só, da sua desesperança-esperança, do seu
inferno-celeste, do receio-corajoso, do seu imponderável-previsível, só.
Confirmara-se ali o espaço ilimitado grilado das fatias de rancor desprezadas,
da fadiga agônica, domínio do intangível, do inalcançável. Os invasores das terras,
dos aléns, dos sonhos, abstratos, das insanidades e das ânsias respeitavam e
acatavam os frontais tisnados de Cadinho. O tempo e o espaço se dividiam entre
a labuta dos arrastos sofridos das cargas intermináveis pelas ruas infernais e
se findavam nas bocas das noites, depois de delineadas as divisas mágicas
encarvoadas como posses suas, aos pés dos sinos divinos da igreja. Era a magia
do nada na alucinação do vazio pelo poder do irreal, que se estabelecia, se
instaurava, se tornava concreto, inabalável, tão só cinzelado pelo delírio e
pelo imaginário do catador de dores e papelões descartados. Neste império os
mortos afetuosos enlambuzavam suas solidões, os vivos fugiam ameaçados, as
almas acalantavam afetuosas. Era por ali dos encarvoados encrustados a sete
barrocas de sofrimentos que retornava ele aos seus Oitões, terra acarinhada e
saudosa dos sertões ressecados, das catingas, da passarinhada, onde fora parido
para a vida e de onde fugira abortara aos destinos das danações pelas secas.
E
ajustou como domínio de fé indiscutível, descendo as ordenações das posses,
perpendiculares dos benditos telhados abençoados desde as torres tristes da
matriz, serpenteando chão frio e lambuzado da confiança no destino, apossado
tudo ficou.
Ceflorence 04/09/17 email
cflorence.amabrasil@uol.com.br
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