POR
SER EM POESIA - SÁBADO
Escapou de Levício em manobras
sutis e delicadas, aportou no Condado de Transbéria, região ao leste das
fantasias, mas de difícil acesso ao norte da sensualidade, trazido pelas ninfas
de Cambélia, em seguida, tão logo os ventos permitiram, esparramou-se entre as
mulheres de mais de seis desejos, embora ainda arrefecidas em relutâncias, e
homens obstinados em continências e repressões afetivas, enclausurados, e junto
veio a noticia que no Convento de Abiganhã Sefazil, por desatino e
inconsequência das deusas do prazer, se introduzira de forma irreverente e
dissimulada, em seus caprichosos e protegidos jardins, cuidadosamente semeados
em canteiros reprimidos dos inconscientes, fertilizados com estigmas recolhidas dos pináculos dos censurados, substância
incontrolável, melíflua, atrativa.
Detalhes precisos da apavorante
substância, classificada pelos monges, ainda pelos anabatistas, só os castos, e
confirmadas por competentes videntes em estados de alucinação e pavor, definiam
que em circunstâncias especificas se espargida de forma gutural, afetiva,
perigosíssima ao pé da orelha, acima do pescoço, fatal, ou lançada contra a
corrente dos preconceitos, a matéria delicada, sinistra e excitante, originária
dos canteiros de Abiganhã, se apresentaria suavemente afrodisíaca, insinuante,
des-preconceituosa. As recomendações de se eliminar todos os vestígios da
maligna praga psicológica, como se articularam os movimentos defensores das
intransigências e das condenações, eram que dependendo da quantidade, da
coloração, da oportunidade no consumo desavisado, sem repressão, a predestinada
petulante alienígena se imiscuiria em momentos de silêncios e resguardos, trocando
mensagens espirituais, desvirtuando valores e provocando criminosos encantamentos
contraditórios, embalados sorrateiramente e substituindo os recatos pelos festins
pagãos, orgias, ou outros concílios não recomendáveis aos gentios de boas
condutas.
Mas era sábado dos deuses
insubordinados. Os caminhos foram se amoldando as restrições e as mulheres de
seis desejos e os homens dos claustros castos vestiram suas saudáveis demências
de finais de semanas, resguardaram suas angústias nas prateleiras livres das
crianças, tomaram seus vinhos antes das aves contornarem os arrecifes onde
estavam instaladas as solidões de suas mesas individuais e se procuraram
receosos de que as pragas de Abiganhã os obrigassem a se despir dos medos e das
nostalgias. O refrão das ninfas foi se acomodando, desmilinguido, costas eretas
se desfazendo em olhados, desdizendo em murmurinhos, confidências. As ninfas defloraram
sobrados azuis de fugidias meiguices dos jardins de Abiganã entre as mesas. Salpicaram
quatorze desejos, sem preconceitos, distribuíram uns cata-ventos despidos de receios
e deixaram as sementes das pragas dos conscientes adornando as fantasias das
mulheres de seis desejos e dos homens enclausurados.
Dos jardins de Abiganhã as
deusas dos prazeres se acomodaram nas suas petulâncias, desmediram
irresponsabilidades risonhas e devoraram um imenso raio de solidão que
amaldiçoava o Condado de Transbéria. Bebericavam seduções, por serem deusas.
Intimaram que por ser sábado as ameaças se realizariam, por ser sábado.
Ceflorence 15/05/17
email cflrence.amabrasil@uol.com.br
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