quinta-feira, 24 de novembro de 2016

RENASCENÇA E ENTROPIA
            Muito nos primórdios, antes até do entrelaçamento das poesias e dos azuis brincarem de beijos ao gestarem utopias, quando as lágrimas se recolhiam e os sonhos desabrochavam, mesmo anteriores a criação do aqui e do agora, só se apresentava ao infinito e ao porvir a sólida imensidão do nada. Tanto que se deram os relatos, estes, transcorridos nos inícios dos quatro bilhões e meio de maturação, mensurados em anos de fantasias, os quais precederam o período posterior compilados em badaladas longas, mas decididas, já nos atuais eventos-luz. É fundamental registrar, portanto, que estes fatos lastreavam-se no abstrato, no imaterial, meticulosamente grafados só sobre o além e envoltos em brumas suaves, mas vazias. Nestes incontáveis etéreos bailavam ao sabor dos acasos indeterminados e sem qualquer rumo ou objetivo o conjunto de sete deusas, gestantes posteriormente do que se chamaria universo. Na contrapartida dos intangíveis, instigados de despautérios, tresandavam os seis demônios, articuladores do caos e da entropia. Foi assim que se consolidou, passados milênios, com estas matérias primas básicas, criação e caos, então manipuladas em conjunto pelas deusas e capetas, o incomensurável e eterno cosmo.
Nestes idos agitavam-se babeis de desentendimentos entre os demônios eriçados e as excitadas deusas, inebriados de nada, os quais, pura e simplesmente, perdiam-se pelos labirintos dos infinitos vazios. Pairavam em todos demoníacos endeusamentos angustiados pela indefinição do futuro. Confirmavam-se, portanto, as afirmações: a angústia, filha da liberdade, desandava entre as carências das opções sem saberem as divinas e os endemoninhados como fugirem das inércias pachorrentas. Habitavam aquelas deusas criadoras e os demônios caóticos imensos despovoados à esquerda do todo poderoso nada e este assistia indiferente alongar-se pela sua direita sem conta o vácuo perene. Neste inacabado conflitante porvir as alegrias e os motivos da vida como a ética, o ódio, a moral, o pecado, o amor, a inveja, o arrependimento, a preguiça, a luxúria, a saudade, o egoísmo, o gozo, a ânsia e as infinitas emoções, incontáveis, substâncias indispensáveis para fruir o existir, ficavam zunindo desocupadas, desvalidas e soltas em torno dos deuses e capetas ociosos.
Deusas e demônios, na solidão do nada, passaram a brincar de perseguir os desejos, os amores, os ciúmes, os gozos, as emoções e os sentimentos todos que fluíam pelos vazios. As sensações bolinadas e trocadas de mãos carentes foram acarinhando as deusas e excitando os demônios. E das bolinas trocadas se instigavam os afetos, lambuzavam-se os desejos, desapareciam as distâncias, lambiscavam-se os ciúmes, enalteciam-se os gozos: “censuras libertem-se” esgoelavam os infinitos a cata dos desejos. Delirante amanheceu o azul imenso da orgia retardatada e o provérbio conchavado ao infinito sorriu ao despedaçar o nada. Deusas eróticas, carentes, arreganhavam desejos úmidos excitados para receberem os caos diabólicos eriçados.
Deusas- demônios, gritos felinos, prantos, orgasmos: sorri deus, amassando o barro, com que lapida à sua imagem e semelhança, o homem, o amor, a inveja, a ódio. Cria, pois a vida, o cosmo, o sonho, o delírio e assiste o caos e o imponderável.         
Ceflorence    16/11/16      email    florene.amabrasil@uol.com.br

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