RENASCENÇA E ENTROPIA
Muito
nos primórdios, antes até do entrelaçamento das poesias e dos azuis brincarem
de beijos ao gestarem utopias, quando as lágrimas se recolhiam e os sonhos
desabrochavam, mesmo anteriores a criação do aqui e do agora, só se apresentava
ao infinito e ao porvir a sólida imensidão do nada. Tanto que se deram os
relatos, estes, transcorridos nos inícios dos quatro bilhões e meio de
maturação, mensurados em anos de fantasias, os quais precederam o período posterior
compilados em badaladas longas, mas decididas, já nos atuais eventos-luz. É
fundamental registrar, portanto, que estes fatos lastreavam-se no abstrato, no imaterial,
meticulosamente grafados só sobre o além e envoltos em brumas suaves, mas vazias.
Nestes incontáveis etéreos bailavam ao sabor dos acasos indeterminados e sem
qualquer rumo ou objetivo o conjunto de sete deusas, gestantes posteriormente do
que se chamaria universo. Na contrapartida dos intangíveis, instigados de
despautérios, tresandavam os seis demônios, articuladores do caos e da entropia.
Foi assim que se consolidou, passados milênios, com estas matérias primas
básicas, criação e caos, então manipuladas em conjunto pelas deusas e capetas, o
incomensurável e eterno cosmo.
Nestes
idos agitavam-se babeis de desentendimentos entre os demônios eriçados e as
excitadas deusas, inebriados de nada, os quais, pura e simplesmente, perdiam-se
pelos labirintos dos infinitos vazios. Pairavam em todos demoníacos
endeusamentos angustiados pela indefinição do futuro. Confirmavam-se, portanto,
as afirmações: a angústia, filha da liberdade, desandava entre as carências das
opções sem saberem as divinas e os endemoninhados como fugirem das inércias
pachorrentas. Habitavam aquelas deusas criadoras e os demônios caóticos imensos
despovoados à esquerda do todo poderoso nada e este assistia indiferente alongar-se
pela sua direita sem conta o vácuo perene. Neste inacabado conflitante porvir
as alegrias e os motivos da vida como a ética, o ódio, a moral, o pecado, o
amor, a inveja, o arrependimento, a preguiça, a luxúria, a saudade, o egoísmo,
o gozo, a ânsia e as infinitas emoções, incontáveis, substâncias indispensáveis
para fruir o existir, ficavam zunindo desocupadas, desvalidas e soltas em torno
dos deuses e capetas ociosos.
Deusas
e demônios, na solidão do nada, passaram a brincar de perseguir os desejos, os
amores, os ciúmes, os gozos, as emoções e os sentimentos todos que fluíam pelos
vazios. As sensações bolinadas e trocadas de mãos carentes foram acarinhando as
deusas e excitando os demônios. E das bolinas trocadas se instigavam os afetos,
lambuzavam-se os desejos, desapareciam as distâncias, lambiscavam-se os ciúmes,
enalteciam-se os gozos: “censuras libertem-se” esgoelavam os infinitos a cata
dos desejos. Delirante amanheceu o azul imenso da orgia retardatada e o provérbio
conchavado ao infinito sorriu ao despedaçar o nada. Deusas eróticas, carentes, arreganhavam
desejos úmidos excitados para receberem os caos diabólicos eriçados.
Deusas-
demônios, gritos felinos, prantos, orgasmos: sorri deus, amassando o barro, com
que lapida à sua imagem e semelhança, o homem, o amor, a inveja, a ódio. Cria,
pois a vida, o cosmo, o sonho, o delírio e assiste o caos e o imponderável.
Ceflorence 16/11/16 email
florene.amabrasil@uol.com.br
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