EROS-AMÍGDALAS E
CORRUPÇÃO
Recentemente,
conhecidos cientistas dedicados às pesquisas em neurociências concluíram que a
prática constante da desonestidade e da corrupção reestimula e reforça o próprio
vício, incrementa a sensação de impunidade e, de forma sintomática, reduz o
complexo de culpa. A humanidade demorou a comprovar o óbvio, mas, devagar,
obrigou-se a descer das árvores e conscientizou-se de que todas as trilhas e
passos, depois dos tombos, levariam a Roma.
Eros e Tanathos nunca se amasiaram em beijos, mas deram sossego: os tempos
fizeram-se difíceis, mas foram a troteados. O inusitado, para mim, deste
trabalho acadêmico, é a constatação de que o ponto real, fisiológico, para encontrar
e poder medir este fenômeno de acomodação à desonestidade humana, ocorreu e comprovou-se
estar localizado, fisicamente, de forma madura e entranhada na estrutura do
cérebro, exatamente em uma área denominada amígdala. É neste ponto, na nossa amígdala
cerebral, que a corrupção é acarinhada, gratificada e estimulada de maneira
serena e crescente.
Na
mesma virtude de destinos, quinhentos anos andaram desde que ao ensejo de
marcar o rompimento e rever, revolucionariamente, o pensamento medieval, Descartes
já assentara também na sua idealizada amígdala, que não podemos constatar se
coincidente ou alternativa a dos seus colegas atuais, como sendo o local, o
centro e o momento da fusão de entrelaçamento da alma e do corpo. Este ponto de
junção entre a matéria e o espírito não foi objeto de esclarecimento de
Descartes, se seria, adicionalmente, a real alcova, imaginária e fantástica das
gestações de sevícias carinhosas e sexuais. Ao que tudo indica, escapou de
definição, do gênio e do filósofo, se trincheira acalorada, inexpugnável,
poderia ser a sua amigdala, talvez, para os desejos, para as fomes e para as
ansiedades. Por último, perguntaríamos sem ser excludente ou exclusiva, a amígdala
seria ponto ideal, exato, na mente em ebulição para devaneios transcendentais,
sublimes e espirituais e assim criação dos deuses e dos demônios? Mas estas
questiúnculas materialistas menores não seriam jamais objeto das atenções dos iluminados
e muito menos de Descartes.
Nisto
tudo, para ser sincero, a que cheguei depois de pensares soltos, tivesse eu a
alegria de conseguir o meu abajur lilás, com que sempre sonhei desde que se me
dou por ser, o chamaria de amígdala, pois teria ele o condão de unir, como as
amígdalas nobres dos pesquisadores e de Descartes, através da luz, a sutileza
espiritual da leitura, que minha alma absorveria e fundiria com a materialidade
concreta das palavras, dos conteúdos e das formas ricas dos livros. Não sei o
que o Phenóxer, meu cão censor, velho, banguela e mal humorado, dormente sempre
ao lado esquerdo da cama, responderia sobre estas ansiedades lilases, pueris e
dispensáveis. Com certeza, contumaz crítico das minhas insignificâncias e mediocridades,
nada mais do que puramente pena e desânimo por suas frustradas tentativas de
reabilitar-me.
Noite
- Eros, Thanatos, Descartes, Phenóxer e eu sumimos nas entranhas das amígdalas
fantásticas e das corrupções inacabáveis. Jubileu dos leitores agradecidos.
Ceflorence email cflorence,amabrasil@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário