segunda-feira, 7 de novembro de 2016

EROS-AMÍGDALAS E CORRUPÇÃO
Recentemente, conhecidos cientistas dedicados às pesquisas em neurociências concluíram que a prática constante da desonestidade e da corrupção reestimula e reforça o próprio vício, incrementa a sensação de impunidade e, de forma sintomática, reduz o complexo de culpa. A humanidade demorou a comprovar o óbvio, mas, devagar, obrigou-se a descer das árvores e conscientizou-se de que todas as trilhas e passos, depois dos tombos, levariam a Roma.  Eros e Tanathos nunca se amasiaram em beijos, mas deram sossego: os tempos fizeram-se difíceis, mas foram a troteados. O inusitado, para mim, deste trabalho acadêmico, é a constatação de que o ponto real, fisiológico, para encontrar e poder medir este fenômeno de acomodação à desonestidade humana, ocorreu e comprovou-se estar localizado, fisicamente, de forma madura e entranhada na estrutura do cérebro, exatamente em uma área denominada amígdala. É neste ponto, na nossa amígdala cerebral, que a corrupção é acarinhada, gratificada e estimulada de maneira serena e crescente.
Na mesma virtude de destinos, quinhentos anos andaram desde que ao ensejo de marcar o rompimento e rever, revolucionariamente, o pensamento medieval, Descartes já assentara também na sua idealizada amígdala, que não podemos constatar se coincidente ou alternativa a dos seus colegas atuais, como sendo o local, o centro e o momento da fusão de entrelaçamento da alma e do corpo. Este ponto de junção entre a matéria e o espírito não foi objeto de esclarecimento de Descartes, se seria, adicionalmente, a real alcova, imaginária e fantástica das gestações de sevícias carinhosas e sexuais. Ao que tudo indica, escapou de definição, do gênio e do filósofo, se trincheira acalorada, inexpugnável, poderia ser a sua amigdala, talvez, para os desejos, para as fomes e para as ansiedades. Por último, perguntaríamos sem ser excludente ou exclusiva, a amígdala seria ponto ideal, exato, na mente em ebulição para devaneios transcendentais, sublimes e espirituais e assim criação dos deuses e dos demônios? Mas estas questiúnculas materialistas menores não seriam jamais objeto das atenções dos iluminados e muito menos de Descartes.
            Nisto tudo, para ser sincero, a que cheguei depois de pensares soltos, tivesse eu a alegria de conseguir o meu abajur lilás, com que sempre sonhei desde que se me dou por ser, o chamaria de amígdala, pois teria ele o condão de unir, como as amígdalas nobres dos pesquisadores e de Descartes, através da luz, a sutileza espiritual da leitura, que minha alma absorveria e fundiria com a materialidade concreta das palavras, dos conteúdos e das formas ricas dos livros. Não sei o que o Phenóxer, meu cão censor, velho, banguela e mal humorado, dormente sempre ao lado esquerdo da cama, responderia sobre estas ansiedades lilases, pueris e dispensáveis. Com certeza, contumaz crítico das minhas insignificâncias e mediocridades, nada mais do que puramente pena e desânimo por suas frustradas tentativas de reabilitar-me.
            Noite - Eros, Thanatos, Descartes, Phenóxer e eu sumimos nas entranhas das amígdalas fantásticas e das corrupções inacabáveis. Jubileu dos leitores agradecidos.
Ceflorence         email    cflorence,amabrasil@uol.com.br

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