segunda-feira, 16 de outubro de 2017

PREMONIÇÕES E OUTRAS SANHAS

O tempo cismado se pôs em versos, abelhudo nas premonições a virem, e por assim se deu que além dos percalços dos couros e das taquaras apaziguadas e entravadas entre si, sob as preces das cantatas e das prozas dolentes, Camiló, sertanejando seus sertões de Oitão dos Brocados, passou a se atrever, por ocasional socorro a um repentino imprevisto, a outras artimanhas de curador e vidente. Soberbo de curioso nas coisas endiabradas insolúveis e descabidas, começou o trançador a usar nos tateados de aprendiz e rezador de cantochões murmurados os mesmos dedos ágeis, definidos e embriagados de energias tantas, porosos de ternuras, calejados nas carências, afrontando com macias e afetuosas sedas nas horas justas os artelhos destros nas imbricações, para massagear os corpos maus sucedidos em quebradiços e ouvir as almas das agruras postas.
O acaso primeiro veio em queda de moça da roça afastada, chegando montada a Oitão e a besta alazã, sem sobreaviso, com buzina de caminhão cruzando caminho na boca da noite passarinhou seus desmerecimentos. A jovem não sustentou refugo picado do animal assustado, caiu frouxa na poeira seca com o ombro torcido visto. Estiraram, desmaiada, a menina da mula alazã sobre o balcão sujo da venda do Abigão. Camiló encostado na ponta da venda, dando conta do gole seu derramado, mais o baralho de truco para os desafios, foi amoldando aconchego de curioso e palpite, viu com olhos matreiros a desfeita mal amparada do ombro deslocado, apalpou os vazios dos cuidados carecidos. Acatou Camiló uma correia de couro ajustada aos provimentos deslocados, atraiu o músculo, a omoplata e a sanha deslocados para as corretas posturas, enquanto a desfalecida, no abandono do balcão, se desfazia de sentir, falar e dar de si notícia. Muito aprimorada nos intuitos a menina, desdisse do susto acordando, se remendou das vergonhas sobre o balcão, retornou dos seus aléns, ressabiou nos olhos dos em-tornados carecendo choro e carinho, mas curada das mazelas.
A doente sarou assumiu a mula de volta para casa e destacou como sendo a primeira providência amena, terapêutica, justa, de Camiló passando a se tornar trançador, doravante, também das almas e cismas. O trançador do Oitão, brioso de cerimoniais e ciências, foi empertigando nome ajustado e conhecido por cerrados e sertões de curador dos defeitos e adivinho das cismas. Da manobra curandeiras definiu Camiló à moça o uso de laço verde, esperança, amarrado no pescoço e deixá-lo cair brioso pelos seios mimosos por um quarto de destino e pendurar o braço do ombro magoado, emparelhando semana corrida inteira para assegurar das certezas de cura.   Tempo andou rompante como cascavel no cio, chegou maturado de conversas sobre benzeduras e outras estrofes, azucrinou sina e entre o sol se pôr e as estrelas ajustarem as coisas da noite mugindo, caiam nas mãos do trançador-benzilhão, curador das ânsias, as desditas não resolvidas. Quando nas casas das moças se altercavam desditas de desamparos de mulher querendo atear fogo no álcool embebido no próprio corpo, desforra de cafetão embriagado por corno tido, coronel salpicando concubina de rabo-de-tatu nas desfeitas do namoro pega, a solução no arruado era Camiló desenrolar do truco ou suspender da cachaça que castigava frouxa de bem querer e socorrer o destino.
As famas das benesses, das bênçãos, das curas cresceram nos volteados dos ventos contadores de casos e Camiló, nome benzeiro, se esparramou nos cerrados, nas  desfeitas, nas carências.                                                                                    
Ceflorence        04/10/17    email cflorence.amabrasil@uol.com.br   

Nenhum comentário:

Postar um comentário