PREMONIÇÕES E OUTRAS SANHAS
O tempo cismado se pôs em versos,
abelhudo nas premonições a virem, e por assim se deu que além dos percalços dos
couros e das taquaras apaziguadas e entravadas entre si, sob as preces das
cantatas e das prozas dolentes, Camiló, sertanejando seus sertões de Oitão dos
Brocados, passou a se atrever, por ocasional socorro a um repentino imprevisto,
a outras artimanhas de curador e vidente. Soberbo de curioso nas coisas
endiabradas insolúveis e descabidas, começou o trançador a usar nos tateados de
aprendiz e rezador de cantochões murmurados os mesmos dedos ágeis, definidos e
embriagados de energias tantas, porosos de ternuras, calejados nas carências,
afrontando com macias e afetuosas sedas nas horas justas os artelhos destros
nas imbricações, para massagear os corpos maus sucedidos em quebradiços e ouvir
as almas das agruras postas.
O acaso primeiro veio em queda de
moça da roça afastada, chegando montada a Oitão e a besta alazã, sem
sobreaviso, com buzina de caminhão cruzando caminho na boca da noite
passarinhou seus desmerecimentos. A jovem não sustentou refugo picado do animal
assustado, caiu frouxa na poeira seca com o ombro torcido visto. Estiraram,
desmaiada, a menina da mula alazã sobre o balcão sujo da venda do Abigão. Camiló
encostado na ponta da venda, dando conta do gole seu derramado, mais o baralho
de truco para os desafios, foi amoldando aconchego de curioso e palpite, viu
com olhos matreiros a desfeita mal amparada do ombro deslocado, apalpou os
vazios dos cuidados carecidos. Acatou Camiló uma correia de couro ajustada aos
provimentos deslocados, atraiu o músculo, a omoplata e a sanha deslocados para
as corretas posturas, enquanto a desfalecida, no abandono do balcão, se
desfazia de sentir, falar e dar de si notícia. Muito aprimorada nos intuitos a
menina, desdisse do susto acordando, se remendou das vergonhas sobre o balcão,
retornou dos seus aléns, ressabiou nos olhos dos em-tornados carecendo choro e
carinho, mas curada das mazelas.
A doente sarou assumiu a mula de volta
para casa e destacou como sendo a primeira providência amena, terapêutica,
justa, de Camiló passando a se tornar trançador, doravante, também das almas e
cismas. O trançador do Oitão, brioso de cerimoniais e ciências, foi
empertigando nome ajustado e conhecido por cerrados e sertões de curador dos
defeitos e adivinho das cismas. Da manobra curandeiras definiu Camiló à moça o
uso de laço verde, esperança, amarrado no pescoço e deixá-lo cair brioso pelos
seios mimosos por um quarto de destino e pendurar o braço do ombro magoado, emparelhando
semana corrida inteira para assegurar das certezas de cura. Tempo andou rompante como cascavel no cio,
chegou maturado de conversas sobre benzeduras e outras estrofes, azucrinou sina
e entre o sol se pôr e as estrelas ajustarem as coisas da noite mugindo, caiam
nas mãos do trançador-benzilhão, curador das ânsias, as desditas não
resolvidas. Quando nas casas das moças se altercavam desditas de desamparos de
mulher querendo atear fogo no álcool embebido no próprio corpo, desforra de
cafetão embriagado por corno tido, coronel salpicando concubina de rabo-de-tatu
nas desfeitas do namoro pega, a solução no arruado era Camiló desenrolar do
truco ou suspender da cachaça que castigava frouxa de bem querer e socorrer o
destino.
As famas das benesses, das
bênçãos, das curas cresceram nos volteados dos ventos contadores de casos e
Camiló, nome benzeiro, se esparramou nos cerrados, nas desfeitas, nas carências.
Ceflorence
04/10/17 email
cflorence.amabrasil@uol.com.br
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