DESPACHO E
DESPEDIDA
Nunca
entrara em bordel, o retirante a cata de seus futuros. Se pôs no desfecho das
sanhas para aforar e coincidiu tratar de premências nas casas das damas por
desfortunas das cismas. Mas diferente dos sonhados, desfez dos trejeitos e
manias. Imaginava a maravilha dos pecados saborosos rodopiando pelas vagadas
cadências dos andares flutuantes, enfeitando as paredes, tetos, imaginações, os
abajures sombreados, fantasias. As portadoras das ternuras deixariam cair pelas
coxas, pescoços, seios, nádegas, insinuações delicadas, sem preconceitos ou
restrições, entrelaçando os cabelos soltos, ousados, esvoaçantes, perfumados.
Roupas transparentes caindo cuidadosamente sobre as carnes palpitantes,
voltadas para os céus e pedindo que os pecados lindos e os desejos azuis
debruçassem sobre seus lábios para beijá-las infinitamente em orgasmos. Jamais
poderia admitir tantas mesquinhezes, dispensáveis, que amulheradas putas
tivessem corpos marcados de cicatrizes, pelancas soltas a serem escondidas e embora
transitassem seminuas de roupas pobres e rasgadas, despertassem nenhuma
preocupação dos olhados para não estorvarem as liberdades.
Indefiniam
pelos corredores, quartos, a cata do único banheiro sujo, velho, para se
acomodarem como gentes comuns nas urinadas e cagadas como procediam as fêmeas
outras, tanto assim as cabras, as carentes das vidas. As andantes mulheres da
zona pareciam assemelhadas à sua mãe, irmãs, vizinhas, gentadas pessoas
indefesas, tristes, esperando o nada passar para não se assustarem. Fugazes e
ingênuas dos cotidianos, sem aleluias ou estardalhaços, desmereceu Cadinho as
senhoras prostitutas do sertão com muito dó, pois eram, por serem, tão constituídas
de infelicidades idênticas.
Partiu,
sobrou, sem dizer por que, uma réstia só de nada de água no Riacho da
Perobinha, para nem arrastar sorte pela vida que viesse, enfezou Cadinho,
sertanejo, retirante. Enfronhados desenfronhados fins, conflitos atiçados nas
indiferenças e gritos dos prazeres. Adeus, oh deus dos infelizes e foi Cadinho
subindo as escadas, para desaprender um pouco do choro, até esgueirar-se sem
afobação pela porta do fundo do armazém do Abigão. O vendeiro retornara à
depressão, sentado, enviesando os olhados para os despropósitos, mascando o
palito de sempre, aconchegando um cafuné no papagaio mudo, esperando o nada
entrar pela porta, em vez de Cadinho.
Resolvidas
as teimas últimas com o vendeiro, adeus deu, mediu o sol começando a se
esconder por trás da Forquilha, aprumou firme, calado, subida da serra que
conhecia tão bem. Nunca atinara enfrentar o mesmo pó, caminho igual, sina
repetida, pensando consigo no mais fundo, ele, por que a alma doía tanto?
Atentou, foi atolando mágoa insolúvel, última, na sabedoria amarga pôr levar consigo
um quase nada de pouco, além das roupas e farnéis, mais o desespero do punhado
de fim sem volta e esperança, para oferecer às meninas irmãs que careciam
partir sozinhas. Subiu sem mais assobiar como era do feitio. O curiango desceu
de suas indiferenças, olhos muito marejados de tristezas e ansiedades, pousou
no moirão das suas afeições e métodos, para avisar que o cavalo mandara recado
para Cadinho chegar a tempo de ainda vê-lo vivo, se quisesse, embaixo da moita
de bambu, lugar mesmo das conversas que estiveram tendo por último. Enfrentou
as vistas das meninas especulando caladas das janelas pequenas, lembrou que era
Cadinho, sertanejo, órfão de pai, sem mãe, arrimo das irmãs e não procedeu
falar de si ou acreditar na realidade. Quem sabe? Parou por ai e nem cismou
mais até enterrar o cavalo e despachar as meninas.
Ceflorence
26/09/17 email
cflorence.amabrsil@uol.com.br
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