SONHOS. DESEJOS,
TELHADOS
Volto
ao tempo e aos telhados por paixão. Nunca atinei porque, gostaria de saber, antes
do beijo final, por que os telhados encantam. Divago enquanto o infinito não me
mastiga, se as coberturas acalantariam pela dignidade, silêncio, loucura. Mesmo
que paradoxal, os Artânios, que se nutriam de fantasias, garantiam, que estes
véus sobre as construções, esvaiam-se por magias, permitindo que os bolores dos
tempos, das chuvas e dos imponderáveis, sobre as telhas, aleatoriamente
espargidos, fossem como búzios e tarôs, para os fervorosos terem seus destinos devassados.
Já
para os tradicionais Éltios, os telhados embalariam o silêncio e das funções de
guardiães das alcovas. Aqueles que tentassem decifrar estes remansos íntimos,
enfrentariam os íncubos e as bruxas, antes de arderem no purgatório. Por último
constava entre os Citérios, que a loucura seria, sem dúvida, a peça mais
importante que coabitaria suas incógnitas. As videntes sabem que estas
coberturas escondem as demências nos meandros musguentos, para que os demônios
as roubem nas noites de pesadelo e as usem nos transes dos incautos, antes de
os endoidarem. Os curas garantem, ao contrário, nas solidões dos confessionários,
que as fornalhas dos infernos se alimentam com as liberdades que as ninfas espionam
pelos desvãos dos tetos.
Telhados
e calçadas conversam amenos sobre os transeuntes, as chuvas, as preces e escutam
as brisas antes de intuírem o futuro. No entanto, só as pitonisas desvelam as
tramas caladas dos telhados dos sobrados, para distribuí-los aos cancioneiros, que
dedilharão fantasias em seus bandolins e tecerão com sonhos as suas rimas. Nas
madrugadas, os seresteiros devolvem suas harmonias, em serenatas singelas, sob
os beirais carinhosos, para as musas gratificadas. É assim que se constroem as
recordações dos que amam, sob as benções das coberturas, pelas vilas, pelos
recantos, pelas esquinas.
Compartilhando
as solidões ou as alegrias, o vento ameno nasce na ilusão e vem beijar os
telhados e os alpendres com as trepadeiras buliçosas. Nestes remansos, os avizinhados
carregam suas cadeiras para se acomodam nas prosas preguiçosas. Prudentes e
receosos, vão liberando por partes, tímidos, em fatias pequenas, suas mentiras,
seus tédios e suas angústias. Se faltar querência, retornam para a proteção dos
próprios telhados velhos e se recolhem com as tristezas que exibiram, para só
retornarem quando o remorso chamar. O tempo é marcado pelo sino da matriz
avisando que o passado se foi e o futuro apontou na curva do imprevisto.
As tardes
caem assistindo os pássaros repousarem sobre os telhados, ciciando segredos,
para que o futuro não ouça, enquanto especulam se o transcorrer do tempo é real
ou mera fantasia. A lua se insinua tímida, envolta em solidão e se derrama
carinhosa pelos telhados que sonham nostalgias. Ali, jamais se desapaixona, a
lua.
Ceflorence 16/08/17 email
cflorence.amabrasil@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário