quarta-feira, 19 de julho de 2017

ESPEZINHADOS VERSOS E OUTRAS PROSAS
Amoitou ele, sozinho, solidão, cavalando silêncio, vilarejo adentrando, Aiunhatá dos Pecados, Pé da Serra dos Aflitos, encostado na Capoeira do Paredão, terra de ladrão de cavalo, coito de manejo estranho e esquisito para quem não professava fé, menos ainda trabalho ajustado, e por ser, era, quem contou, assim achegava emparelhada e simultânea a boca da noite se dando, mais as carências das gentes recolhendo suas tristezas, galinhas, crias, as mentiras, criançada, as providências de sempre, por coincidir tudo com a hora de curiango cismar suas impertinências, como determinavam as necessidades e os provérbios. As angústias, cada um cuidava da própria, ensimesmado, amuando as despeitas entravadas nos peitos carecidos como estimavam, até porque as andorinhas revoavam corretas suas arrelias de afinarem os chilreados que sabiam entoar antes de assentarem nas respectivas manias.
Foi assim que foram chegando as novidades, pois quem amoitava em Aiunhatá, insensitivo das desfeitas, era Juripitão dos Roveiros, homem de poucas avenças, menos prosas, punhal ajambrado nas curvaturas das costelas, alargado do lado direito por ser canhoto, botinas de couros sanfonados, um cavalo afogueado, passarinheiro, marchador, alazão, boa boca, medida correta de animal para invejar quem conhecia coisa fina, estradou pela rua principal, imponentemente, desatrevido. No baldrame portava a garrucha de dois tiros, atado na garupa um laço de doze braças, na cara a cicatriz de maledicências, desformosuras. Afogueou respeitos de quem viu, mas nem desaprovou respostas ou olhados, pois só estava nas suas premissas, continuamente, de campear destinos, obrigações. Passou pela praça principal na hora da Ave Maria, não se persignou como demandavam as conveniências dos afeitos, se endireitou na sela para curvar o cavalo em arremedos necessários para cambar ao lado da cadeia velha, entravada entre o Cemitério da Saudade e a Capela do Senhor da Boa Morte. O povo, gentes pasmaram nas aparências do viajante cortando a vila, titubearam boas noites, desmediram razões dos propósitos das alternativas de Juripitão seguindo seu destino. Não contra feitaram, nem por delicadeza, mas mais por prudências advertidas.
O cachorro seguia enviesado de rumos similares, aos pés do cavalo, com a língua saboreando o vento fresco da noite premeditada nos seus feitios de esconder o horizonte. Juripitão despreocupava dos olhados por ser só Juripitão, montado no alazão e carregando, sozinho, seus atinos. Quem ousasse contradizer não fez, pois já vira que o cavalo tornara para as bandas conhecidas, continuando estrada. No arruado sobrou um resto de silêncio, premido pelo descolorido do barulho acoitado.
Juripitão juntou seus pensamentos, raspou uma ternura do fundo da alma, saudoso da mulher que não via semana corrida inteira, saindo para aboiar gado bravo por sertões largados, lagrimou no vento que o frio carregou, premuniu carinho, sorriu.
O povo guardou crianças nos aconchegos para não verem alguém ser assassinado por Juripitão nas desavenças que cada um criou só na imaginação carente.        

Ceflorence   13/07/17        email   cflorence.amabrasil@uol.com.br

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