segunda-feira, 6 de março de 2017

MANTURÁS DOS MARTINS PESCADORES.
            Foi entre sete rodamoinhos de lágrimas cruas, que Jacofar Marteiro fugido se deu depois dos sete anos de rapa pés e guerra na Erótia do Leste, se preparou para aportar na ilha dos Manturás dos Martins Pescadores, uma das sete, dos sete mares do Entólio. Em função estratégica privilegiada da boca da baia, instalou-se ali fortaleza com sete dezenas de canhões, de sete pelotões de sete soldados, suportados por sete estrebarias de sete cavalos. Foram edificadas sete capelas de sete padroeiros. Os sete carrilhões das capelas saudavam diferentes eventos, com sete timbres de sonoridade. Desembarcou Jacobar, consigo, os poucos sobrados da guerra: suas sete bruacas de couro de sete cores alternativas, sete pistolas, sete punhais de cabo de marfim e as sete epístolas dos sete missais. Do Cais dos Inválidos começou a subir em sete dias até o forte das Sete Agonias, um pouco pelas sete trilhas estreitas e outro tanto pelos sete penhascos que margeavam os sete acessos. Discernia as sete capelas o aguardando pelos sete timbres, identificados até por sete léguas, por cada um dos sete carrilhões.
O guarda-mor, que era surdo há sete anos, intimara o sétimo batalhão, encarregado da encenação sonora das sete capelas da Ilha, que junto aos toques dos carrilhões se hasteassem sete bandeiras com as cores dos padroeiros. O carrilhão da Capela de Nosso Senhor do Bom Tempo, em lá bemol agitava aos céus a sua flamula esverdeada, com cruz grená inclinada, despedindo-se dos marinheiros, dos passageiros e dos mergulhões rumando para os imponderáveis. A alegria, em ré maior, do carrilhão da Capela de Nossa Senhora do Bom Parto, chamava as gaivotas brancas, desocupadas de nostalgia sobre o rochedo da ilha, para bicarem trigueiras os infinitos do horizonte, pois a cor-de-rosa hasteada saudava a chegada de mais um recém-nascido. Os cavalos eram alimentados no forte ao eriçar-se bandeira chumbo na Capela de São Francisco de Assis, protetor dos animais, acompanhada das badaladas em sol do carrilhão e os animais ouviam antecipados o som melódico da forragem chegando às sete.
Os pescadores das sete praias da baia jamais se faziam às velas em suas sete jangadas aos sete mares, sem ouvirem durante as sete léguas os carrilhões da Capela de São Pedro, afinados em sétimas de mi, com a bandeira azul. Findadas as jornadas, o chamado carinhoso do timbre do carrilhão da Capela, em mi, era o guia seguro dos pescadores, para trazerem às sete praias as saudades. Em si natural, o carrilhão da Capela de Santo Antônio, santo casamenteiro, jogava manso o vermelho da sua bandeira às brisas, para encontrar-se com o poente das sete pedindo aos namorados apaixonados, que se lambuzassem de amor para povoarem as sete terras do Senhor.
O almirante, depois de sete dias da difícil subida à fortaleza, que o acolheria por sete anos no comando, persignou-se sete vezes, deixou cair sete lágrimas de gratidão e prometeu sob o som das sete notas musicais, dos sete carrilhões, que mandaria enforcar durante sete dias, sete prisioneiros de sete diferentes nacionalidades, sempre as sete da manhã, para marcar os seus sete últimos desejos.
 Ceflorence  21/02/17    email  cflorence.amabrasil@uol.com.br  

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