AMENIDADES FUNERÁRIAS E
OUTROS ENTÕES.
Repetiu
se, o desconhecido ensimesmado estrategicamente, postura altiva, imponente,
caminhava não impondo pressa excessiva, ao contrário, postava extremo
comedimento nos passos às circunstâncias, voltejou as exéquias andejas no
cemitério, enquanto argúcia e promessas se debulhavam em rezas. Escolhia sua posição
preferida, afastada, o estranho, mas sem excesso, do velório e dos
participantes. Deste ponto, o misterioso, mantinha atitude respeitosa,
introspectiva, de onde analisava os acontecimentos e gesticulava condolências
distantes e precavidas. Segurava cigarro apagado entronizado em petulante piteira
de marfim. Gestos soberbos, seus, dignificavam o falecido e os aléns. Confabulava
com a piteira, o estranho, sobre o abstrato, entediado das metáforas funerárias
exibidas eufóricas ao som do silêncio. Desculpou-se com o olhar divagado ao
afastar-se, arredio, da Capela do Bom Fim, para não trocar deslumbre de sorriso
ou saudação com participantes outros achegados.
O ritual
correto do velório na Capela do Bom Fim é amainar o silêncio pela ordem inversa
das tristezas e das agonias. Fala primeiro o carregador das coroas, para
perguntar aonde colocam as mesmas. Depois, os menos achegados ao falecido
embalam a sequência das cerimônias começando pelas mentiras mais aceitáveis, em
seguida distribuem anedotas de níveis medíocres, convidam para o café das
descontrações e por último se despedem rapidamente por compromissos inúteis. O estranho
elegante, piteira sofisticada, visita o imponderável, o silêncio e a tristeza
dos outros túmulos. Pelos meandros das sepulturas tristes se divulga a dúvida
eterna do que vai acontecer, do porque aconteceu e para quem aconteceu nos
lidos jazigos das placas chorosas. A morte é a única garantia após o descuido
enganar o destino e deixar o inexplicável nascer. Somente o singular da
piteira, acompanha os jogos do destino da cerimônia permanente que é desfazer-se
da morte. Enquanto o infinito se disfarçava de paisagem, a piteira manejava as
fantasias, pedindo à revoada dos pássaros que enlevassem a alma recém-desencarnada
aos desatinos desconhecidos ou outras amenidades. Os caminhos floriram enquanto
uma garoa fina chorava nostalgia. Deus definiu seus preferidos anjos para
repicarem os tambores e os querubins mais competentes para anunciarem nos
flautins que uma alma nova chegaria ao inferno e não mais estaria cometendo
pecados nos varejos vizinhos às hordas celestiais.
No Bom
Fim, cemitério, ele, piteira e misericórdia, em trindade surrealista, aonde foram
dizer adeus, ninguém entendeu tal, pois não havia e nem poderia haver a menor
ideia de que o elegante inusitado das invocações era a inconsciência do
falecido, fantasmagórica, compartilhando, em corpo e espírito, se as suas
fantasias mortuárias estariam se realizando em exéquias sidas.
Ceflorence 05/07/15 email
cflorence.amabrasil@com.br
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