quinta-feira, 9 de março de 2017

AMENIDADES FUNERÁRIAS E OUTROS ENTÕES.
            Repetiu se, o desconhecido ensimesmado estrategicamente, postura altiva, imponente, caminhava não impondo pressa excessiva, ao contrário, postava extremo comedimento nos passos às circunstâncias, voltejou as exéquias andejas no cemitério, enquanto argúcia e promessas se debulhavam em rezas. Escolhia sua posição preferida, afastada, o estranho, mas sem excesso, do velório e dos participantes. Deste ponto, o misterioso, mantinha atitude respeitosa, introspectiva, de onde analisava os acontecimentos e gesticulava condolências distantes e precavidas. Segurava cigarro apagado entronizado em petulante piteira de marfim. Gestos soberbos, seus, dignificavam o falecido e os aléns. Confabulava com a piteira, o estranho, sobre o abstrato, entediado das metáforas funerárias exibidas eufóricas ao som do silêncio. Desculpou-se com o olhar divagado ao afastar-se, arredio, da Capela do Bom Fim, para não trocar deslumbre de sorriso ou saudação com participantes outros achegados.
O ritual correto do velório na Capela do Bom Fim é amainar o silêncio pela ordem inversa das tristezas e das agonias. Fala primeiro o carregador das coroas, para perguntar aonde colocam as mesmas. Depois, os menos achegados ao falecido embalam a sequência das cerimônias começando pelas mentiras mais aceitáveis, em seguida distribuem anedotas de níveis medíocres, convidam para o café das descontrações e por último se despedem rapidamente por compromissos inúteis. O estranho elegante, piteira sofisticada, visita o imponderável, o silêncio e a tristeza dos outros túmulos. Pelos meandros das sepulturas tristes se divulga a dúvida eterna do que vai acontecer, do porque aconteceu e para quem aconteceu nos lidos jazigos das placas chorosas. A morte é a única garantia após o descuido enganar o destino e deixar o inexplicável nascer. Somente o singular da piteira, acompanha os jogos do destino da cerimônia permanente que é desfazer-se da morte. Enquanto o infinito se disfarçava de paisagem, a piteira manejava as fantasias, pedindo à revoada dos pássaros que enlevassem a alma recém-desencarnada aos desatinos desconhecidos ou outras amenidades. Os caminhos floriram enquanto uma garoa fina chorava nostalgia. Deus definiu seus preferidos anjos para repicarem os tambores e os querubins mais competentes para anunciarem nos flautins que uma alma nova chegaria ao inferno e não mais estaria cometendo pecados nos varejos vizinhos às hordas celestiais.
No Bom Fim, cemitério, ele, piteira e misericórdia, em trindade surrealista, aonde foram dizer adeus, ninguém entendeu tal, pois não havia e nem poderia haver a menor ideia de que o elegante inusitado das invocações era a inconsciência do falecido, fantasmagórica, compartilhando, em corpo e espírito, se as suas fantasias mortuárias estariam se realizando em exéquias sidas.        
Ceflorence    05/07/15      email  cflorence.amabrasil@com.br

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