CHUVAS RUAS RASTROS
CÃES
Por razões
dos fortuitos, embora trazendo sabores à vida pelas melhores interjeições dos
sensos, e só, pois quem debruçasse desatencioso sobre as nuvens salpicadas de
azuis, brincando de dúvidas antes de se definirem chuva ou se deixarem ventar,
poderia se amofinar. Longas longínquas, mimosas nas diabruras ingênuas de
salta-mula brincando e rindo, enevoando nubilosas nuvens fugindo, via-as sem por
que Alita. Penduraram-se nos entremeios dos azuis, em danças figuradas, rabiscando
desenhos imaginosos de decomposições constantes, foram, voltaram, exibiram-se
como só as nuvens sabem anuviar. Jogaram indefinidas, teimosas por serventia e
distração, jamais por obediência.
Foi deste
modo, pois futuro só é depois, quando não se quer mais dele senão uns restolhos
dos restos desesperançados. Alita nem se interrogava ou afirmava, deixava o
desatino correr ajustado no ziguezague do cachorro farejando dúvidas,
mordiscando pedaços do enquanto dela no pretérito, no agora e no talvez. Saltitava pelos cantos indefinidos, sabiá doce
de canto triste, corridinha curta, ligeiro no cato dos lambiscos, sem propósito
de encerrar devaneio. Fugia passarinho do caminhando de Alita amiudado nos compassos
do cachorro interrogativo nos propósitos e manobras caninas de perseguir o
indeciso. Ainda podendo, estima Alita vendo instinto animal, no faro, ajustar
acordos, acertos, indecisões, focinhando as árvores, fungando os postes ou
rosnando duvidoso, para a vida se fazer inacabada e justa. Não sabia Anita, àquela altura, se conversava
consigo ou com o animal, pachorrento de titubeio, cheirando o insolúvel,
enquanto ela garimpava fantasias. Perder-se em voltas e andarilhadas cainhas, entre
inusitados, era paixão e devaneio e, pelo então, Alita assunta o nada, morde a
brisa, espera a probabilidade.
Passava
Alita o passado do seu passado, o passado das alegrias ou os passados das
interrogações. Andarilhava ligeira, Alita, do presente, canino tortuoso absorto,
farejadas urinas, transmudava sem ciência ao futuro incerto. Desenrolava sonhos
paridos das moegas das fantasias próprias. Pensamentos vacilam nos entremeios,
sempre, de Alita carreando cachorro a esmo, pelas incoerências de ambos. Fim de
tarde palmilhava nostalgia por onde o poente fugia nos propósitos de anoitecer.
Não intuía porque, pelos correres das
alamedas e ruas dos assobradados, entremeando os furta-cores vários das paredes
surdas, que não mentem, saltitava Alita sobre saudades e indecisões. Jamais
garimpara ela porque os muros guardam tão sábios e sinceros as confidências que
trazem melancolias? Escorria um branco, amoroso e terno, da casa escalavrada
pelo tempo e salpicada de angústia, outrora de Delquinho.
Nos remorsos, melhor, nos retidos da infância,
na escola e nas fantasias, se deram os dois aos luxos idiotas, pueris, de se envergonharem
ao lerem nas ânsias, nas intimidades e nos olhares disfarçados e fugidios o que
sabiam, sem quererem saber. Criança aprende a mentir primeiro para si, depois
para os necessários, memorou Alita. O branco dos reboques velhos subia
escondido pela saudade, enrolada numa réstia sutil da melancolia, amarrada ao
pé da primavera vermelha recuperando o passado para inebriar o presente.
Delquinho sumiu. Cachorro farejou fundo as fantasias idas e sidas de Alita,
enquanto segurava firme o tronco da primavera para desaguar sereno as realidades
diuréticas mornas.
A
chuva avisou, choveria contraste pelo solfejo da corruíra, tão logo o poente se
ornasse vermelho. As paredes se vestiram de memórias. Alita derramou tristeza,
lágrima única. O cachorro urinou solidão. Os telhados chamaram as nuvens. O dia
acarinhou a noite. As paredes acompanharam as fantasias, o cão, a melancolia,
as memórias e Alita arrastando os idos.
Ceflorence 06/03/16 email
cflorence.amabrasil@uol.com.br
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