terça-feira, 22 de março de 2016

CHUVAS RUAS RASTROS CÃES

            Por razões dos fortuitos, embora trazendo sabores à vida pelas melhores interjeições dos sensos, e só, pois quem debruçasse desatencioso sobre as nuvens salpicadas de azuis, brincando de dúvidas antes de se definirem chuva ou se deixarem ventar, poderia se amofinar. Longas longínquas, mimosas nas diabruras ingênuas de salta-mula brincando e rindo, enevoando nubilosas nuvens fugindo, via-as sem por que Alita. Penduraram-se nos entremeios dos azuis, em danças figuradas, rabiscando desenhos imaginosos de decomposições constantes, foram, voltaram, exibiram-se como só as nuvens sabem anuviar. Jogaram indefinidas, teimosas por serventia e distração, jamais por obediência.  
Foi deste modo, pois futuro só é depois, quando não se quer mais dele senão uns restolhos dos restos desesperançados. Alita nem se interrogava ou afirmava, deixava o desatino correr ajustado no ziguezague do cachorro farejando dúvidas, mordiscando pedaços do enquanto dela no pretérito, no agora e no talvez.  Saltitava pelos cantos indefinidos, sabiá doce de canto triste, corridinha curta, ligeiro no cato dos lambiscos, sem propósito de encerrar devaneio. Fugia passarinho do caminhando de Alita amiudado nos compassos do cachorro interrogativo nos propósitos e manobras caninas de perseguir o indeciso. Ainda podendo, estima Alita vendo instinto animal, no faro, ajustar acordos, acertos, indecisões, focinhando as árvores, fungando os postes ou rosnando duvidoso, para a vida se fazer inacabada e justa.  Não sabia Anita, àquela altura, se conversava consigo ou com o animal, pachorrento de titubeio, cheirando o insolúvel, enquanto ela garimpava fantasias. Perder-se em voltas e andarilhadas cainhas, entre inusitados, era paixão e devaneio e, pelo então, Alita assunta o nada, morde a brisa, espera a probabilidade.
Passava Alita o passado do seu passado, o passado das alegrias ou os passados das interrogações. Andarilhava ligeira, Alita, do presente, canino tortuoso absorto, farejadas urinas, transmudava sem ciência ao futuro incerto. Desenrolava sonhos paridos das moegas das fantasias próprias. Pensamentos vacilam nos entremeios, sempre, de Alita carreando cachorro a esmo, pelas incoerências de ambos. Fim de tarde palmilhava nostalgia por onde o poente fugia nos propósitos de anoitecer.  Não intuía porque, pelos correres das alamedas e ruas dos assobradados, entremeando os furta-cores vários das paredes surdas, que não mentem, saltitava Alita sobre saudades e indecisões. Jamais garimpara ela porque os muros guardam tão sábios e sinceros as confidências que trazem melancolias? Escorria um branco, amoroso e terno, da casa escalavrada pelo tempo e salpicada de angústia, outrora de Delquinho.
 Nos remorsos, melhor, nos retidos da infância, na escola e nas fantasias, se deram os dois aos luxos idiotas, pueris, de se envergonharem ao lerem nas ânsias, nas intimidades e nos olhares disfarçados e fugidios o que sabiam, sem quererem saber. Criança aprende a mentir primeiro para si, depois para os necessários, memorou Alita. O branco dos reboques velhos subia escondido pela saudade, enrolada numa réstia sutil da melancolia, amarrada ao pé da primavera vermelha recuperando o passado para inebriar o presente. Delquinho sumiu. Cachorro farejou fundo as fantasias idas e sidas de Alita, enquanto segurava firme o tronco da primavera para desaguar sereno as realidades diuréticas mornas.
A chuva avisou, choveria contraste pelo solfejo da corruíra, tão logo o poente se ornasse vermelho. As paredes se vestiram de memórias. Alita derramou tristeza, lágrima única. O cachorro urinou solidão. Os telhados chamaram as nuvens. O dia acarinhou a noite. As paredes acompanharam as fantasias, o cão, a melancolia, as memórias e Alita arrastando os idos.    
Ceflorence   06/03/16          email  cflorence.amabrasil@uol.com.br

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