BUTIM DAS UTOPIAS.
A
afetuosa companheira do sociável léscio, Esfrétkio, a elegante e impecável vílkia,
Novekia, na natural pujança da beleza invejável, chegou em seu sofisticado
argumento, um fluente contraditório, último tipo. Satisfeita estava com a réplica
adquirida da Confraria dos Advogados de Defesa Religiosa de Ciências Politicas
e Econômicas, escolhida cuidadosamente para interagir com os inexplicáveis terrenos
e celestiais. Sob estes alucinatórios, deixaria o caçula, três anos e meio,
internado na Academia Superior da Coerência do Absurdo, para concluir a tese de
mestrado indicada ao seu perfil psicossocial. Apaixonado pela influência do
carismático Visionário Inácio sobre a gravidade equacionada por Newton, interagindo
sobre os ventos aleatórios e impondo fortes traços nas inter-relações dos
radicalismos fundamentalistas existenciais. Partia ele para realizar seus
objetivos de conclusão de tese.
Beijou,
Novékia, carinhosamente o infante, querido léscio Junior, intuindo que
doravante as nuvens dos incertos assumiriam os destinos do recém-matriculado, marcando-o,
provavelmente, com o absolutismo intransigente, sabores medievais da inquisição
e atuais do nazismo e do estalinismo. Como boa matriarca vílkia, afetuosa,
idealizava que o filho interagisse diferente, livre e descontraído, na simbiose
e dialética harmonia do sim com o não, do efêmero com o infinito, do amor com o
ódio e deixasse adequar a insofismável beleza dos sonhos com a plasticidade da
existência. Só o tempo responderia. O impalpável é mais cruel e o abstrato
ficou suspenso pelo futuro incógnito. Junior se absteve dos anseios maternais, mergulhou
no infinito do Visionário Inácio, que fizera história com a têmpera dos eleitos,
alcançadas só pelos obstinados. Junior
garimpou, nos inexplicáveis, que o destino, único que sabe das injunções dos
astros, entupiu o Visionário desde o nascedouro com ervinha cascuda, perigosa,
brotada na solidão, para poetas e predestinados; o carisma.
Poucos
devem mastigar da alucinógena planta, traiçoeira venenosa, encarnada em sina e
soberba, se abusada. De início, Inácio, vacinado foi do carisma paradoxal. Pode
andar então sobre as águas, não deixando pedra, trilha, luta sem palmilhar. Arremedou-se
um David estremecendo Golias, vários, submetendo-os em tempos justos. Do sal
amargo, pobre, mas tenaz, rastejou sobre disputas, Inácio carismático, reencarnando-se
já no nordeste árido em um Antônio Conselheiro sebastianista, para salvar o
infinito. Junior garimpou: o Visionário cavoucara nos intrincados alfarrábios
da pureza, da liderança e da fé para soerguer e carregar as bandeiras da
justiça social e distribuição de renda. Os calvários foram clamando devotos
obcecados no carisma. Mas aos pés dos fanáticos uivavam, como sempre nestas
andanças, os alcoviteiros do vidente, uma matilha de canalhas antecipando o
pasto gordo das falcatruas. Os deuses do bem e do mal disputaram suas diversas almas
nas lutas, vitórias ou frustrações, mas, acima de tudo, persistência. Das
inglórias arranca, pragmático, o sucesso; vidente visa.
E o
fim? O fim, a bacanal ferveu. Remate arremata; calhordas, ladrões comparsas
venceram e mancomunados com arrivistas de última hora, de todos os matizes,
classes sociais e níveis econômicos, rapinam o que encontram. O butim se
instaura eufórico. Os deuses da canalha bailam a céu aberto enquanto o navio vai
a pique, sem remédio, sem rumo, sem timoneiro. Os ratos, antigos privilegiados,
assistem engradados às tragédias de todos e das suas.
Os
fanáticos sinceros se frustram, fogem em lágrimas. Pequena chusma de dementes
retardados assume o encerramento do nada, na base da gandaia e da agressão.
Falsos intelectuais falseiam a farsa à farta. Junior zera a sua decepção e registra,
simplesmente: o butim das utopias surrupiou as esperanças e a safadeza devorou
o carisma.
Ceflorence 28/02/16 e-mail
cflorence.amabrasil@uol.com.br
O estereótipo do ideal imaginário. Muito bom meu amigo.
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