quinta-feira, 10 de março de 2016

BUTIM DAS UTOPIAS.
A afetuosa companheira do sociável léscio, Esfrétkio, a elegante e impecável vílkia, Novekia, na natural pujança da beleza invejável, chegou em seu sofisticado argumento, um fluente contraditório, último tipo. Satisfeita estava com a réplica adquirida da Confraria dos Advogados de Defesa Religiosa de Ciências Politicas e Econômicas, escolhida cuidadosamente para interagir com os inexplicáveis terrenos e celestiais. Sob estes alucinatórios, deixaria o caçula, três anos e meio, internado na Academia Superior da Coerência do Absurdo, para concluir a tese de mestrado indicada ao seu perfil psicossocial. Apaixonado pela influência do carismático Visionário Inácio sobre a gravidade equacionada por Newton, interagindo sobre os ventos aleatórios e impondo fortes traços nas inter-relações dos radicalismos fundamentalistas existenciais. Partia ele para realizar seus objetivos de conclusão de tese.
Beijou, Novékia, carinhosamente o infante, querido léscio Junior, intuindo que doravante as nuvens dos incertos assumiriam os destinos do recém-matriculado, marcando-o, provavelmente, com o absolutismo intransigente, sabores medievais da inquisição e atuais do nazismo e do estalinismo. Como boa matriarca vílkia, afetuosa, idealizava que o filho interagisse diferente, livre e descontraído, na simbiose e dialética harmonia do sim com o não, do efêmero com o infinito, do amor com o ódio e deixasse adequar a insofismável beleza dos sonhos com a plasticidade da existência. Só o tempo responderia. O impalpável é mais cruel e o abstrato ficou suspenso pelo futuro incógnito. Junior se absteve dos anseios maternais, mergulhou no infinito do Visionário Inácio, que fizera história com a têmpera dos eleitos, alcançadas só pelos obstinados.  Junior garimpou, nos inexplicáveis, que o destino, único que sabe das injunções dos astros, entupiu o Visionário desde o nascedouro com ervinha cascuda, perigosa, brotada na solidão, para poetas e predestinados; o carisma.



Poucos devem mastigar da alucinógena planta, traiçoeira venenosa, encarnada em sina e soberba, se abusada. De início, Inácio, vacinado foi do carisma paradoxal. Pode andar então sobre as águas, não deixando pedra, trilha, luta sem palmilhar. Arremedou-se um David estremecendo Golias, vários, submetendo-os em tempos justos. Do sal amargo, pobre, mas tenaz, rastejou sobre disputas, Inácio carismático, reencarnando-se já no nordeste árido em um Antônio Conselheiro sebastianista, para salvar o infinito. Junior garimpou: o Visionário cavoucara nos intrincados alfarrábios da pureza, da liderança e da fé para soerguer e carregar as bandeiras da justiça social e distribuição de renda. Os calvários foram clamando devotos obcecados no carisma. Mas aos pés dos fanáticos uivavam, como sempre nestas andanças, os alcoviteiros do vidente, uma matilha de canalhas antecipando o pasto gordo das falcatruas. Os deuses do bem e do mal disputaram suas diversas almas nas lutas, vitórias ou frustrações, mas, acima de tudo, persistência. Das inglórias arranca, pragmático, o sucesso; vidente visa. 
E o fim? O fim, a bacanal ferveu. Remate arremata; calhordas, ladrões comparsas venceram e mancomunados com arrivistas de última hora, de todos os matizes, classes sociais e níveis econômicos, rapinam o que encontram. O butim se instaura eufórico. Os deuses da canalha bailam a céu aberto enquanto o navio vai a pique, sem remédio, sem rumo, sem timoneiro. Os ratos, antigos privilegiados, assistem engradados às tragédias de todos e das suas.  
Os fanáticos sinceros se frustram, fogem em lágrimas. Pequena chusma de dementes retardados assume o encerramento do nada, na base da gandaia e da agressão. Falsos intelectuais falseiam a farsa à farta.  Junior zera a sua decepção e registra, simplesmente: o butim das utopias surrupiou as esperanças e a safadeza devorou o carisma.    
Ceflorence     28/02/16       e-mail  cflorence.amabrasil@uol.com.br

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