ASSUNHÃÉ DOS PERDÕES.
Ticotinha
dos Prevejos encarnou de despicar fumo, meloso, que Chirbito, Expedito Torca, marido
que lhe imputaram na beirança de treze, em sendo virgem, de óbvio, ainda desmenstruada,
trouxera da venda com mais despesas carecidas. Portava marido, com fumo vindo, um
alçapão desservido, por sido justiça-mente cativo e matado, com requinte de
desforra, pelo Quepardo da Bodega, o gambá comedor de cria. Na garupa pendurou,
ademais, Chirbito, um galo índio, cegado de rinha, banda destra, embora
modestamente impetuoso ainda, às vezes, de galinhagem.
O fumo,
do melhor, vindo, no traquejo para, de longe, em Assunhãé por toda sentir
perfume por quem das redondezas sabia que Ticotinha se empolgava em benções,
rezas e advinhanças, mas só sempre que encarapitava na taipa do fogão, pitando
amuada. Os proventos, nisto, das beatitudes, desciam ciosos depois que acendia
o pito esfumado, na captura de cumprir ajuda das coisas sem solução dos
convencionais conformes, como os dos desenganados dos médicos, dos curas ou dos
Oguns. A primeira das professadas inexplicáveis, foi em um cavalo campolina, criação
de querência muita de Ticotinha, que padrasto barganhara por novilhada girada e
surgiu de garrotilho, no imprevisto. Vai não vai, surpresa, terceiro dia, suposição,
medrosa, a morte agourando sina, no vazio, e Ticotinha, de nove, sem completos,
anos, montou potro em pelo e descabrestado de mando. Hora cismada, anoitando, curiango,
pois, voava mesmo curto, olhudo, pio cavo, do moirão da porteira velha.
Era. No
que foi, derramaram os dois, ambos, sem nem gargarejo de quebrar silêncio mais,
só o carecido, para o lado da Cachoeirinha da Embira. O animal, manso de receber
atentos, precisos, dos bem mandados procedentes dos aléns e desarrazoado de
sentido. Ticotinha, com a incerteza da certeza confiada, bem como só os confins
ajustados prosperam. Pela noite fria, céu limpo, geada capenga de certa cair,
durante mais de meia hora ficaram campolina e Ticotinha na solidão do nada,
gelados, recebendo água das pedras da Embira, cachoeirinha, até a lua pedir vaza
de sumiço, melindres de luas, e esconder-se atrás dos silêncios. Com permissão
da minguante ida, Ticotinha tiritando, o cavalo retrocedeu à casa, são de
completo, nevoa nenhuma de garrotilho e, no mais, ainda, sem explicação dos
portantos que se deram. A menina deitou apreensão, fadiga muita do cumprido,
suou de molhar cama, noite toda, inteira, não comeu três dias e bateu, por
riba, febrona de carecer reza de terço. “Acatou a dor do animal, ela”, disse,
quem disse, sapiente das almas e dos sem motivos. À noite, voltando com o campolina,
cunhou o Prevejo, quando mãezinha respaldou os porquês de razão: respondeu um
só, decidido, sem soberba: “Prevejo, sarará porque”...empacou no porque, demais
de suficiente então... tendo sido, pois. Era ela... era assim. Foi.
Um
dia, justo de doze anos passa-dico, um cisma, Ticotinha notou, sol se bocejando,
Chirbito, que aprumava quase trinta, cortar a tranqueira do riacho, num
mangalarga tinhoso, e, nem bom-dia ofertado, campear só padrinho na, como
sempre era, ordenha das vacas. Predisse que as coisas destrocariam. E certos se
deram os atentos de Ticotinha, pois a coruja piou tristeza no oco da perobinha,
pingou água da talha vazia e, do telhado seco, gotejou lágrima. Dos tratados, padrinho
e Chirbito jamais contaram de contar, nunca, por ser incapaz, ela, de então. Partiu
e não mais deixou Assunhãé, onde emprenhou treze vezes, nunca menstruou, pois
só saia do quarto grávida ou, então, depois, na menopausa. Criou dez filhos,
trinta e cinco netos e os nove bisnetos, ainda ali juntados.
Pitava
raro, não mais que duas por ano, e quando era assim, sabido, de longe a fumaça
agitava gente, tal varejeira zunindo vaca velha, para pedir ajuda de benção, de
cura, de conselho, de caminho. Parava estafada, doentia e depois de proibida,
pelo marido, de fazer-se querer morrer, senão... Naquele pito derradeiro, veio sina
atada. Até no galo ou no alçapão, quem saberia saber? A Chirbito nem então
causou. Mas ela leu lonjura longe. O vento catingou surdo, mal humorado, do lado
do açude velho, montante de Assunhãé. Ticotinha despachou marido, filhos e netos
pelos infinitos, para que os demais, infinitos, se alarmassem, mutuamente, - “a
represa romperia na boca da noite”. Cada diligente seguiu bem dado rumo. Quedou,
sem fuga, restada em Assunhãé, esquecida, sem atento, só quem previu prever,
Ticotinha dos Prevejos. Fado, a água mesma que lavou garrotilho do campolina, sumiu,
pra nunca mais, com o corpo de Ticotinha. A alma não, a alma, as maritacas
alegres carregaram. Só o além sabe, agora, de onde ela atina, sempre, prever os
imprevistos. Só o além!
Ceflorence 02/01/16 – e-mail cflorence.amabrasil@uol.com.br
Sr Florence,
ResponderExcluirMe encantei com a história de Ticotinha dos Prevejos. Ficarei aguardando por outros personagens igualmente imaginados e bem construídos. Até lá...
Sra. Márcia, como falamos tem sido muito agradável mudarmos de assunto e acompanharmos as divagações sobre literatura. obrigado.
ExcluirCaro amigo, Parabéns por essa iniciativa. Agora podemos acompanhar suas crönicas e nos gratificar com tanta prosa. Abs Knud
ResponderExcluirKnud, há algum tempo que não nos comunicávamos. Como sempre é uma alegria receber seus retornos.
ExcluirEspero continuar produzindo para estarmos juntos neste caminho.