quinta-feira, 1 de outubro de 2020

 

JAMBEIRO AO MORRER DA TARDE

 

Ao lado do jambeiro nunca menti acordado. Por medo, adjunto de verbo ou rima?  

Muro ao lado irresponsável, cabisbaixo, quebrado. Usava eu calça curta, bodoque.

Aprendi a mudar de lugar, desconversar, palpite, ideias, ideias, calar. A par, opor, ater.

Conversava comigo, Deus, a professora, minha mãe, respondia por eles e disfarçava.

Mudava de canto, encanto, a mentira me seguia, pensei que era rei e ela sabia.  

O sol cismava, depois me ouvia silencioso, irrequieto, carinhoso ou medroso, subia.

O carretel rodava na corredeira, dedo no nariz, sujeira, delícia, desfaça, disfarça.

Água, riacho empossava no remorso de não olhar Belinha no azul, desejo, seja.

Pé no chão, cheiro de não sei que, manga madura, brota uma dúvida, duas fogem.

Pro Zeca ela sorriu, sofri, ciumei, senti, puta que o pariu.

Entalava a cisma, brincava de rodamoinho o vento ao vento e levava lembranças.

Cismei não mais ser criança, aprendera a dizer não, fingir tristeza, mentir, soltar pipa.

Assim eram os dias, os tais, os pais, os mais, jamais, centavos, poucos, avós, a voz, eu.

O bem-te-vi gostava de azucrinar enquanto não garoava. Me pus, ele pôs, nós após.

Era, ali ou lá, chorão, na beira do córrego, surdo, não entendia de preguiça ou malícia.

Também não floria, idiota, pendurado no nada, para que servia? Não dizia, escutava?  

Aprendi a mentir, Padre Moca mostrou, quando estava às pressas para porra alguma.

Depois das seis, punheta virava Ave Maria.

Às sete mandava voltar depois, não sei porque, pois era a mesma.

Antes das oito perguntava quantas, tomava dois cálices, breviário a mão e rezava.

Benção, hóstia, limpava o cálice, secava o vinho, mandava embora. Chegara a hora. 

Sem nem perguntar cor, o diapasão se fez em breves, casmurro, colcheias e pasmos.

A professora de música tinha uma bunda enorme, sonora, com solfejo idiota.

Não entendi ao que servia a colcheia, a bunda cheia, o diapasão, não. Só sentia tesão.

O jambeiro nunca esclareceu causas de me afastar enganado e medroso, ao mentir só.

Não tinha má personalidade, nem conhecia a realidade. O jambeiro. Mês, fevereiro.

Não seria eu se não fosse o mundo inteiro ali, ser minha cabeça, ser pomar, ali só, ser.

Me afastava do abacate, lacrimava ele no tronco antes da florada e possuía tristuras.

Anjos não frequentavam o quintal, pois a porta da igreja fechava. Não sobrava medo.

Senti saudades dos olhos de Belinha, barra manteiga, amarelinha, recreio, cria, creio.

Por ser mutante e cantos, a cigarra não concordou, mas gostaria de voltar a casulo.

Aprovei sua cisma, mas Deus a pariu assim e não refez como dantes.

O saiote de Belinha não escondia minha vergonha, nosso desejo, sua calcinha.

 Flagrei-a entre meu sonho, canto, o banheiro, o encanto, ela me sabia candura.

Engracei, vivi ela-eu, canivete, ilusão, risquei coração e lá-ela-eu em sim, traço, tronco.

O jambeiro não desfez e nem desmentiu, deixou o gesto, a mania, fantasia. Gritei.

Canarinho por ser, era, sumiu manso pelo voo que Deus lhe deu. Eu vi.

Meu sonho o seguiu até encontrar a manga madura e eu fiquei no intervalo do nada.

O quintal de manhã escondia a melancolia, meio-dia o colibri voltava.

Antes da escola sentia o perfume do tempo, a preguiça e o gato se escondiam no azul.

Fim de aula, alegria, outras artes, as tardes, longas, o canto do pássaro preto. Belinha.

Medo, boca da noite, baixo da cama olho, nada. Dedo na boca, durmo homem, sumo.

Serei quem no até amanhã. Até Belinha, até então, até minha, terei?

Penso, por que penso? Logo desisto.

 

Ceflorence   01/10/20     e-mail  carlos.florence@amabrasil.agr.br

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