JAMBEIRO AO
MORRER DA TARDE
Ao lado do
jambeiro nunca menti acordado. Por medo, adjunto de verbo ou rima?
Muro ao lado
irresponsável, cabisbaixo, quebrado. Usava eu calça curta, bodoque.
Aprendi a
mudar de lugar, desconversar, palpite, ideias, ideias, calar. A par, opor,
ater.
Conversava
comigo, Deus, a professora, minha mãe, respondia por eles e disfarçava.
Mudava de
canto, encanto, a mentira me seguia, pensei que era rei e ela sabia.
O sol
cismava, depois me ouvia silencioso, irrequieto, carinhoso ou medroso, subia.
O carretel
rodava na corredeira, dedo no nariz, sujeira, delícia, desfaça, disfarça.
Água, riacho
empossava no remorso de não olhar Belinha no azul, desejo, seja.
Pé no chão,
cheiro de não sei que, manga madura, brota uma dúvida, duas fogem.
Pro Zeca ela
sorriu, sofri, ciumei, senti, puta que o pariu.
Entalava a
cisma, brincava de rodamoinho o vento ao vento e levava lembranças.
Cismei não mais
ser criança, aprendera a dizer não, fingir tristeza, mentir, soltar pipa.
Assim eram
os dias, os tais, os pais, os mais, jamais, centavos, poucos, avós, a voz, eu.
O bem-te-vi
gostava de azucrinar enquanto não garoava. Me pus, ele pôs, nós após.
Era, ali ou
lá, chorão, na beira do córrego, surdo, não entendia de preguiça ou malícia.
Também não
floria, idiota, pendurado no nada, para que servia? Não dizia, escutava?
Aprendi a mentir,
Padre Moca mostrou, quando estava às pressas para porra alguma.
Depois das
seis, punheta virava Ave Maria.
Às sete
mandava voltar depois, não sei porque, pois era a mesma.
Antes das
oito perguntava quantas, tomava dois cálices, breviário a mão e rezava.
Benção, hóstia,
limpava o cálice, secava o vinho, mandava embora. Chegara a hora.
Sem nem perguntar
cor, o diapasão se fez em breves, casmurro, colcheias e pasmos.
A professora
de música tinha uma bunda enorme, sonora, com solfejo idiota.
Não entendi ao
que servia a colcheia, a bunda cheia, o diapasão, não. Só sentia tesão.
O jambeiro
nunca esclareceu causas de me afastar enganado e medroso, ao mentir só.
Não tinha má
personalidade, nem conhecia a realidade. O jambeiro. Mês, fevereiro.
Não seria eu
se não fosse o mundo inteiro ali, ser minha cabeça, ser pomar, ali só, ser.
Me afastava
do abacate, lacrimava ele no tronco antes da florada e possuía tristuras.
Anjos não
frequentavam o quintal, pois a porta da igreja fechava. Não sobrava medo.
Senti
saudades dos olhos de Belinha, barra manteiga, amarelinha, recreio, cria, creio.
Por ser
mutante e cantos, a cigarra não concordou, mas gostaria de voltar a casulo.
Aprovei sua
cisma, mas Deus a pariu assim e não refez como dantes.
O saiote de
Belinha não escondia minha vergonha, nosso desejo, sua calcinha.
Flagrei-a entre meu sonho, canto, o banheiro,
o encanto, ela me sabia candura.
Engracei, vivi
ela-eu, canivete, ilusão, risquei coração e lá-ela-eu em sim, traço, tronco.
O jambeiro
não desfez e nem desmentiu, deixou o gesto, a mania, fantasia. Gritei.
Canarinho
por ser, era, sumiu manso pelo voo que Deus lhe deu. Eu vi.
Meu sonho o seguiu
até encontrar a manga madura e eu fiquei no intervalo do nada.
O quintal de
manhã escondia a melancolia, meio-dia o colibri voltava.
Antes da
escola sentia o perfume do tempo, a preguiça e o gato se escondiam no azul.
Fim de aula,
alegria, outras artes, as tardes, longas, o canto do pássaro preto. Belinha.
Medo, boca
da noite, baixo da cama olho, nada. Dedo na boca, durmo homem, sumo.
Serei quem
no até amanhã. Até Belinha, até então, até minha, terei?
Penso, por
que penso? Logo desisto.
Ceflorence 01/10/20
e-mail
carlos.florence@amabrasil.agr.br
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