SETE SEMÂNTICAS E SEUS CONTRASTES.
Por onde começar? Era, recordo,
véspera de malhação sabatina de Judas e estava precavido, pois no ano anterior
fui surpreendido com a vizinha pendurando suas calcinhas na janela do cortiço
para me provocar e as crianças quiseram me envolver no contexto. Descrevo sem
subterfúgios os acontecidos, pois prefiro não reconsiderar a minha coerência lógica,
mas explicá-la a quem tem dificuldade na assimilação. Talvez expondo com
métrica e pronunciando acentuadamente as proparoxítonas as hipóteses das
metáforas fiquem mais objetivas para vosmecê. Confesso, sem pejo, que a memória
poderá falhar em alguns pontos por aceitar, sem precaução, como testemunhas
duas falcatruas lésbicas e um artefato hipócrita desconhecido. Mas não alteram
os pontos nevrálgicos e vamos objetivamente aos fatos que me obrigaram a rever
se existiria sentido pragmático entre as ambivalências de concordar, isoladamente,
com o projeto de incentivo à pesquisa para a aceleração da menopausa precoce ou
optar pelo imperativo lúdico de desfrutar, com prudência, dos milagres
minimalistas das orações gregorianas.
A academia não se pronunciou, em
tese, pois houve um ponto especifico de inflexão sem que o jasmim, com
tendência homofóbica, se declarasse comprometido com o porvir. Pelo ritmo da
apoteose poderia surgir um fato novo ou seria a confirmação dos resultados
práticos do que me empenhara há muito que se esclareceriam só com o tempo?
Explico melhor, isto é, sequenciaria o contraditório da teoria da insuficiência
da fé para conter o efeito das marés montantes no aleitamento do capricórnio ou
garantiria, no sentido realmente tautológico, a probabilidade da certeza de ganhos
permanentes em jogos de azar? Esclarecido ponhamo-nos a caminho.
Embora de formas não heterodoxas eram estes os
pensamentos que me acossavam durante o período que deixei a porta da Igreja do
Barroquinho de Ancalás, andando pela Alameda da Vergália, até atravessar o Viaduto
Urcão do Redentor. A alma de Zeferão da Zinca, que desencarnara com uma
navalhada do capoeira Quebaldo Ruca no último outono, fez questão de me
acompanhar até a porta do Grupo escolar Professor Tamberte. Ali constatei, sem
dúvida, que a solução fora inconclusiva, como salientei, razão das crianças do
jardim da infância se desajustarem alegremente, incorporarem Netuno e passarem
a brincar de Santa Ceia e Pilatos. Lembrei que Rauâ, meu guru, não pontificara
sobre estas hipérboles. Determinou ele não ser parte das gêneses de suas preocupações
sobre o futuro, tanto como a megalomania e muito menos pontos aderentes ao
Protocolo dos Sábios do Sião, que não o haviam comovido de forma alguma.
Neste sentido meu profeta reconfirmou
estar em alfa, sem perspectivas de definir valores morais sobre métodos contra conceptivos
para os gambás, frise-se, indiferentes, e pensando em retornar aos estudos de
sânscrito como inspiração espiritual para a profilaxia da pesca não predatória.
Sendo terreno espiritual conflitivo, entre a esquizofrenia e a previsibilidade dos
tarôs para estimar a colheita de fantasias das ninfas de Albadén, optou ele por
transferir o protocolo para uma Igreja Pentecostal Maronita e usar escalas
jônicas nas suas partituras.
Mereceríamos repouso depois deste
estafante trabalho de análise transacional. Meditei com toda prudência, embora constatando
certo sentimento paranoico que a lagartixa do teto esquerdo da latrina imunda do
Cortiço do Mandega, onde morava então, estivera, irritantemente, a me espionar,
de forma agressiva, com ares de quem exigia certezas e valores absolutos sobre
as interrogações canônicas dos milagres do Beato Alcadim e a garantia de que a imprevisibilidade
crônica das tonalidades furta-cores do fim do veranico fossem poupadas do
aborto obrigatório estatal. Precisaria frieza, sem entrar no mérito da questão,
para resolver a equação imposta pela circunstância.
No hiato dei-me ao direito de decidir,
convicto, que entre uma samambaia, ainda que imatura nos seus valores
emocionais e um colibri a cirandar pela janela das minhas fantasias, por mim escancaradas
para ele sugar as ansiedades e poupar os deleites, a melhor opção seria
tangenciar a inclinação emocional da lua, àquela hora se desfazendo elegante entre
duas nuvens caladas e a minha desilusão. Conclui que as propostas não se
contradiriam, tanto que uma delicada fase rosada dos reflexos dos meus
pensamentos sobre o espelho quebrado da parede sem reboque transcorreu suave,
aguardando a brisa mansa regar meus sonhos.
Poderia vestir o pijama e dar-me ao
direito do repouso depois destas exaustivas apreciações criteriosas sobre o
imprevisível. No entanto escutei nítida, indiscutível, a insinuação irônica da luz
forte de uma teoria materialista sobre a evolução das espécies. Esta, de forma
pragmática, reluziu ainda mesmo sem ter tido oportunidade de menstruar pela
tenra idade, sentar-se dialeticamente sob o cavaco de primeira linha do vizinho
músico e expressar-se com um poema educado, suave, impúbere, procurando não uma
solução do problema dodecafônico, mas, nas circunstâncias, optou pela paixão da
sílfide da escala de fá. Desta forma o tempo propiciaria a procria de colcheias
em bemóis e sustenidos em semicolcheias, além das pausas. O sonho seria, de
ambos, somente ordenharem as libélulas e os arco-íris para amamentarem as
adoradas criações.
Não sucumbira eu até então, malgrado
as incertezas. Descobri, incontinente, a partir daquele momento, que comandava
o universo somente com meu equilíbrio emocional e o raciocínio lógico. Transmudava
as suposições obedientes entrecortadas a meu bel prazer em formas
longitudinais, provérbios instigantes, melodias irrefutáveis. Obrigava, altivo
e senhorial, os movimentos calados a se transformarem em objetos e estes eu os estilhaçava
em simples efeitos sonoros, desconsiderando, por último, interpretá-los, eu
mesmo travestido em saltimbanco, em seus papeis de despedaçados remorsos humilhados
de nada. Sentia a gloria beijar meus testículos como o fazem os colibris em
suas fainas singelas.
Por fim, eu esculpia meticulosamente,
a partir do fundo subjetivo das minhas elucubrações, eloquente eu, sempre auto
centrado e só, como comandava a minha superioridade, e endeusava os restantes
dos nadas, obedientes e inúteis, com os quais embalava as sensuais gotículas de
orvalho descendo pela janela para refletir os afagos doces com que as minhas
fantasias acarinhavam o próprio ego em seus seios maternais. Neste exato ponto
do enredo, que eu compusera em minha euforia, senti a presença de Édipo
passeando altivo e vingativo em meus meandros como se fosse mestre sala do
inconsciente ou menestrel vegetariano.
Se compensavam as suposições entre o
instinto de maternidade e o arraigado espírito ontológico de prevaricação da
classe abastada. Com estas colocações esclarecidas restaria encerrar a pauta
evitando a prolixidade. Não havia realmente mais nenhuma dúvida oscilando entre
as metáforas e as figuras de sintaxe, esperando-me depois daquela vírgula inútil
antes do final do parágrafo. Era claramente visível, a intenção desta pontuação
atrevida, como se tivesse a intenção de sujeitar-me à mesquinhez de alguma
parábola ou propensa a convencer-me de que a aceitação do resultado do exame
psiquiátrico me traria mais sentido pragmático.
Meu raciocínio, além de brilhante,
era perfeito, assim conclui modestamente. Rememorei todos os detalhes. Volto
aos fatos, para aclarar os acontecidos. Confirmo com saudades, como assistia enternecido,
que há anos descia uma simbiose, em formação ainda, de melancolia com
pé-de-moleque do outeiro de Rantaso, sempre que esta situação se plasmava. Era
um alerta a figura da simbiose. Com isto posto, automaticamente, uma pétala fugidia
do arco-íris se acomodava na parede da varanda onde o sol vinha descansar ao
meu lado. Ali cantava o astro chamando a brisa para embalá-lo antes de se
retirar para o poente. Eu o ouvia cerimonioso, sem interferir, nas suas
cantilenas gostosas, longas, para não o perturbar.
Lembrei-me, isto é fundamental no
contexto, que possuía ainda a mesma caneta Parker que fora de Jongoinho, meu
avô. Por temperamento ou tradição estava a Parker relutante em anotar o que eu
ordenava, mas os fonemas se comportavam dóceis e convencidos da necessidade de ocuparem
os espaços vazios, ortogonais, disponíveis entre a indecisão das orientações
metódicas que eu lhes impunha e um preconceito de gênero que atravessava o zodíaco
sem solucionar suas incertezas psíquicas. O vão entre a demanda de carinho e a
indefinição sobre a síntese metódica do pecado original foi suficientemente
intransigente a ponto de propor-me conceitos conflituosos. Na dúvida não
rejeitei nem considerei que o azul seria a cor preferida para ir a quermesse de
Santa Ruíta. Sabia e, modestamente, aproveitei todos os conflitos, impondo-me penitências
sucessivas para suportar metodicamente vários pleonasmos arrogantes e
intransigentes durante a quaresma que se seguiu. A Parker foi extremamente
compreensível neste período exaustivo. Não sei se me fiz claro, embora ela
tenha desaparecido.
Não desisti, mesmo tendo seguido com
olhar cativo o beija-flor à janela ao desviar-se da primeira camélia que se
ofereceu, até ver nitidamente o vitral da sala ser cortado por uma cigarra
ofegante pedindo para ser aproveitada como soneto alexandrino. Caso não
ocorresse esta metamorfose monocromática, pediria eu ao Cônego Vicatinho escusas
por não participar da comunhão dos abstêmios da sétima ceia na catedral em
louvor ao imponderável. Mudei de espaço psicossomático e retornei ao Bar do Rigado
onde o garçom limpou o silêncio, esclareceu que o tempo era uma questão de
ponto de vista, metamorfoseou um subterfúgio em dó sustenido, fantasiou usar
seu melhor pigarro para ser convincente ou trocaria as incertezas de que
dispusera até então para confundir o futuro. Não me permitiu escolher entre um
salmão sem tempero e uma moça vistosa que se sentou à mesa em frente ao caixa,
com um decote delicado e atraente.
A partir deste instante não consegui
atinar com alguns dos detalhes que me impuseram as circunstâncias. Não entendi
porque o policial armado entrou pelas portas do fundo enquanto sua companheira,
saindo de uma ambulância, moça até educada, ofereceu-me a camisa branca com
tiras sobrando e que adoravam se entrelaçar dos meus quadris às costas, apalparem
meus mamilos, beijarem-me até o pescoço. Gritei independência ou morte em
homenagem a Tiradentes, pois me senti um ícone de mãos atadas, lindo como peça
descomposta em pedra sabão pelo Aleijadinho nos outeiros das Gerais.
Me pus calmamente em tormentas e
adjacências desmerecidas. Imagine eu, com o meu acervo intelectual e artístico
de saltimbanco consagrado, poeta, instrutor de marimba e filho de Ogun Lele. naquela postura de irreverência junto ao
público que continuava sendo devorado pelos seus apetites incontidos, pratos
circulando, garçons gritando, apogeu do destempero. Mas enfim dos males o
menor, fez-se e faz-se o tempo. Daqui escrevo, este santuário de solidão, pois
ouço agora, muito compreensível, só a angústia desta pobre jabuticabeira ao meu
lado, que reservou em particulares sussurros a mim, a pouco, que não tem ideia
do que fizeram com o mamoeiro geneticamente modificado, que a acompanhava apaixonado
e de mãos dadas nos passeios das manhãs.
Acredita ela, agoniada, que uma ONG ambientalista
o sequestrou. Escutei-a chorar, por último, enquanto a moça de branco e
mandante, ciumenta da jabuticabeira que me acarinhava e apetecia, puxava-me pelas
mãos e sugerindo a tomar pílula de sonhos ou dos delírios.
Ceflorence 01/09/20
- E-mail: carlos.florence@amabrasil.agr.br
Obrigado amigo, linda e inteligente Crônica
ResponderExcluirAbraço
Obrigado amigo pela Crônica, mais uma linda e inteligente escrita.
ResponderExcluirAbraço
De todas as questões analisadas,acho prioritário solucionar o problema dos gambás.Embora a depressão da jabuticabeira em solidão me preocupe.
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