DOZE DERRADEIRAS E PELO AMOR DE DEUS.
Nem poderia
ser tanto e assim pelas rebordas das ameaças imbricadas nos desconformes dos meus
conflitos passados, entravados, nem desdigo, confesso, podes crer, nebulosos e até
desfigurando com o que restou de lembranças velhacas e envelhecidas. Por fim se
deram a dar, repito, pois assim conto por comedimentos da índole acanalhada,
vagante nas subserviências dos medos. Tudo nas cantilenas foram nos intervalos
de umas metáforas atrevidas, geralmente por coincidirem aos se dando pelos domingos,
dias estes de vadiagens, às vezes das euforias, para alguns meditações e
arrependimentos, muito comumente dos embriagados em fés ou alcoólicas. Deram-se
quase assim como desponto os fatos, pois a cabeça minha das ideias antigas já
se foi esgarçando nas descomposturas. Coisas das imensidões e dos
inexplicáveis, mas dos homens, como eu, que me nasci assim sem proveito mor e me
desdigo, correto, infelizmente. Retorno pelas tangentes agora, amesmado de
porventura nenhuma que sobrasse sem não revelar, entristecendo ainda, antes de se
inverterem as ingratidões e apadrinharem as insensatezes como é de hábito. Não duvide
ainda, nem se vá sem fim terminado, pois explico melhorado nos devidos, pelos
provisórios sequenciados, quando a mente aprumar mais apurando como correto tem
de ser o justo.
A não serem mais do que seis
provérbios e uma nostalgia, como gostava de agadanhar na prosa meu mestre de
viola e xaxado, querido Esteban Rovario, não cri, mas foi assim que veio o
contexto claro, tanto que senti no direito, melhor, na obrigação, de remoer o
inconsciente e provocar os primeiros delírios em decibéis menores que sempre me
sabem bem. Se deu, belo, um sol manso e cansado começou a se desfazer em sendo
muito por bem miúdo e preguiçoso, lagarteado, pois o próprio, por isto, se
coubesse no devaneio alimentado no ego desmereceria a expectativa visto que não
caberia contraditório ou retruco, sequer contrariantes da desdita fatalidade. Mas,
sinceramente, preferiu o destino postergar os detalhes e espreitar de longe o
meu sofrimento. Neste topete tumultuário, enquanto ainda as sombras se
estendiam procurando subir pelas paredes e escadas dos casarios antigos e
indiferentes pedindo solitude, vielas saudosas da minha querida Vila dos
Trançadeiros das Boiadas, e que por ali estes desdéns do que relembro se deram
por forem ou seriam. Nem desatino o correto. Sem menos desarrazoados outros,
diferençados a maioria, instigo e palavreio.
Recomponho e garanto para os determinantes
não extrapolarem desmedidos como os aléns comandam. Desconfiei que não
estivesse nos meus melhores dias de lucidez, mas no repique das badaladas
chorando saborosas, por trás do infinito, indiferente, mas elegante, com todo o
direito de se fazer poente, trouxe de bem longe à noite para derramar igualada
nas imensidões do nada. Os sinos por transigência e método impuseram longe, nos
escaninhos do imaginário e na escuridão a meditação preferiu embriagar,
carinhosa, minha porventura. Era eu ainda, naqueles dias em que se sucedendo foram
como indicavam as bruxadas, uma paranoia delicada e incipiente, a bem dizer
diminutiva e pueril. Depois piorou de piorar. Tanto assim que desapaziguado de
freios e rebarbas, como potro inteiro de castração não tida, não conseguira eu
recolher uma migalha sequer dos acontecidos rodeando. A tais se digam em
proventos, nestes torpores e desejos, Deus até abençoou o que sobrara do horizonte
ainda em grenás e espargiu restolhos de melancolias aprendizes a ponto de se
perderem como as solidões só veneram. Merecido, complacente e nutrido de
milagres e perdões, se acomodou nestes seus esplendores próprios, que criou o
Senhor só para Si, neles se aconchegar em bemóis e espairecer como muito Lhe cativava.
No entrecho nem desvacilei de aceitamento
da esquizofrenia me retorcendo em rebarbas confusas dos carnais desejos e conjurados
vis. Era domingo, lembro-me e revigoro no retrocesso. Vagarento, inseguro, como
sempre, o meu depois atritado em conjecturas e indestinados porvirens. Habitual,
veio palpiteiro ele, meu pensamento, meu, conversar com os anseios, meus, e me
deixar escolher indiferente entre a desesperança ou a depressão. Coisa dos
resquícios da insânia sadia, com que coabito, desde aqueles desmontantes até
hoje, nos cotidianos da semana do mês inteirado, para nos finados visitar os
ausentes idos e descarnados, realimentando afinidades, insolvências e tristuras.
Apesar deste cenário internado do comigo mesmo, Leizinha irrompeu radiante, cruzou
por meus desejos, como sempre sim, para provocar as demais moçoilas outras beliscando
suas invejas e andejos pela praça anoitando. A cena se repetiu como de outros
antanhos tantos, melindrosos, entre o silêncio característico de uma
metamorfose gravida, simplesmente, em sustenido como preferem os menestréis,
por entre os bancos do jardim, cruzou inelutável e altaneira, confiante,
resvalando o chafariz abismado pela beleza indiferente dela. Com tudo isto
enfeitou o subjetivo, vestia azul carnal e sensualidade, insinuava, arrogante,
os seios mimosos para permitir-me transcender beijá-los, era, sem até querer
ser tanto, um sonhado ser como só poderia ser, conforme cativava em sendo, pois
jamais deixaria deixar de ser. Era sim Leizinha, meus pecados, meu amor, ficção
ou gerúndio?
Tenho certeza absoluta que o banco
mais antigo da praça, a amendoeira gigante, as paredes da matriz, tanto como o
escuro do infinito, engendravam, lacônicos e cínicos, artimanhas nas suas
sôfregas provocações. Intentavam abscondê-la em tramoias das minhas vistas,
intenções, prazer e pureza. Tenho certeza, era domingo. Tal se dando, ela se
desfazendo por meandros seus, senti o chafariz soberbo, eufórico, exibir suas
lágrimas ao jardim cabisbaixado no silêncio, enquanto as crianças piqueteavam
esconde-esconde nas árvores, nas pernas tresandantes de inutilidades, pecados e
destinos. Do coreto o maestro regia as horas em que as nuvens deveriam esconder
a lua curiosa, orientar o pouso das maritacas, saudar os namorados, apaziguar
os enfermos, enfeitar a tristeza. Também tanto, entre as mãos afetivas dos namorados
e alegrias se davam bater pique descontraídos as crianças, por elas mesmas
libertas de remorsos, sumidiços, como brisa irresponsável e morosa preenchendo
as solidões, espreitando, os pequenos, sobejando sorrisos, olhares peraltas, festa,
aleluia, peguei você, não (!), pique.
Pelos contrários, caminhava
solitária, mas disponível, uma desobediência domingueira querendo desmerecer os
sofrimentos, as angustias, até os ténues prometidos descumpridos, que a semana
escondera. Particularmente eu não me servi da recalcitrância por medo ou
respeito, mas me contive no sozinho procurando encontrar sobre aquele nada
pairando no conjunto, que não me interessava digo, a figura única pela qual ali
fora, Leizinha, meu sonho, minha sina. No desfazer dos motivos, subiu entre as
solidões e desejos restantes, um sabor acre-doce de finitude e nostalgia. No
intermeio mesmavam os proventos habituados de sempre; finda reza, Monsenhor Orcólio
abençoou todos em si, nos seus partam em paz desta santa casa do Senhor, pois,
dando-se a cada um e aos demais, inclusive, portanto, se deram deixando irem embora
ao léu, expurgados dos pecados trazidos e se seguiram eufóricos, mas preventivos
e purificados, procurando suas consolações e esperanças dominicais até as
próximas contravenções. Monsenhor, muito convicto e arraigado dos seus dotes
promissores regenerativos das almas puras, conhecendo seu bom rebanho, acalantou
seguro na reincidência pecadora natural e insinuou ainda, no entusiasmo
crédulo, de cada um e, portanto, em todos e em tanto pecadilhos inovados se porvirem,
em semanais retornos, para os arrependimentos bons voltarem e a apostólica romana
rejuvenescer sempre. Muitas felicidades se realizariam nas alegrias da vida,
para nos domingos serem abrandadas nas cordiais confissões declaradas,
perdoadas e comungadas.
Lembro-me agora, desaforados anos corridos,
muito bem retidos na memória, que foi exatamente neste sentido pragmático que
embalei os primeiros devaneios e fantasias, por Leisinha, antes de me arvorar
distante de seu sorriso como me ordenava à timidez de sonhar em sem permissão e
vão. Do ombro alvissareiro do poste amigo e carinhoso, encostando minha timidez
ardida, eu ao lado do chafariz eufórico, acomodei meus receios de ousadia para
pensar em pedir à Leizinha nada mais do que um minuto miúdo de seu sorriso
largo, um dedo de flerte, uma pestana de olhar, meia esperança pretendida,
quiçá uma benevolência. Creiam em, sim. No mundo dos indefinidos, amarrado ao
poste contemplativo, não lembro se Leizinha se desfez em indiferença, recusa ou
eu que me diluí já despretenciado de coragem a romper. Tudo se dava nos
envoltados acontecendo, pelos entões, porém, me machucando adoidado. Aquele desmedido
nem bastando, quem sabe, até tal-vezes, desmerecido com certeza, gaguejante,
amuado, imaginando quem-dera, um gesto ao menos, algum dia, quem-sabe. Atino,
no entanto, que no infortúnio da desinformação e da dúvida, introjetei naqueles
contrastes ilusórios de quimeras meus diminutivos nas entranhas censuradas, me desfiz
calativo em tristeza, angustiado. A boca do chafariz beijou a ilusão e lamberam,
apaixonados, timidezes minhas. Confesso, desapurado, de maledicências. Não
havia como negar, calcou a solidão e desapreço, assim olhei o infinito,
assobiei raquítico como se o gesto disfarçasse o pejorativo, mastiguei
fingimento com sabor de sutileza, o poste ouviu o lamento, poste inútil, segurando
a mão fria da angústia, se desfez rogado, idiota, amaldiçoou meus pretensos.
Pairou ausência e solitude, faceei nos interstícios dos desamparos dois ameaços
de coragens recolhidos com raiva, uma dose mirrada de impotência medíocre,
fustigada pelo pejorativo, podes crer, e no confronto da esperança, agoniei em
dó menor, pois nem uma porventura que se desse, deu-se. Amargurei abraçado aos
meus subjuntivo e infortúnio, poste abraçado à incerteza, agonia e eu, sem
escrúpulos desaverbei o infinitivo amar para conjugar amargura. Acredite.
A noite
foi abocanhando a melancolia. O sono chamou as crianças suadas, chamadas,
faceiras, reticentes, pedindo mãe posso ficar (?), chupando os dedos, agora, se
deu só o não melancólico, o vamos, o até amanhã. As maritacas, que não sabiam
ser diferentes e nem rezar, se esconderam pelos sumiços preferidos, telhados
altos, árvores caladas, segredos tranquilos. Como prouvera o destino, igualado
de rotinas, o senhor sacristão, recatozo e repetido, obedeceu ao monsenhor,
enxotou os pecados novos pela porta dos fundos e os velhos pela da frente, falou,
falou macio, fora da igreja, por favor, fora-fora, ferrolhou os imprevistos, recolheu
a solidão no altar-mor. Tudo assim se igualado deu e, certo, para depois,
piamente, apagar as velas, ele, mereceu dispor o sinal da cruz em frente ao mor
por ser o de vigência e visada enorme, beijou o rosário antes de escondê-lo no
casaco próprio de sacristão cioso e meditou acabrunhado se sabia ou não por que
vivera tanto, se era tudo muito sempre por demais, tão sempre igual das
igualdades, como mesmo era? Amém. Foi o que se disse a si próprio como
acostumava fazer, mirrado a si mesmo, sem apressadamente ou motivo justo, pois
não tinha outros senões a cumprir, assim, dantes do primeiro ressonar permitido,
tanto que rezingou no acalantar aos mortos santos para não se esconderem pelos
oratórios alheios ou perniciosos a se perderem entre os desvãos entremeados das
paredes góticas procurando celestiarem aos infinitos e adorarem de perto sendo o
Senhor.
A noite se fez por si como as ilusões
e os mistérios se escolhem para abonarem as confidências, os acasalamentos e as
fantasias. Fomos restando na praça, nostálgica e indiferente, não mais do que o
poste aconchegado ao infortúnio e meus infinitos, só. Ainda sim também, aquele
apagado chafariz petulante e inútil, bocejando suas lágrimas enxugadas nas
costas das mãos da minha angústia. Ombro meu ao poste para não desmerecer meus
passados, como sempre eram em sendo. Por ultimado, àquela hora, as saudades,
eu, chafariz impostado, a tristeza, fomos observando de longe a se fazerem
sumir as pernas e os torneios do corpo amoldado e esbelto, lindo, da menina Leizinha
desmanchando pelos meandros das minhas carnes arvoradas, desesperadas, do
membro petulante ereto e mal servido, independente, temulento. Demência e ódio.
Confabulávamos, fantasias, eu, a solidão, poste, a timidez, desespero. Pairou
um imenso em-vão sobre a nostalgia, sem ter coragem de socorrer a coragem e o
arrependimento. Meu sofrer acompanhava os passos de Leizinha desfazendo-se pela
ruela acima a busca do nada e realçando minhas angústias. Dei-me conta de que aquela
Rua Direita, infinita, sem cerimônia ou compaixão, atrevida, roubava meus
motivos. Avistei de soslaio, alongada, com minhas fantasiosas cismas
perseguindo os gestos delicados, envolta muito esbelta, no porte gracioso, Leizinha
levando, sozinha e só, meus incapazes e tormentos. Desaparecendo menina,
mimosa, maldita, me chama, não entranhas no lusca-fuscas pelo amor de Deus, olhe-me.
Imperturbável em fá maior, como sonharia acordado se trovador me dera, vi
Leizinha cruzando baixios das sacadas dos alpendres carregando cada vez mais duradouros
meus medos, desejos, os meus anseios. Mastiguei asco amargoso, acompanhando as sobradas
duas luas fugindo pelas nuances de suas métricas e estrofes, aos troteados meandros
da rua subindo, sumindo, para desfazer a esperança frustrada de abraçar
Leizinha, amá-la inteira no infinito. Esta agonia do fim, do medo, da
impotência se perdeu atrás dos detalhes, da lágrima mansa, das preguiças dos
telhados velhos, do nada, como preferem as melancolias. Contrafeito e sem
destino, segui as imagens, a meia distância, dos colibris brincando de primavera
nos beliscos delicados das flores agradecidas, beijadas. Leizinha foi se
desfazendo em corpo, se transformou em memória, em só, transfigurou em desejo,
poente, era, foi e tempo passou.
Era o que tanto foi, e cá estou eu
atravessados anos corridos, pois que não seria mais do que tantos outros domingos
iguais, para eu contar agora, que me viram envelhecer errando enredado ao
desencanto da solidão do poste apagado, o chafariz inútil, as crianças reinando
e a Leizinha, linda e graciosa, sorrindo, olhando sem me ver, que se casou em
um domingo muito antigo, tanto como os demais, casou com alguém fortuito, para
agora, exatamente agora, levar seus filhos, os filhos mesmos que por destino eu
vi correndo no pega-pega, sempre, no pique das pernas dos namorados e nas alegrias
mundanas dos pecados novos indo para casa reabilitarem-se com os perdões
saborosos do Monsenhor.
Hoje é domingo, domingo dos remorsos renascendo
felizes, arrependimentos, das saudades, de ver a alegria passar de mãos dadas
com os normais casais que não devaneiam sozinhos, das frustrações e, por assim
em sendo, das maritacas algazarreando suas euforias e me permitindo chorar o
tempo que nunca se fez em ser para um dia, por mim, em mim, um dia meu de
domingo, para não deixar-me sonhar meus desconsolos tão só.
Ceflorence 12/12/19 e-mail cflorence.amabrasil@uol.com.br
Dr. Florence, como sempre impecavel , parabéns. Abraços Celso Ferrão
ResponderExcluirComo sempre é uma alegria receber comentário gratificante de pessoa arguta, competente e sensível como o amigo. grande abraço Florence
ExcluirA descrição dos sentimentos, dos delírios, tem uma forma única, característica, inconfundível no estilo, sempre de uma beleza imensurável, e tristeza do mesmo tamanho, serão inerente? Parabéns!
ResponderExcluirA tristeza do nunca mais, de um tempo perdido, hoje revivido em sentimento.
ExcluirJMVidal
Caríssimo Vidal
ExcluirMeu irmão de alma e devaneios literários. Realmente é uma alegria receber, não só os seus comentários estimulantes, mas principalmente a sua visita a esta casa.
Falamos há quase um ano quanto eu tomei a ousadia de enviar-lhe o meu Ensaios à Solidão. Naquele momento você me falou que estava atravessando um período de dedicação a outras atividades. Por estas razões o tempo passou e não nos comunicamos. Outro dia soube pelo querido Foz, seu primo, que ele estaria com você e que o encontraria extremamente dedicado a um livro novo e no paralelo acarinhando outro neto. Foi uma alegria. Vamos continuar nos falando. Obrigado mais uma vez e abraço.
obrigado Florence, sempre um momento divertido de ler suas crônicas.
ResponderExcluirparabéns.
Caro Mário,
ExcluirIndependente do divertido é uma delícia receber a sua visita carinhosa.