quarta-feira, 5 de abril de 2017

LAPSOS DE SOLIDÃO.
Só poderia sonhar em melodias outonais, mimosas solidões, provérbios. Era Alia em si e deus ouvia. Curtas premonições das cores e dos ensaios acalentavam as brisas antes de serem desfalcadas de suas mercês. Procedente, excitadas pelas palmas e sorrisos arrecadados entre as mais carentes fantasias, considerou-se correta a ordenação introdutória à tarde acabrunhada, disfarçada de bemol, sem afirmar sequer se a representação da tristura estaria disponível. Alia sorveu o retorno do nada oferecendo mesuras. Os timbres das cigarras embalavam as ameixeiras, engravidadas pelas euforias dos zangões, antes de amadurecerem nos caules mais altos mordiscando sete nostalgias e duas luas preparadas emocionalmente para distorcerem a realidade. Se fosse dado a Alia e por quem transitasse em sentido inverso memorar, mesmo desconsiderando o carinho dos extravagantes verbos sedentários, acompanhando meticulosamente as metamorfoses das delicadas mariposas, não intuiria os arroubos da sedução da gravidade excitando à maré montante e as delicadezas das melancolias bolinando mesuras sobre as águas prenhas de poesias.
Os dois escribas salvos pelos saltimbancos atravessando o vau estreito do rio dolente, pescando fantasias ocasionais para serem abandonadas às margens longas, foram contundentes em seus arremates. Compenetrados, não deixaram escapar, os escribas, o menor traço em registros seus de que quando as considerações aconchegaram aos umbrais dos telhados inteligentes, consultando as dúvidas, as calçadas indecisas se permitiram atravessar algumas chuvas intrigantes e sensuais. As pedras das calçadas envaidecidas, umedecidas, se amoleceram com os beijos de deus atentando, calmo, a direção indicada pelas andorinhas libertinas. O sino ludibriou o silêncio permitindo que Alia D’El Lípia se despisse em ré maior enquanto entorpecia imaginários orgasmos. Tempo posto, o poeta desmanchou pequenas ternuras tramadas de flores dolentes com contrapontos de sigilos, melodiando as pétalas sorridentes entre os seios miúdos e a imaginação desfraldada de Alia no intuito único de corromper a rotina e mistificar o desconhecido. Os imponderáveis mágicos, consagrados e melancólicos, oferecidos aos imprudentes mais achegados à entronização das fantasias eróticas do poeta Maistrosk, entrelaçadas às profecias azuis extraídas dos sonhos de Alia, não foram germinados na evocação da solitude.
Final em escalas dodecafônicas, período de procria das amenas estrelas, tanto deu-se assim, pois Alia passou a conflitar com sua angústia preferida, espreitando de soslaio o melancólico pé esquerdo fixar-se convicto na intenção proposital de desestimular uma metáfora indecisa a substituir distraídos versos seus, alexandrinos, por uma psicanálise freudiana. Na dúvida, sem o menor remorso, os artelhos canhotos do pé eufórico, adentrando poéticas terras com suas radicelas mimosas, concisas, concederam ao infinito, desmedindo delicados gestos espontâneos, a excitação carnal para arborizar Alia em todo o esplendor da solidão eterna, sensual, ordenando-lhe florescer sonhos, graças. Desejos, luzes espreitavam entre as desforras.
Ceflorence    23/03/17         e-mail  cflorence.amabrasiluol.com.br 

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