DAS TRISTURAS, DAS
ÂNSIAS, DAS PIPAS
CARO AZÉLIO-
Já arriadas as bruacas entrouxadas de amarguras apoito meus desencantos junto a
um pé de solidão, de onde o bem-te-vi me acusa. Consulto-o daqui para saber se
endoidei ou se o destino me amordaçou, caro Azélio. Ao notificá-lo, atualizo: deixei nossa Canturaí
após tribulações, sem saber por que, para onde, até quando e se queria. Com as carências desmanteladas, sequer postei espaço
suficiente para despedir-me dos amadrinhados canarinhos com quem versava, madrugando,
enquanto brincava com os gravetos no Ribeirão do Mormaço. Abandonava ali os
gravetos portando minhas opressões, águas abaixo se fazendo, na ilusão de que pelas
margens do riacho voltassem respostas sanando tristuras. Mas mesquinho vento tripudiava
irônico ao embaralhar as respostas as minhas angústias. Não duvides.
Saindo atropelei tralhas às costas, manhazinha
e tanto, a ponto de nem alimentar as borboletas que ainda sonhavam mimos e sequer
reguei as mudas de esperança que Licia semeara antes de me dar o último beijo. O
nada chamava. Não havia intuito a ser dado de motes ou destinos, pois parti
para desandar sem prumo ou compasso. Concluindo que continuaria sem encontrar respostas
aos desatinos, escrevo-lhe ainda sem assentar norte. Amontoei na partida, de improviso,
na mochila, só as frustrações, os paradoxos amamentados com incúria, aquela
tristeza ranheta, um único livro já relido, de caso pensado, para não incomodar
a preguiça e por fim, um pedaço carnudo de probabilidades, que a incongruência
jamais deixou virar esperança. Sai de Canturaí
na cisma de achar um inesperado que palmilhasse destino melhor nos trilhados. O
inesperado é aquele rodamoinho dolorido com que o demônio se embriaga, enquanto
cruza nossos titubeios fustigados pela ansiedade. Iludia-me intentava trocar
passados por futuros e tristezas por esperanças. Delírio? Não se reflete quando
se foge de si e o passado é como sombra, rastreia desde os tornozelos.
Não
acreditarás, não sei se enlouqueci ou fantasio. Em fim de tarde, já se faz algum,
aportei em deserta praia onde aprumei vista no Silêncio Moroso, pouco arredado,
batizado pelas ondas molhando lhe os pés. Meus inúteis, rasurados na memória, pendurei
na angústia, sempre a minha disposição e os anseios carregados na mochila adiei
amoitados. Deitei-me coberto com o cansaço e amarfanhei a solitude no abraço. Então,
do infinito, distanciando meia dúvida e a um rastilho de inesperado, se tanto, aflorou
da maresia uma pipa arrastando descabelado, pela praia, menino lindo, sonho. Enxugando
os pés, o Silêncio amealhava seus olhados à destreza do papagaio, insinuando
hábil o guri pela orla para que não se emaranhasse nas ondas buliçosas.
Abordei
o Silêncio, nas sombras, para não assustá-lo, perguntei-lhe de onde surgiria a
pipa enlevando o menino sobre as pegadas da além. O Silêncio ciciou-me, para a
pipa não ouvir: - eles se enfeitiçaram nos choros do guri dissolvidos nas areias
entre as suas desesperanças. A pipa enxugou as lágrimas do garoto com favos das
ficções, espargiu o supérfluo do alto sobre as ilusões e saíram a brincar de fantasias.
Perguntarás
o que eu, aloprando, estou aqui a fazer? Espero aflito voltar a pipa, então o
miúdo descansará, aasim o papagaio e eu desbotaremos em azul no sustenido.
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