quarta-feira, 12 de abril de 2017

DAS TRISTURAS, DAS ÂNSIAS, DAS PIPAS
CARO AZÉLIO- Já arriadas as bruacas entrouxadas de amarguras apoito meus desencantos junto a um pé de solidão, de onde o bem-te-vi me acusa. Consulto-o daqui para saber se endoidei ou se o destino me amordaçou, caro Azélio.  Ao notificá-lo, atualizo: deixei nossa Canturaí após tribulações, sem saber por que, para onde, até quando e se queria.  Com as carências desmanteladas, sequer postei espaço suficiente para despedir-me dos amadrinhados canarinhos com quem versava, madrugando, enquanto brincava com os gravetos no Ribeirão do Mormaço. Abandonava ali os gravetos portando minhas opressões, águas abaixo se fazendo, na ilusão de que pelas margens do riacho voltassem respostas sanando tristuras. Mas mesquinho vento tripudiava irônico ao embaralhar as respostas as minhas angústias. Não duvides.
 Saindo atropelei tralhas às costas, manhazinha e tanto, a ponto de nem alimentar as borboletas que ainda sonhavam mimos e sequer reguei as mudas de esperança que Licia semeara antes de me dar o último beijo. O nada chamava. Não havia intuito a ser dado de motes ou destinos, pois parti para desandar sem prumo ou compasso. Concluindo que continuaria sem encontrar respostas aos desatinos, escrevo-lhe ainda sem assentar norte. Amontoei na partida, de improviso, na mochila, só as frustrações, os paradoxos amamentados com incúria, aquela tristeza ranheta, um único livro já relido, de caso pensado, para não incomodar a preguiça e por fim, um pedaço carnudo de probabilidades, que a incongruência jamais deixou virar esperança.   Sai de Canturaí na cisma de achar um inesperado que palmilhasse destino melhor nos trilhados. O inesperado é aquele rodamoinho dolorido com que o demônio se embriaga, enquanto cruza nossos titubeios fustigados pela ansiedade. Iludia-me intentava trocar passados por futuros e tristezas por esperanças. Delírio? Não se reflete quando se foge de si e o passado é como sombra, rastreia desde os tornozelos.
Não acreditarás, não sei se enlouqueci ou fantasio. Em fim de tarde, já se faz algum, aportei em deserta praia onde aprumei vista no Silêncio Moroso, pouco arredado, batizado pelas ondas molhando lhe os pés. Meus inúteis, rasurados na memória, pendurei na angústia, sempre a minha disposição e os anseios carregados na mochila adiei amoitados. Deitei-me coberto com o cansaço e amarfanhei a solitude no abraço. Então, do infinito, distanciando meia dúvida e a um rastilho de inesperado, se tanto, aflorou da maresia uma pipa arrastando descabelado, pela praia, menino lindo, sonho. Enxugando os pés, o Silêncio amealhava seus olhados à destreza do papagaio, insinuando hábil o guri pela orla para que não se emaranhasse nas ondas buliçosas.
Abordei o Silêncio, nas sombras, para não assustá-lo, perguntei-lhe de onde surgiria a pipa enlevando o menino sobre as pegadas da além. O Silêncio ciciou-me, para a pipa não ouvir: - eles se enfeitiçaram nos choros do guri dissolvidos nas areias entre as suas desesperanças. A pipa enxugou as lágrimas do garoto com favos das ficções, espargiu o supérfluo do alto sobre as ilusões e saíram a brincar de fantasias.
Perguntarás o que eu, aloprando, estou aqui a fazer? Espero aflito voltar a pipa, então o miúdo descansará, aasim o papagaio e eu desbotaremos em azul no sustenido.  
Cefloence   01/04/17        email   cflorence.amabrasil@uol.com.br

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