segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

DESENCANTOS A CATA DE DISTÚRBIOS.
Pois, mais em tendo viola afinada em riachão, assovacada viola sofrida, arrastando-a Atérpio do Bogato, atiçado e desbrioso de seus segredos sem provérbios, apesar das maledicências repetidas de que era fanho e pigarento no solfejo, cantava mesmo na porta do mercado velho, ali, cantigas que debulhava das desenrustidas por debaixo do travesseiro, como madrinha Agaté das Angolas largava e, por sido sendo, gostava, carinhosa, de vê-lo parir inspiração e verter tristeza. Amaldiçoando, Artépio, a vela de deslumbrigar sina, acabando sobre o caixote servido de criado-mudo, acordou entesado de dividir o nada em sete versos de cruzilha e duas desfeitas salobras deixadas pelo demônio na Trageúva dos Catados. É assim que se fazem as agonias e outras solidões prozadas em São Salomão dos Retidos, arruado das faltas de porventuras, mas tudo no se-apresente e nos repiques de Artépio. A morte se hospeda por lá antes de desaguar mundo e descarnar desterrados. Pois bem saiba, o senhor!
Então ganhavam sanha os estropícios que nas madrugadas se engalfinhavam, segundo prevenia Frei Simião Barbucho, capuchinho abnegado quando fungava rapé na sacristia e amaldiçoava o sereno na boca de noite, tudo para desparelhar o confronto entre o roçado aberto nas quiçaças de Artépio e as sementeiras canalhas das assombrações vadias das almas sem rumo. O demo, antes que esqueça eu e deixe para trás, atazanando descompromisso, como de seu feitio e maledicências sempre, vinha mascado de artificiosos, desovando umas saraivadas pelo descaminho e sem destreza acertava uma no casco e as outras a ferradura saia do lugar. Nem sei por que lhe repito sempre, a vosmecê, homem de muita ciência e sabedoria, estas arengas indevidas, despropositadas, que fim não tem? As modas violadas tracejadas por Artépio contavam tudo muito carcomido de justezas, pois cantitava ele, no mercado, que a procissão das lavagens das almas transviadas se perdeu pelo Boqueirão dos Queimados e sobraram umas perengas de gente sem trilhado, que os bateduros do hospício levaram para usar na servidão de tentar desloucar. Se tal deu positivo de cura dos desabnegados, depois das sovas benignas, Artépio não deu de figurar no canto.
             Quem bem falou, mas não disse por que, foi Domato Entortado, que assim se deu alcunha depois que a onça no cio o estropiou destroçado em tiras no Espigão dos Assombrados e desperdiçou pedaços graúdos seus pelas quebradas e tabocas descendo. O restinho a onça mastigou e cuspiu, levou meia bunda, faltada, mais um terço de arruinado sovaco embaixo do pescoço servindo má-lê-má para gingar a cabeça entortada e dura. Os sobrados todos, de pouca serventia, desolhavam só por descuido. A mão canhota encurtou no restolho do ombro encolhido e assim carecia um solavanco de cotó de perna para alcançar a muleta. Mas imputou nas rezas, por milagre tido, e eriçou Domato dois paus de embira enforquilhados em cruz no lugar da desventura, tudo confronte ao cemitério onde lobisomem procria na lua cheia.  
Afirmo, destino este se deu cantado por Artépio, pois carecia Domato seguir magote de bezerro alongado, sumido no nunca mais; deus não viu, nem não campeou. Imagine doutor se a viola estivesse desafinada e o capuchinho não fungasse rapé. 

Ceflorence   21/12/16    email  cflorence.amabrasil@uol.com.br 

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