O PARTO DE ROMPÁSIO.
Pelo
vitral principal da enfermaria azul o reflexo do pardal sobre o vidro fosco,
atirando-se agressivamente sobre si mesmo, arremedava despautérios da autodestruição
da humanidade sob justificativas capciosas, perenes, cambiantes. Deuses ainda
bocejando, preguiça; local - Luminar das Desforras, antes da madrugada compor-se,
altiva, nos três movimentos inerentes: rondó, degustação e cinzas. São as
tramas da verdade e, por dispostos os mesmos em linhas alternativas, apresentaram-se
respeitosamente no aguardo dos cerimoniais afrodisíacos dos deuses encarregados
do preparo do nascimento de Rompázio em sintonia com a ressurreição anunciada.
Sem talvez ou então, cadenciou o sino da enfermaria azul, detectando, em dúvida
ainda da sequência, se meia-noite seria conveniente para o início. Hora nobre sugerida,
mas o protocolo determinava aguardar a chegada dos dois terços sagrados das fantasias
fundamentais, o dos pecados e o das virtudes, e serem desenlaçados e acomodados,
para o cerimonial do parto de Rompásio, sobre os objetos sacros: o ar, a
metamorfose e a injúria. No movimento, dois padres deles, mas nenhum padre-nosso,
seguiram convictos para suas solidões e no aguardo da degustação do canto
orfeônico do choro do recém-nascido e dos gemidos da parturiente. Acompanharam antes,
os padres deles, a ave, que não era ainda, até segunda ordem em processo, maria,
e por circunstância inesperada pousou sobre o vitral por onde a lua se fez
minguante e o pardal se transmudou da réplica agressiva intimista para outros
devaneios. Fatos e premonições seguiam coerentes com os tempos a serem.
Minguou-se
evitando, a lua, como ensejo das benevolências, das contradições e das ansiedades
da gravidade decorrente do momento espiritual e não, jamais, por pressões newtonianas
gravitacionais discutíveis. Por serem polêmicas as variáveis, Benfor D’Hur,
escriba por determinação dos juninos deuses, fez constar como indispensáveis
tais averbações nos papiros certificantes do nascimento de Rompásio Eufort. Alocaram,
para conforto do processante, duas bigornas às pernas escancaradas da
parturiente, Maróvia. O demiurgo desenrolou os provérbios, pecados e virtudes
dos terços, e ordenou à Maróvia liberar cuidadosamente só a cabeça de Rompásio
para, organizadamente, entrouxá-lo em formal ritual religioso com as
substâncias fundamentais componentes da alma. Pelas narinas reticentes e
pequenas introduzia os elos dos pecados pela esquerda e os das virtudes pela
direita.
Ouviu-se
alto o barulho do silêncio à medida que a alma virgem e vazia de Rompásio se agraciava
com os fundamentos existenciais recebidos: angústia, amor, teimosia, ódio,
sagacidade, melancolia, vontade, simulação e os demais infinitos para seu
destino profético. O demiurgo persignou-se, ordenou à Morávia acarinhar a placenta
entoando o flautim da anunciação. Rompásio não chorou até cuspir intolerância
sobre a cinza que se afagava no rondó da degustação. Os objetos sagrados, o ar,
a metamorfose e a injúria estavam entronizados e a civilização salva.
Ceflorence 07/08/16 email cflorence.amabrasil@uol.com.br
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