DESPAUTÉRIO EM
SOLILÓQUIO
A
cada passo alçava dúvida. Cada dúvida
deslocava com absoluta convicção, de um infinito camuflado de tonalidades
alternadas de azuis, para oferecer gotas de demência, que eu escolhia a vontade,
embora elas se recusassem a atender-me, educadamente. Assim se iniciou o
despautério em solilóquio, atividade gratificante para entronizar o absurdo
afetivo no diálogo que mantenho comigo e, limitar e definir, claramente, à
distância, a semelhança e ou fusão entre emoções, raciocínio e princípios. Não
é processo de caráter teológico, sinfônico, político, racista ou sexual, nem
ligado exclusivamente a traços espirituais, acadêmicos ou mágicos. Caso
sincronizado até as últimas consequências, sem censuras paralelas, atravessaria
com elegância a agradável linha da incoerência, sintetizaria modelos
matemáticos utilizáveis em premonições, que raramente se confirmariam, mas
poderiam ser muito gratificantes se servidas com vinho tinto ou espumante em
reuniões sigilosas. Militantes conservadores e revolucionários consideraram a
atividade processo regressivo, reacionário ou fundamentalista, razão de eu
passar a evitar tomar posições nestas alternativas em jejum, após as comunhões
pascais e em voos de longa distância.
Com
estes pontos claros, cabe esclarecer que o primeiro movimento, físico ou
intelectual, ainda não escolhido até então, colocava em cheque se o sentimento
seria de saudade ou poderia conter uma dose razoável de vingança. Se vingança,
seria por inveja ou por ciúmes? Se ciúmes, deveria considerar se teria agido
por frustração ou possessão? Se possessivo, a natureza do objeto amado ou de
adoração ficaria circunscrito a alternativas de fuga psicológica ou
esquecimento proposital. Mas o contorno
dos verbos não se matematizaram dentro das minhas incógnitas e as intersecções
dos paradoxos brincaram de demência perguntando: mas, no mesmo contexto, se o
ciúme possessivo nascesse cândido como o silêncio do amor, gerando a suavidade
da saudade? Nestas circunstâncias as abstrações se reverteriam e seria
justificável o desejo límpido da vingança? Plasmei debruçado sobre a incógnita
e utilizei uma sinfonia dodecafônica sem saber absolutamente do que se tratava,
para que serviria e se poderia trocar, em tempo, dois absurdos descartáveis por
um desejo ainda não confirmado. A psiquiatra perguntou como me sentia, antes de
beijar-lhe o auto ego frontal. Passamos a não nos entender apesar da
afabilidade cínica. Exatamente neste ponto não sabia se o sentimento de cuspir
sobre a alucinada psiquiatra seria racional ou se prevaleceria o sentimento da
alucinada médica de cuspir em mim? Como os fatores eram equidistantes não houve
parábola a ser aproveitada e prometemos nos reencontrar em datas indefinidas ou
alternadas.
Frente
ao fato concreto poderia tentar ser sincero, se esta abstração emocional tem
algum elemento de realidade existencial ou optar por um gesto simulado,
oportuno e prático nos momentos de tensão ou, por último, ao encerrar, soerguer
um supercílio com soberba convencional, quando não se atina com as respostas
intimas. As externas são óbvias, basta estender uma concreta carreira de nada
sobre um fundo de indefinido, que a solução se posterga enquanto se capta um
disparate charmoso, decorativo e inútil. Maturei nesta linha, com a
tranquilidade conformada que não chegaria a nada, mas, por indispensável, no
caso, questionando se os demônios que me beijam ao dormir seriam os mesmos que,
carinhosos, tocam os clarins quando definem que a preguiça deva ser interrompida?
Porque demônios? São mais irreverentes, mais achegados à sinceridade, calados
por natureza e difíceis de serem interpretados. Com estes valores claros, duas
colônias demoníacas contraditórias, parti de forma concreta para empreender
diálogo permanente com trechos, traços mentais em movimento, entre o meu
sentimento e o meu raciocínio. Intui que são duas abstrações distintas, quando
não opostas. Tem sido tarefa gratificante, embora, na maioria das vezes, intermináveis
e vãs.
Ao encerramento
elegante e circunspecto cabível, poderia formatar a tese com objetos esparsos
sobre o subjetivo, a taça de vinho, o talmude ou até o espelho convexo para realçar
o orgasmo. Mas optei pela tartaruga lésbica a fim de definir as partes menos
claras do conflito. A noite beijou o dia, doparam-me com o sentimento de que
não raciocinava. Estilhaçou-se meu consciente. Atribuíram despautério ao meu
solilóquio.
Cefloence 28/03/16 email
cflorence.amabrasil@uol.com.br
Sempre muito bom, Carlos! Já pensou no livro?
ResponderExcluirAbraço!
Olá Carlos!
ResponderExcluirVocê concordaria se eu postasse uma de suas crônicas na minha página do Facebook?
Querida Tania, primeiro desculpe pelo atraso, eu mesmo, meio correndo e mais por falta de hábito não retorno como deveria ao próprio Blog. Em seguida, na realidade nem precisaria solicitar publicar a minha crônica, pois para mim é extremamente gratificante participar no seu Facebook. Muito obrigado e embora seja adorado receber os seus retornos, fique inteiramente a vontade para postar o que quiser. Repetindo, isto só me engrandece. Grande abraço. Carlos
ExcluirEntão tá, Carlos! Vou postar e ver o resultado. Abraço!
ResponderExcluirTânia