terça-feira, 26 de junho de 2018


CAMBARÁ FEITÓ E OUTRAS REFREGAS
                Por ser, como procedia, impávido, homem casmurrado de sangue nos repentes das salivas enraivadas, nas ideias, encurralado e curtido, de trompas e arrepios inusitados nos tempestivos conformes, falados adjacentes procedimentos amortalhados e calmos, sempre maledicente e transverso, dele se trouxe a baila fala, pois carecia. Se confirmou, por assim dito, mas não polia desnecessariamente ele o verbo na minguante quando estirava os olhos para os desafetos, pois se achava insuficientemente des-iletrado para contra feitar em coisas nas quais não fora adestrado para tanto dentro dos preceitos e vinganças. Foi como Tiborato das Navengas contou o caso do desencarne de Cambará Feitó, matador das Sete Barras do Jucuri, ao sair pelo mundo à cata de Porozinho da Donga. Noite se caindo e lampião aceso, enquanto desigualava roda de truco, murrinha e dolência, nas travessas das prosas para dar ouvido ao demônio e ao vento que trazia tristeza dos lados dos Vertedouros Descarnados.
E era, como falou cabisbaixado Tiborato entre uma pinga e um pito, por demais afeito Cambara às armas de tiro certeiro e apunhaladas desforras, que no manejo se sobressaia empertigado e altaneiro, tanto como nas solidões dos destinos por onde campeava a melancolia. Ele sempre acavalado pelas estradas a procura dos passos da morte contratada para cismar vingança de terceiros como se adestrara desde moçado nas Serras dos Alempros. Cabra de mão descalejada, por desvirtuado das enxadas, sisudo nas entrelinhas das formalidades, Cambará se calava para não atiçar mais revolta, embora vivesse de desapadrinhar as almas mal comportadas dos corpos mal procedentes.
Tal se deu conforme as ditas de Tiborato, quando Porozinho, moço de dadivosos sorrisos, mas de posses desprovido, enfeitiçou Alecita, filha de Calempágio Alforres, sesmeiro de léguas sumidas entre os perdidos das vistas e até onde os ventos paravam para resfolegarem depois de cansados. Nas paixões, se estrebucharam de andarilhar fugidios, Alecita e Porozinho, por contas próprias, pelos seus mundos, que deus abrira para os apaixonados. Coisas de somenos e belezuras, agarantiu sem cismado Tiborato na fumaça do pito que se desfez no mormaço da fuligem e a coruja velha dando conta da cumeeira. Mas os meninos enamorados alongaram na madrugada e Calempágio pai aclamou Cambará desfigurado nos preceitos para seguir os rastros das rebeldias e trazer moça Alecita de volta e nas tangentes e, sem retrancas ou arrependimentos, desaferroar do pescoço a cabeça de Porozinho, antes que cruzassem o Rio dos Cantibais dos Afogados. E a cavalada foi afeitada em relho tanto para quem fugia, como para quem destinava enveredar atrás nos pisados das trilhas. Serra acima muito cascalhada de tropicões e noite escura, potreada arisca nas pontas dos cascos palmeando os destinos, afrentados os fugidos, no percalço, rastreador, tudo procurando o futuro para as más certezas das discórdias se afunilarem.
E deus desistiu calado para des-acalmar os improcedentes que viriam, pois abriu vaza ao demônio para desenvergar a lua para o lado do Espigão dos Carcarás, onde Porozinho se amoitou no semblante do escuro mais adensado da Pedra do Mamoeiro e mereceu de enfeitiçar a pistola para a banda que não deixava ver os camuflados.
Porozinho, para encurtar os falados de Tiborato, despregou destinado chumbo para a canhota da rebeldia em que se desacomodava o coração de Cambará. O estampido desembestou o cavalo passarinheiro serra abaixo, levando jagunço e solidão presos nos estribos, despedaçando a cabeça pelas pedras ensanguentadas e a alma penada do desgraçado refugando o demônio atrás nas trilhas do senhor para escapar do inferno.

Ceflorence       28/05/18       email   cflorence.amabrasil@uol.com.br

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