quinta-feira, 2 de agosto de 2018


AZUL EM SUSTENIDO
            Me fiz em sustenidos só e só por ter sido, como recordo, em um destes outonos iguais quando o sonho se fantasiava de verbo, o tempo amadurecia entre as águas procurando seus destinos e os destinos se perdiam nos prováveis. Deu-se, pois, em métricas e dúvidas os acontecidos. Os pássaros se preparavam para acasalarem, apaixonados, melodiando, singelos como para o que tão bem foram criados e assim enfeitarem os provérbios e a natureza. Deus agraciava naquele instante de nostalgia o futuro, deixando repousar o passado e o presente, por ser o único que operava nas três dimensões temporais e o demônio desdizia a sorte enquanto escalavrava a frieira do casco caprino. Coisas banais, mitológicas, mas que afetavam o cotidiano da pequenina vila em que me desgastava pelos dias a passarem. Os sinos se fizeram em tons menores para me convidarem às meditações e preces.
Simultâneo, não se entendiam, procurando os mesmos descaminhos dos  improváveis entre os devaneios e as metáforas os poetas entremeando, indefinidos, suas parábolas e os filósofos se perdiam em tertúlias platônicas, mas nada afetava as crianças brincando de alegria para invejarem os carentes.  Sentei-me à praça conversando com a melancolia deixando-me acompanhar às indecisões das nuvens desenhando abstrações embaladas por caprichos e brisas. Não me defini se estaria em alfa, angustiado ou se o beija flor ousaria com suas asas cadenciadas romper o silêncio. Real, estas indefinições ocupavam-me entre os escaninhos da depressão e o silêncio ruidoso do beija flor não fazia mais do que embaralhar as ideias pobres e preguiçosas com intentos de azucrinar os verdes.
Por ser de destino e paz, a alegoria vinda da boca da noite se acomodava para dormir entre as ameixeiras e se disfarçava entre as flores que gostariam de se aninharem pelos infinitos brincando nos regaços das correntezas disfarçadas nas pedras, sem métrica ou pecado. Sem quererem encerrar, pois o sol ainda teria o que dizer um restado de dia caindo, se preparavam os bulbos para frutos se tornarem, amadurecerem e se desfazerem das melancolias. Isto retardava o meu outono e os meus pensamentos. A menina brincava de amarelinha, alongando sua pedra de toque para o infinito de seu destino enquadrado para saltitar ágil até sua meta e sonho. Invejei sua ambição que não ultrapassava a fantasias do quadrado pequeno onde cabia a imensidão do seu sorriso, da sua alegria e da sua ambição. Os balões foram liberados das redondilhas dos bardos aprendendo a imitar as estrelas a brincarem nos azuis.
A tarde caiu repetindo sua rotina nas horas das preguiças e das preces. Preferi me recolher subindo as vielas tortas como os meus pensamentos. A menina dos saltos sobre as nuances das amarelinhas se escondeu nas frestas contorcidas da alegria e me deixou entre sonhos amarfanhados em pencas graúdas de solidões.
Ceflorence     24/07/18      email    cflorence.amabrasil@uol.com.br

4 comentários:

  1. Bela crônica Florence, bom saber da sua veia literária.

    Abraço fraterno !

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Carlos
      é uma alegria ter você como leitor e principalmente com comentário afetuoso.

      Excluir
  2. É quase musical, quando lemos em voz alta.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rafa
      o que ficou bom foi a leitura carinhosa que você me enviou. Bju. Vô

      Excluir