AZUL EM SUSTENIDO
Me fiz em sustenidos só e só por ter
sido, como recordo, em um destes outonos iguais quando o sonho se fantasiava de
verbo, o tempo amadurecia entre as águas procurando seus destinos e os destinos
se perdiam nos prováveis. Deu-se, pois, em métricas e dúvidas os acontecidos. Os
pássaros se preparavam para acasalarem, apaixonados, melodiando, singelos como
para o que tão bem foram criados e assim enfeitarem os provérbios e a natureza.
Deus agraciava naquele instante de nostalgia o futuro, deixando repousar o
passado e o presente, por ser o único que operava nas três dimensões temporais e
o demônio desdizia a sorte enquanto escalavrava a frieira do casco caprino.
Coisas banais, mitológicas, mas que afetavam o cotidiano da pequenina vila em
que me desgastava pelos dias a passarem. Os sinos se fizeram em tons menores
para me convidarem às meditações e preces.
Simultâneo,
não se entendiam, procurando os mesmos descaminhos dos improváveis entre os devaneios e as metáforas
os poetas entremeando, indefinidos, suas parábolas e os filósofos se perdiam em
tertúlias platônicas, mas nada afetava as crianças brincando de alegria para
invejarem os carentes. Sentei-me à praça
conversando com a melancolia deixando-me acompanhar às indecisões das nuvens desenhando
abstrações embaladas por caprichos e brisas. Não me defini se estaria em alfa,
angustiado ou se o beija flor ousaria com suas asas cadenciadas romper o
silêncio. Real, estas indefinições ocupavam-me entre os escaninhos da depressão
e o silêncio ruidoso do beija flor não fazia mais do que embaralhar as ideias
pobres e preguiçosas com intentos de azucrinar os verdes.
Por
ser de destino e paz, a alegoria vinda da boca da noite se acomodava para
dormir entre as ameixeiras e se disfarçava entre as flores que gostariam de se
aninharem pelos infinitos brincando nos regaços das correntezas disfarçadas nas
pedras, sem métrica ou pecado. Sem quererem encerrar, pois o sol ainda teria o
que dizer um restado de dia caindo, se preparavam os bulbos para frutos se
tornarem, amadurecerem e se desfazerem das melancolias. Isto retardava o meu outono
e os meus pensamentos. A menina brincava de amarelinha, alongando sua pedra de
toque para o infinito de seu destino enquadrado para saltitar ágil até sua meta
e sonho. Invejei sua ambição que não ultrapassava a fantasias do quadrado
pequeno onde cabia a imensidão do seu sorriso, da sua alegria e da sua ambição.
Os balões foram liberados das redondilhas dos bardos aprendendo a imitar as
estrelas a brincarem nos azuis.
A tarde
caiu repetindo sua rotina nas horas das preguiças e das preces. Preferi me
recolher subindo as vielas tortas como os meus pensamentos. A menina dos saltos
sobre as nuances das amarelinhas se escondeu nas frestas contorcidas da alegria
e me deixou entre sonhos amarfanhados em pencas graúdas de solidões.
Ceflorence 24/07/18 email
cflorence.amabrasil@uol.com.br
Bela crônica Florence, bom saber da sua veia literária.
ResponderExcluirAbraço fraterno !
Caro Carlos
Excluiré uma alegria ter você como leitor e principalmente com comentário afetuoso.
É quase musical, quando lemos em voz alta.
ResponderExcluirRafa
Excluiro que ficou bom foi a leitura carinhosa que você me enviou. Bju. Vô