DAS ANGÚSTIAS E DAS SOLIDÕES.
O
cachorro espreguiçou embaixo do alpendre, não latiu, gemeu, pois viu o sol
acomodar, não procedia sombrear mais. Tia Biazinha, que tresandava a alma pelo
sobrado esfrangalhando suas velhices de penadas solidões, escutou a algazarra
dos cupins corroendo a leitura da folha da bíblia na capela, na parte da
desforra sobre as ordens caprichosas de Abraão extraviando sua mulher bonita
para o faraó do Egito, ordenando a ela, muito contrafeita, dizer-se irmã e
recolherem os frutos das dadivas do Nilo. Coisas das divinas mitologias
apostólicas. Gesto enobrecido de confusões e palpites com o qual deus queria
castrar em seguida o monarca pelas suas prerrogativas libidinais e pecaminosas
sobre os desejos das mulheres alheias.
Coisas
dos sacramentos e Biazinha se persignou emudecida, pois tinha muito medo de confusões,
arrastou o crucifixo com que contava os cômodos por onde cruzava nos corredores,
o gato e o urinol para os andamentos, antes de indicar aos morcegos seus
motivos e pousos. Na sala de jantar o vento mexeu agressivo, repetitivo, com os
pratos. As travessas de pratas azinhavradas, as taças das cristaleiras, até
para se darem justificados entreolhados aos apóstolos da santa ceia conferindo
os barulhos. Jesus persistia empolgado nas suas reverentes magias e
elucubrações transformando o corpo em pão e o sangue em vinho para todos pretenderem
falar das confraternizações e dos perdões por muitos séculos. Restava enorme
distância até a solidão da meia noite, hora dos cantos, dos mistérios dos galos,
tanto assim que as ratazanas mais antigas, que ainda não haviam abandonado o
silêncio do sobrado, ficaram impressionadas com os apóstolos embriagados e Jesus
se desfazendo em meditações e prognósticos das traições.
Na
capela nenhum santo protestou do barulho dos cupins mastigando os restados da
bíblia, enquanto a vela apagada desmerecia seus sentidos, pois caíra exausta
sobre os rendados apodrecidos do altar. Seu Vazinho, que despachara a família
para as capitais para não penarem com a seca e restou sozinho com Jupitão
compadre para afrontarem sozinhos seus silêncios, atentou longe suas angústias,
desmediu o infinito pela janela, encruou na vermelhidão do poente sol,
prometendo estirar a seca. Um galo perdido, esquecido na sua ignorância das desfeitas,
desafinou beirando a capoeira sem saber por que, repetindo seu semelhante das
escrituras. O galo cantava quando estava com preguiça, sentia a solidão
mourejar vazia ou até no gesto de repetir para não esquecer a melodia, pensou
consigo Seu Vazinho, mas nem no ciciado abriu desfeita. Pensou, não procedeu
ele no verbo do que imaginara, achou descabido acatar estes desvarios
desapropriados com a seca batendo à porta, desfez calado, permitiu-se só ouvir
o silêncio entristecido continuar afagando a solidão. Acrescentou suas falas
vendo a noite chegar. A solidão iria se estender até que as sete luas de
obobolaum se recolhessem em suas manias de adivinharem os tempos das rimas e
das poesias.
Ceflorence 08/03/18 email cflorence.amabrasil@uol.com.br
Querido Carlos!
ResponderExcluirDesde que entrei em contato com os seus escritos estou encantada com eles. São muito originais e de uma inteligência perturbadora. É poesia em prosa, prosa poética, nem sei como defini-la,mas adorável.
Grande abraço,
Tânia