POESIA EM OUTONO OU
OUTROS MOTIVOS
O
verde mais sonoro, que por timidez e método preferiria camuflar-se entre as melancolias
ouvindo o canto distante dos pássaros, surgiu do inesperado, ou melhor, do
imaginário, sequer perdeu o tom singelo e suave tão logo um discreto delírio se
derramou para lacrimar sobre os delicados sorrisos, enquanto as crianças
recolhiam pelas calçadas as fantasias deixadas pelas colcheias subindo as
paredes caiadas do casario modesto para realimentar os sonhos. Tendo findada a
safra alegre da colheita farta dos folguedos e fantasias, as moças prefeririam
o luar nascendo envergonhado entre os desejos simples e a luxuria ainda em
formação, para enfeitarem seus sorrisos graciosos. Um bem te vi revoou dos motivos
coloridos em que assentara, esperou a brisa trazer notícias novas do pôr do sol
e silenciou descuidadamente como preferem as aves menos atrevidas. Por habito
de repetir as melodias os pássaros, escapou o bem te vi experiente dos caminhos
difíceis e tortuosos, sem abusos ou pedantismos, se desfez dos devaneios e das
galhofas para provocar o conflito entre a tristeza e a esperança, embora os
homens sérios e nobres não se conformassem somente em aceitar as razões simples
das criaturas da natureza para se encantarem.
Nada
disto faria o menor sentido, não fosse o sino da Ave Maria pedindo nostalgia e
relembrando a todos para se recolherem às meditações. A cidade se enroscava
pelas vielas estreitas para tentar ganhar o firmamento e se esconder. Se davam
estes bailados entre as nuvens querendo levar suas águas para chorarem mais
perto de Deus, embora, para quem estivesse a procura só de acompanhar o tempo
se desfazendo em passos lerdos e despreocupados, veriam silenciosos as formas mais
graciosas de aconchegar à preguiça e sorver a solidão. Por ser o momento
propício, embora tenham sido distribuídas gotas miúdas de prazer recolhidas nas
entranhas da puberdade, não se ofereceu, como devido, explicação à maré
montante obedecendo à ansiedade da lua. Recolheu-se cuidadosamente ao inconsciente
solitário a mensagem guardada entre as melhores metáforas e, sem deixar o verbo
se colorir de mágoa, cada um se pôs a procurar afetos pelos meandros esquecidos
que o passado levara.
Sem
ser de direito, pois, como era previsto, as notícias nascidas no regaço da
dúvida se envolveram nas suavidades das brisas, mas chegaram envoltas em
crisálidas antes mesmo de se enfeitarem de borboletas. Portanto, o mesmo amolador
de facas encantou o destino espalhando pela rua deserta o tom grená do seu
flautim afinado em melancolia e entoado em ré maior. O tempo se fez então
presente entre os transeuntes, puxou consigo uma preguiça teimosa que se
dispersava pelos paralelepípedos, escorregava mansa pelas calçadas e pelas
mentiras mesmo como as lágrimas das chuvas preferem ao lavarem os pecados e
encantarem os desejos.
Aproveitando
o remanso do azul, o infinito distraiu-se a bolinar os delírios achegados, sem
desmerecer as saudades, não se permitiu ouvir o silêncio da escuridão caindo
metodicamente em ré maior camuflando as rimas do futuro desconhecido.
Ceflorence 28/08/18 email
cflorence.amabrasil@uol.com.br
Sempre um prazer enorme ler as suas crônicas, Carlos!
ResponderExcluirAbraço,
Tânia