EM AZUL E OUTRAS SUTILEZAS
Houve
um renascer de pássaros e melindres rompendo aurora adentro. Aconteceu das miudezas
sobradas se disfarçarem entre os delírios mansos, ouvindo os flautins,
trompetes e ganzás, embora enlaçadas por solfejos, como preferem andejar os
poetas pelas fantasias e mágoas, imiscuídas às miudezas e delicadezas das
lágrimas restantes. Todos escamoteados em sete sutilezas mais envergonhadas, como
as coisas imprevistas e saborosas preferem começar os encantos e os verbos antes
das paixões rebrotarem. Era dia de firmamentos, pois à solitude apeteceu vir
pelos recantos mais suaves e não entrar em conflitos. As árvores se fantasiaram
dos melhores pássaros, tanto que os ventos mansos desenharam ao fundo os
horizontes mais alegres para os verdes se acasalarem escondidos em seus aninhos
e sonhos. Desassistida, assim, a melancolia esgueirou-se entre as nuances, os
provérbios e os silêncios. E destas indefinições e simplezas, os mais afetuosos
se aproveitavam, sem ansiedades, para apaziguarem na preguiça, enganarem o
tempo e se enfeitarem com a dolência.
Mais desapegados
das fantasias pretendendo invadir o imaginário, espreitando a angústia enevoada
nos rodamoinhos dos compassos sustenidos, os homens chegando acobertados pelos desejos
tentavam retraçar seus destinos. Tudo, como deveria ser, era apreciado pelos anseios
em botões, revestidos entre os lamentos implorando ao verão escondendo as
chuvas boas para ensinarem as águas mansas a voltarem antes das seriemas se
calarem. Por ser fim de tarde deus sorriu. Mas mesmo assim as águas fartas só se
fariam nos tempos devidos e esperados, em sintonia com as pitonisas sabendo tão
bem rebuscar seus búzios e tarôs para enfeitarem as previsões que portavam. Deu-se
espaço à meditação, pois ainda não se teriam maturado, a contento, as
melancolias, como preferem os deuses e as imprudências. Aquela solitude envergonhada entre os anseios
para desafiar os sofrimentos mais retardados, escolheu exatamente os caminhos dos
sonhos por onde a melancolia preferia alongar suas presas, antes de roubar dos
astros as manias e os sossegos.
Em
sendo ser sempre colibri, se fez presente para oferecer às flores acordando,
sem preocupações de se exibirem ou de se oferecerem para perfumarem as brisas,
a delicadeza de seus beijos delicados. O tempo tentou parar no espaço e imitar,
atrevido, o beija-flor sorrindo da incompetência dos ponteiros dos relógios e
dos sinos, que se cadenciavam meticulosamente sempre em frente, procurando
devorar o futuro, sem conseguirem estacionar a vida angustiada rumando ao desconhecido.
Ouviu-se um tropejo ruidoso da mudez trazendo consigo a incerteza ao espargir dúvidas
disfarçadas de desejos. Camuflado pelos acontecidos, o silêncio deixou o
barulho agitado, contrariado, tanto que os que foram refazendo as marés, intentando
apossar-se das fantasias para beijar a lua e enlevarem os sonhos e os bardos,
se esqueceram dos seus destinos e obrigações. Mal sobrara um restolho de tristeza
para atender as aflições saltitantes, mas carentes.
Para contemporizar
a alma, a madrugada foi se despedindo lenta carregando consigo as estrelas
cansadas, mas ombreando seus desejos, sois e consternações.
Ceflorence 19/09/18 email cflorence.amabrasil@uol.com.br
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