ESTÓRIAS DE AMANDACIO E OUTROS PERCALÇOS
Quem deu por cadenciar moroso e
dolente os proseados, como era das suas temperanças, arribado sobre a mula
alazã passarinheira como preferia aleguar nas trilhas encarrilhadas tropeando
burrada xucra pelas serras e sertões, foi o muladeiro renomado Amandácio do
Catadeu no restado dos dias antes de prover morrer muito amasiado com a
tranquilidade e o destino, pois iria bater quase cem, desfeito de remorso por
jamais ter matado ou castigado um cristão, mesmo de má catadura, sem as
estritas justiças e os modos condizentes nos respeitos às regras do senhor.
Amoldado às vontades de contar seus casos, mas por carente das regras das
ciências das leituras e das letras não se atreveu a deixar de refazer nas
lembranças nenhum diminutivo ou atrevimento e no contra-verso me mandou atentar
nas memórias para depois recontar como desse e assim ficou o que sobrou das
catas.
Pelo que salvei das falas de
Amandácio, enquanto comíamos poeira atrás da tropa, deduziu ele muito justo
como sempre que, das contradições carecidas de serem grafadas sobre as
desavenças ou as premonições, nem se sustentaram nas crendices ou se atiçaram
esclarecidas de todo, mas isto não desmereceu serem contadas e vão agora
devagarosas, paciencientadas, como era do seu jeito para apaziguar o verbo como
quem lambesse a palha de milho para o cigarro cheiroso ou para bajular as
fantasias. Achegada a hora mais caberia começar a aurora depois das doze
derradeiras estrelas escolhidas pelas luas agraciadas pelos sonhos e
seresteiros chorarem em seus recantos de silêncios para começarem a se recolher.
Por conta das rotinas coube ao sol já ir se preparando atrevido para espionar
por trás das torres da matriz beijadas pelos ventos e desventuras. Era assim o
anseio para se converter em madrugada, carrilhões da praça atenderam os recados
engraçando embalos coloridos para os primeiros fiéis compartilharem achegos aos
serviços em tempo justo dos portais da catedral abertos, pois nos pêndulos das
artimanhas entre o fim da noite e o parir do dia acalantariam os aninhos das meretrizes
e dos proxenetas des-abnegarem escaldados das agruras que enfrentaram para
merecerem seus repousos.
Antes de as luzes serem recolhidas,
a garoa lacrimou nos ombros das mágoas, os pecados sem arrependimentos não se
persignaram frente aos vitrais abençoados da matriz e os desatinos procuraram
achego nas solidões. Pairava um azul acabrunhado e dolente envolvendo os
achegos, coisas dos imprevistos e das solidões. Nisto, por justo dos caminhos,
as torpezas foram escapando dos dentes da boca da noite fechando e o ranço do
tráfego agitando a tristeza de cada desgraçado portando suas desavenças com os
próprios destinos, destinos que só os deuses adivinhariam os traçados e
procurariam seus aconchegos, para deixar o dia começar. Nos palpites jogados tais
búzios para interpretarem os rancores não atinavam mais se haveria motivos de serem
recontados, mesmo até porque os preceitos e os provérbios não foram vistos com
os mesmos olhos entre os enfeitiçados, que lambiam uns os sovacos do demônio e
os outros demais, desprovidos de alentos, assuavam de deus os ranhos, fingindo
arrependimentos cínicos. Amandacio estirou a mula para a canhota e se fez de solidão.
Ceflorence 11/06/18 email
cflorence.amabrasil@uol.com.br
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