REFÚGIOS-DEUSES-INFINITOS
O
paradoxo, filho carnal e incestuoso da intransigência com a mediocridade,
concebido na alcova da tristeza e sob as bênçãos da solidão, não é exclusivo da
filosofia existencial com que os deuses do Acanlácio Maior substantivaram o
homem renegado da sua idealização saudável, paranoica, para transformar sua meta
de liberdade ainda mais inexplicável e conflitiva. Tudo para lhe impor o
sofrimento da racionalidade antes de enviá-lo como sapiens para desandar sobre a
terra. Por que do paradoxo à relevância para a evolução da espécie? A resposta
é simples e direta. Se não fosse a carência da mulher para observar de frente o
esplendor do azul, impor-se em posição ereta e arvora-se ao bipedismo e,
portanto, aos partos pré-maturos, para em contrapartida compensar a afronta aos
deuses com os coitos frontais, salvo, tal não se dando, estas variáveis em
descalabro da história às alternativas à reprodução da espécie ofereceria solução
quaternária, revisionista, retrograda e o orgasmo não viria a se tornar
angústia freudiana para os nascidos entre janeiro e dezembro do calendário
gregoriano. São João Batista, capitulo amoroso, versículo desconhecido ou
encoberto.
Este
preambulo poderia ser relegado ao escrutínio, fugindo da análise acurada, não
fosse a necessidade de colocar a figura humana como observadora e síntese exclusiva
da existência do Antropocus Urius. Em tempos históricos em que as hordas se
estraçalhavam pelas savanas, desertos e planícies dos continentes, em Urius
brotou a figura híbrida do Antropocus com a finalidade de apaziguar os delírios
provocados pela ansiedade, pelo erotismo e pela mentira. A origem comportamental
da humanidade deve-se única e exclusivamente a estes três valores dos quais
degeneraram todos os demais recalques civilizatórios emanados do Antropocus. A
ansiedade é exatamente o momento do nascer em que o abandono do Éden uterino
reflete o sacrifício para o salto ao desconhecido, cruel, mórbido. O erotismo é
o único propulsor para a perpetuação da espécie além de outros descompassos e
devaneios. A mentira é fruto da genialidade do sapiens para suportar-se e
fingir que se entende.
Divagamos
em prol da síntese e da racionalidade. Estes preâmbulos paradoxais e
conflitivos impuseram-se não mais do que para esmiuçar a grandeza do Antropocus
em sua linhagem esbelta, racionalista e relevante. Ao ser concebido para
edulcorar a humanidade, ao Antropocus foi oferecida solidão profunda, com uma
crista perfeita dividida em dois segmentos, contendo, na primeira, modulações
externas por onde o vento recortava a oitava sinfonia e na outras pinceladas de
saudades por onde o poente grená encontraria a solidão divina ao se preparar
para meditar.
Encerrando,
é sobre sua pele delicada e aprazível, que o Antropocus acolhe as demências mais
cativantes, alimenta as fantasias dos homens, sonha que a felicidade existe,
insinua que todos são iguais perante os delírios. Ao cair da noite encanta com sua
flauta mágica os imbecis, deixa adormecer os retardados, embebeda os tolos para
acreditarem que o mundo encontrará a felicidade e transforma os mais afoitos em
crianças para fingirem que serão felizes quando os deuses se distraírem e eles
poderão trucidar o próprio Antropocus no altar da fantasia. Réquiem ao
paradoxo.
Ceflorence 02/05/18
email cflorence.amabrasil@uol.com.br
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