FOGÃO VELHO – CHAPA FRIA- CAFÉ REQUENTADO
Se fazia urgência, Jupitão testemunhou,
atendeu recado, era prestimoso das horas, aprumou, pasmou esgrouvinhado ao
levantar, estirou as pernas frias, doloridas, sem embalos desde a manhã,
carcomidas nas melancolias na mesma cadeira. Desfez empertigado para as
providências, Jupitão. Saldou para si, pois os mais não interessavam, salvo Seu
Vazinho, repetiu, repetente – O cachorro
latiu embaixo mesmo da escada do alpendre. Atendeu hora de o preá caçar água na
bica da barrica cortada, como é correta sua hora de beber água na barrica cortada,
como gosta o preá, onde a barrica fica. Assim, o senhor, Seu Vazinho, carece
tomar café e pitar. Vou servir o senhor, Seu Vazinho. Moço, não se acanhe, tome
café, coma carne de sol, beba mais uma cachaça, atente, tem fumo, tem tudo à
vontade, desacanhe. Estendeu Jupitão a caneca de café meio frio ao Seu
Vazinho, que condescendeu sem euforias, acendeu o cigarro de palha, pigarreou
mesmices, articulou o verbo, pensou, disse, sem falar, esperando os apaziguados
se darem.
Era a essência de Seu Vazinho desmilinguido
em si mesmo à espera do nada e Jupitão calou para o resto dos palavreados até
ir dormir sem outras prosas. Não estava assim para entretantos, o homem, pois
cansou das ideias, não disse mais, tanto que enviesara por ser Jupitão do São
Alepro do Jurucuí Açu, peão carregado de competências, amansador de cavalo, o
melhor homem para acertar boca de animal, foi, não era mais, mas desmediu de
querer viver, suspendeu a vontade de sorrir, assentou no silêncio, ficou. E
tudo se deu, pois o cachorro latiu embaixo mesmo da escada do alpendre, quando
viu a hora de o preá beber água, quieto, sem desmentir medo do latido, o urubu
se acomodou no cocho, lugar do carcará, que assentou mais longe no moirão da
porteira, sem saber por que o vento não carregava mais as chuvas novas como as
coisas deveriam ser. O sertão que tinha estas sobrevalências se alongou nas
premissas e nada mudou, pois o sol ainda iria enjambrar devagar pelos seus
rumos mais um estirão sem fim antes de acabar o dia. Seu Vazinho desmudou de
novo, balbuciou miúdo a si mesmo para Cadinho escutar.
Carecia contar nos traquejos dos finais, no
apezinhar das mágoas desforradas do cavalo assumindo toada viageira de tempo
seco, calor bravo e pragas, sem tropico nas passadas, mas preguiçoso nos
intentos e por prosa com o além, Cadinho deu por cordato, desmediu. Por rotina
o sol castigava a cacunda derrubando para o oeste. Cavaleiro e a montaria foram
atentando as vistas pelas beiradas das pastagens das cabeças poucas sobradas de
gado não tendo mais onde emagrecer. As cacimbas prontas para sumirem de vez,
desenfeitadas nos buracos quase vazios, tristes, enxugando. O caminhado
emparelhava as mesmas sinas das cataduras do então dadivoso Rio Açu secando.
Tanto era que a paisagem assemelhava propositada parelha de desgraça com cada
vaca, bezerro ou novilho sendo acompanhado por um urubu sustentando do lado um
mau-olhado de desgraça e praga. E assim por ter-se dado Seu, Vazinho pontuou as
desgraças que se deram com a seca que castigou por muitos verões
intermináveis.
Ceflorence 24/10/18 email
cflorence.amabrasil@uol.com.br
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