DEVANEIOS EM ACALANTOS
Propus-me,
mas é bom declarar, antes dos flautins se oporem, por precaução, calmamente, a atravessar
os ensejos, as tópicas e as metamorfoses. Se tal não se desse, como os destinos
haviam previsto, os sete pássaros dos presságios que desenham o futuro sobre os
infindos, não teriam se recusado a trazer seus cantos dolentes e, molemente
enfeitiçados, esconderiam as tristezas entre as montantes marés antes de enfeitiçarem
as tardes que os colibris preferem. Era, sem dúvida, o que de melhor sobrara
depois que os sonhos foram recolhidos alegres entre as metáforas, os delírios e
as censuras. Por se estar em plena safra de melancolia, a solidão pacata deixou
suas marcas sobre a areia, mas muita indignada e com receio das ondas apagarem seus
rastros para saborearem, discretamente, o que sobrara dos devaneios. Havia um
cheiro acre de indefinição esparramado sobre as cores saltitantes. A solução
foi postergada até que alguém sentisse desejo, carência e nostalgia. Mas, mesmo
assim, repito que o domingo se fez sem trazer maiores anseios. Coisas antigas e
atávicas, pois os que estavam sem certeza, dividiram os seus melhores desejos entre
si na esperança que a penca de indefinição progredisse envolta em dúvidas e
incertezas. Seria como conseguiriam aguardar a preguiça, sem se acabrunharem.
Se não
estivesse prevenido teria me angustiado sobremaneira, pois duas fantasias eufóricas
tentavam espreitar-me de soslaio por trás dos meus anseios. Coisas das
paranoias indelicadas, que me assoberbam, em sendo domingos pares, insisto, quando
os sinos timbrados não são ouvidos nem mesmo pelos mais fieis, pois as capelas
preferem o silêncio e as crianças os regaços maternos. O improviso inesperado
se arrastou pelas calçadas vazias sem deixar-me beijar, afetuosamente, a
preguiça carinhosa a que me obrigo de habito, quando o grená do poente se
adorna antes de esconder o sol e a saudade. E, ainda no mesmo tom dodecafônico que
acalanta meus desejos e por não ter findo o domingo, aquele azul mais suave correu
manso e moroso para os braços das nuvens mais baixas e se espalhou pelas rimas
que os poetas trouxeram. Eram sete os desejos e não houve conflito, pois cada um
se preparou para ficar somente com o que poderia carregar em seus sonhos.
Conformei-me
só depois que meus pensamentos vagarosos começaram a bolinar a nostalgia e as
crianças preferiram saltar entre as brisas cortando o azul antes de se acomodar
no infinito. Os pássaros dolentes retornaram aos seus aconchegos para
acarinharem as crias, se esconderem das escuridões e conversarem com as almas. Não
havia contrafeita, pois o tempo se entretinha em volteios calmos e delicados,
mas entremeado por setes luas de ogum. Os provérbios estavam cismados e as
angústias dispersas não conseguiam se acasalar sem alvoroços ao oferecerem
alguma esperança. Por procedente, a solidão trouxe consigo o que restou com
sabor de silêncio para alimentar os imaginários, os mitos e as fantasias.
Assim
se deu, e não caberia nada além de esperar, entre dois cravos e uma esperança,
como a vida nos ensina, suave e mansa, enquanto apreciamos a nostalgia trazer
vagarosa o poente.
Ceflorence 03/10/18 email
cflorence.amabrasil@uol.com.br
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