DESENCANTOS A CATA DE
DISTÚRBIOS.
Pois,
mais em tendo viola afinada em riachão, assovacada viola sofrida, arrastando-a Atérpio
do Bogato, atiçado e desbrioso de seus segredos sem provérbios, apesar das maledicências
repetidas de que era fanho e pigarento no solfejo, cantava mesmo na porta do
mercado velho, ali, cantigas que debulhava das desenrustidas por debaixo do
travesseiro, como madrinha Agaté das Angolas largava e, por sido sendo, gostava,
carinhosa, de vê-lo parir inspiração e verter tristeza. Amaldiçoando, Artépio,
a vela de deslumbrigar sina, acabando sobre o caixote servido de criado-mudo,
acordou entesado de dividir o nada em sete versos de cruzilha e duas desfeitas salobras
deixadas pelo demônio na Trageúva dos Catados. É assim que se fazem as agonias
e outras solidões prozadas em São Salomão dos Retidos, arruado das faltas de porventuras,
mas tudo no se-apresente e nos repiques de Artépio. A morte se hospeda por lá
antes de desaguar mundo e descarnar desterrados. Pois bem saiba, o senhor!
Então ganhavam
sanha os estropícios que nas madrugadas se engalfinhavam, segundo prevenia Frei
Simião Barbucho, capuchinho abnegado quando fungava rapé na sacristia e
amaldiçoava o sereno na boca de noite, tudo para desparelhar o confronto entre
o roçado aberto nas quiçaças de Artépio e as sementeiras canalhas das
assombrações vadias das almas sem rumo. O demo, antes que esqueça eu e deixe
para trás, atazanando descompromisso, como de seu feitio e maledicências sempre,
vinha mascado de artificiosos, desovando umas saraivadas pelo descaminho e sem
destreza acertava uma no casco e as outras a ferradura saia do lugar. Nem sei
por que lhe repito sempre, a vosmecê, homem de muita ciência e sabedoria, estas
arengas indevidas, despropositadas, que fim não tem? As modas violadas tracejadas
por Artépio contavam tudo muito carcomido de justezas, pois cantitava ele, no
mercado, que a procissão das lavagens das almas transviadas se perdeu pelo
Boqueirão dos Queimados e sobraram umas perengas de gente sem trilhado, que os
bateduros do hospício levaram para usar na servidão de tentar desloucar. Se tal
deu positivo de cura dos desabnegados, depois das sovas benignas, Artépio não
deu de figurar no canto.
Quem bem falou, mas não disse por que, foi
Domato Entortado, que assim se deu alcunha depois que a onça no cio o estropiou
destroçado em tiras no Espigão dos Assombrados e desperdiçou pedaços graúdos seus
pelas quebradas e tabocas descendo. O restinho a onça mastigou e cuspiu, levou meia
bunda, faltada, mais um terço de arruinado sovaco embaixo do pescoço servindo má-lê-má
para gingar a cabeça entortada e dura. Os sobrados todos, de pouca serventia,
desolhavam só por descuido. A mão canhota encurtou no restolho do ombro
encolhido e assim carecia um solavanco de cotó de perna para alcançar a muleta.
Mas imputou nas rezas, por milagre tido, e eriçou Domato dois paus de embira
enforquilhados em cruz no lugar da desventura, tudo confronte ao cemitério onde
lobisomem procria na lua cheia.
Afirmo,
destino este se deu cantado por Artépio, pois carecia Domato seguir magote de bezerro
alongado, sumido no nunca mais; deus não viu, nem não campeou. Imagine doutor se
a viola estivesse desafinada e o capuchinho não fungasse rapé.
Ceflorence 21/12/16
email
cflorence.amabrasil@uol.com.br
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