DOS LAPSOS DO SOBRADO AO
SOM DE DELÍRIOS MEDIOCRES.
Sentado
à janela do sobrado velho, por onde facetava o tempo para desabrochar
nostalgia, esperava o momento de recolher-me, enfrentando o jacarandá que
juntos crescemos e me enterrará ele. Acompanhei do local de sempre, o mesmo rato
robusto e calhorda, por estar eu deprimido, (caso contrário teria registrado,
se eufórico estivesse: os alegres olhos voltados para a garça de plumas
agitadas), roedor com que divido o fim de vida, (sem depressão grafava, cínico,
ao sorrir da primavera da minha juventude). Segui o rato titubeando, arrastando
um pedaço de ilusão com queijo (ambrosia, se extasiado) rumo à prateleira maior
do armário das sutilezas inúteis (sonhadas) em processo de decomposição,
(restaurado com carinho, sem angústia, se fosse) onde ficavam os livros que
gostaria de ter lido, (saboreei intensamente) os retratos dos defuntos que me
abandonaram (afetos que me amimaram sempre) e uma garrafa com a qual me
embebedaria, (aqueceria) mas só após a noite cair, em respeito à abstinência, auto
proclamada, de em nenhum dia embriargar-me. Preservei as noites, das promessas,
por precaução, para acalentar os silêncios etílicos, com a solidão que o fim carece.
(Desfrutar a bebida, parcimoniosamente, ao chegar das estrelas, se extasiado me
permitisse estar).
(Delirar
é esta simulação permanente caleidoscópica, consigo, de desmistificar o nada, de
alimentar transfigurado o real, estabelecer com demência saudável conflitos
pessoais ou coletivos, optar entre o absurdo do singelo ou a singeleza do
inexplicável).
E
neste diapasão morreu a filosofia barata, ainda bem, que não reguei. Ainda bem
que não reguei. Ainda bem, não reguei. Ainda bem não reguei. O híbrido do
psiquiatra com o linguista deveria por um paradeiro nesta paranoia aflitiva de
perfeição. Tentei intuir a correta vírgula, pois a sorte de “não regá-la”, se sem
vírgula, eu entenderia como agressão ao leitor. Acordei com o vaso virado, talvez
um copo a mais corrija (à noite). Enfim, não dava conta de escolher, por
preguiça, entre os atordoados dos pensamentos desconjurados. Mas cambiei o
duvidoso por uma benevolência disponível sobre o sofá puído, olhando o
jacarandá, faceando o móvel carunchado, e decidi anotar: “doze inteiros e não
mais do que meio devaneio seriam suficientes, pelo que intui, para extirpar a dúvida
e assumir a correta, confortável e devida distância do espaço”. (Ficou muito
comprido sem o ponto). Ponho o ponto e continuo: “espaço entre o infinito do
desejo e a divisão do azul do decote provocativo do regaço da moça que se
afastava indiferente das fantasias que eu tentava não desperdiçar ao cair da
tarde e da escada da praça que levava à esperança. Ao ver a primeira estrela
brincando de esconder-se entre as nuvens ralas conclui taciturno que ela não
corresponderia aos meus anseios impertinentes”. Achei que ficou bom:
“impertinentes anseios”; poderia acrescer- “seios”- mas a rima pobre (idiota)
me torturaria.
Com a
garrafa aberta, enfim, permiti-me invadir uma penumbra suave onde às deusas dos
intangíveis escondem os inexplicáveis e sem os quais não conseguiria escrever
despautérios. Saúde. Chega de fugatos desconexos e outras impertinências.
Ceflorence
10/07/16 email
cflorence.amabrasil@uol.com.br
Caro Sr Florence,
ResponderExcluirObrigada por nos brindar com mais um belo texto... Com a pontuação impecável e necessária para o bom entendimento dele.
Sra. Márcia eu é que agradeço a atenção e o carinho que recebo em retorno das crônicas publicadas.
Excluiré isto que incentiva.
Este comentário foi removido pelo autor.
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