JARATATACA DO CAFUNDÓ.
Nas solas
da mangabeira, por onde a solidão se esgueirava atrevida, deixando o vento do
Sertãozinho insistir em acordar flores, agarradas dengosas nos galhos da árvore,
bailando-as na ventura de se fazerem beijadas, o mundo espreguiçava antes de decidir
estrada. Assim se fabricavam os sonhos, no indiferente, no tanto fazia a banda,
de Canhado Justo, na tropelia de arrenegar só depois quando o carecer viesse. “Atropelar,
só providência vindo”, muxoxou ele. Dava, deu vista Canhado, manhoso de aprumar,
a garantia pra começar chover primeiro, certo, antes de decisão e aprontou-se
pelo tanto de esperar, então, e nem arrear potro ainda, casqueando passarinheiro
no curralzinho pedregoso.
Atinou
sentar na taipa, pitar, fingido de tristeza, por hábito nem de outra desforra
ou regalia de querer, e assistir o gangrenado grosso das nuvens bravas lá na
serra. Diziam os coriscos as verdades, sem dúvidas, das águas descerem pelo
afora, carregando destravadas as tropelias ou os benfazejos. Chuva é deste
mote, assuntou Canhedo, nas as vezes ajuda, nas as outras falha, nas quem sabe
atrapalha, mas nas sempre carece. Não renegou resistência de emplastar serviço,
pitando desaforo de moleza, com a bezerrada apartada, já no mangueirão, a
vacada no gordura farto, que garantia leite grosso do queijo, porco tratado,
roncando curto, por hábito, mulher rindo atoa, criançada brincando. Enrolou-se
na fumaça do cigarro, pigarreou pra dar um tranco no pensamento, agraciou na
anca sustância-da da mulher carnuda, imaginou no-só-os-dois, só-no-depois, só-no-fim-do-dia.
Era quando o carinho acalantaria o despropósito e cismou que não deveria
resmungar. Olhou o céu e Deus, que mandava toró crescendo as roças, verdeando
os pastos, enchendo os córregos, piscou um olho matreiro e mandão no Canhado,
cativo de boas interferências divinas, na ordenança de saírem a caçar paquinha
gorda, que desaforava, manhosa, há muitos, de sumir na horinha do finalmente.
A chuva
ouviu o destino e preferiu ir desaguar o sobrado das carregadas na Cachoeira
dos Amargos, onde as seriemas clamavam tristes, pelos cantos mais espichados, no
poeirão, até de rodamoinho, da terra seca. O destino ouviu a providência e atendeu
as seriemas para desfazer presteza de água na hora certa do lugar. O potro resfolegava
passarinheiro, afagado por Canhado apertando a barrigueira nos conformes, como
mandam os corretos de quem sabe costurar o tempo.
Canhado
abre a tranqueira do serradinho, a que palmeia para o Pico da Forquilha, lado da
tocaia, sem rumo definido, da paca manhosa e manda Rosinha soltar os
perdigueiros. Cachorro na labuta ardilosa rastreja sisudo, late mudo, ouve o
faro da destreza e deixa, por seguro, a sorte andar na frente. Se fez. Cachorros,
destros três por demasia, contornaram a pedra torta, cismando de ziguezagueados
em roda das dúvidas, antes de acharem o entroncamento do talvez com a
porventura, no faro, onde, certeza, começava trilha correta. O sol interessou
pela briga, escondido na capoeira rala e nem não atrapalhou o acaso, dali.
Deus,
que havia piscado pro Canhado e não toma partido nos assuntos das caças, olhou
no futuro da onisciência e viu a paquinha absorvida com uns diletantismos
zoológicos, sem fundamentos dos riscos que corriam grandes. A trilha assobiou
os cachorros. O Senhor chamou o destino, que campeou na beira dos-por-acasos
uma jaratataca catinguda de arrepiar e a assoprou no rastro da paca. Perdigueiro
no cheiro da maritafede uiva tristeza, a paca assunta, o sol recolhe, Deus dá
por empatada a sanha. Canhado sorri, na horinha ele iria, no proposito, errar.
Muito
melhor seria, mesmo como no foi, no retorno, no entorno, no sorriso, no afago,
no abraço, no chamego, no amanhã, na Rosinha.
Ceflorence 14/02/16 email cflorence.amabrasil@uol.com.br